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Eu tinha acabado de voltar da pista e estava indo direto para a boca principal do morro quando fui parada na metade do caminho. Já fiquei impaciente só de ver aquela mulher ali.

— É contigo mesmo que eu queria falar. — Ela veio me cercando, outras duas pessoas mais atrás. — Fiquei sabendo que você anda se encontrando com o meu marido de novo.

— Eu não tenho nada com o Russo. — Minha voz falhou um pouco, não passando muita confiança. Carina riu juntamente com suas amigas e se aproximou perigosamente de mim.

— É claro que não tem. — Respondeu cheia de ironia. — Você não engana mais ninguém, sua sonsa do caralho. Não sabe com quem está se metendo, não vem medir forças comigo que eu acabo com a sua raça.

— Não quero te pegar perto dela de novo, Carina. — A voz dele atrás de mim deixou nós duas surpresas. Me virei no exato momento em que Russo desceu da moto e veio caminhando com passadas duras até onde estávamos, logo de cara já colocando as amigas dela para correr.

— É o quê? — Ela olhou incrédula para o marido. Eu fiquei na minha, até porque em briga de cachorro grande eu não me envolvia. — Não é possível, acho que não entendi direito.

— É isso mesmo que você entendeu, porra. Se eu te pegar na maldade para cima dela de novo, eu vou te encher de porrada. — Ele a fitou com o rosto duro, se colocando ao meu lado.

— Ah pronto, agora vai se voltar contra mim por causa de uma putinha barata, Russo? — Carina rebateu, no entanto o mesmo não falou nada. — Você vai se arrepender por ficar do lado dessa aí.

— Não estou entendendo legal essa tua conversa não, pô. — Ele a agarrou pelos cabelos, fazendo-a inclinar a cabeça para trás. — Você está me ameaçando?

— Desencosta, porra! — Carina o empurrou, na frente de todo mundo. — Quer que eu abra minha boca grande e conte tudo para o meu pai?

— O filha da puta do seu pai não dá a mínima para você, se liga, caralho! — Ele rosnou, mas percebi uma névoa de incerteza presente no seu olhar.

— Então paga para ver, amor. — Até eu fiquei com medo de Carina. O pai dela parecia ser alguém importante e que tinha uma certa influência sobre o Russo. — E você, fedelha idiota, fica esperta porque a nossa conversa não acabou! — Ela apontou o dedo na minha cara e saiu.

— O que você está fazendo? — Olhei confusa para ele, que ignorava os olhares curiosos das pessoas à nossa volta.

— Sobe aí na motoca, vou te levar.

— É melhor não. — Neguei com a cabeça e ele saiu me arrastando pelo braço em direção à sua moto parada.

Para evitar que ele fizesse um escândalo na frente de todo mundo, eu subi na garupa e o segurei na cintura enquanto ele acelerava morro acima. Mas na minha cabeça ainda não era entendível o porquê de ele ter me defendido daquele jeito.

— Eu só vim trazer o dinheiro das vendas para o Bocão. — Falei assim que desci e tirei a mochila das minhas costas. Nunca pensei que vender aquelas porcarias desse tanto dinheiro.

— Traz aqui para mim, vou conferir eu mesmo.

Fui atrás dele e entrei na boca. Ele colocou alguns garotos que estavam ali dentro para correr e ficamos sozinhos. Entreguei a mochila e fiquei observando Russo tirar os bolinhos de notas para começar a contar.

— Tem um garoto lá que comprou fiado mês passado na mão de alguém e ainda não pagou. Disse que não tem dinheiro, os pais cortaram a mesada. — Contei com receio. O menino era bem jovem, não devia ter mais de quinze anos e já estava metido até o pescoço com traficantes.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora