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Luna Oliveira

— Puta que pariu, Russo. Está na cara que essa garota vai parir a qualquer momento! — A garota me olhou enojada, apontando com descrença para a minha barriga. — Você não ia sumir com ela do mapa? Está esperando o quê? Esse pirralho nascer?

— Cuida da porra da tua vida. — Russo respondeu rude e a olhou com frieza. — Esse assunto é meu, não se mete não, pegou a visão?

— Eu sei, mas...

A mulher ia retrucar, porém ele a impediu de continuar.

— O papo está dado, mete o louco não, porra!

— Eu hein, precisa surtar desse jeito? — Ela falou indignada. — Só falei porque uma hora vai dar ruim, não dá para manter ela aqui pelo resto da vida.

Russo bufou e começou a ignorar ela.

— Sei que essa vagabunda foi sua primeira paixonite, mas está na hora de você superar, gato. — Disse e saiu batendo os pés. O semblante de Russo, que já não era um dos melhores, piorou ainda mais.

Me encolhi no canto da parede porque eu sabia que no fim era sempre em mim que ele adorava descontar a raiva.

Quantos meses eu estava ali, afinal? Dois? Três? Perdi completamente a noção do tempo. Só via pela janela pequena que tinha no alto da cabana o sol nascendo e se pondo, todo santo dia. Era como estar presa em um pesadelo que se repetia sempre. Estava tão desorientada que nem fazia ideia se o meu aniversário já tinha passado ou não.

— Por que você não me mata de uma vez? — Perguntei com a boca seca. Os meus lábios estavam quebradiços por conta da desidratação. Estava tão fraca, mal conseguia ficar em pé. Eu temia pelo meu bebê, que minha situação acabasse prejudicando a saúde dele. — Por que não acaba logo com isso?

— Não fala comigo! Não dirija a porra da palavra a mim! — Ele rosnou e me olhou por breves segundos antes de esfregar os cabelos com força. — Está me entendendo? Ou vou precisar te relembrar umas coisinhas?

Do mesmo jeito que o amor era capaz de transformar uma pessoa, o ódio também.

Me mantive em silêncio enquanto me apoiava na parede para me erguer lentamente do chão. Apesar dos meus pés estarem acorrentados a uma barra de ferro, eu conseguia me mover pela cabana por alguns centímetros. Era muito bom para as minhas circulações, ainda mais na fase avançada em que eu estava da gravidez.

Os meus braços estavam pálidos, provavelmente, o meu corpo inteiro. Há muito tempo eu não sentia os raios de sol tocarem a minha pele, Russo não permitia que eu saísse daqui. Havia um banheiro pequeno dentro da cabana, era onde ele me deixava usar para fazer minhas necessidades e tomar banho às vezes.

Russo estava parado no canto oposto ao meu, de costas para mim e mexendo em algo dentro de um armário, ignorando completamente a minha existência. Ele estava vindo com menos frequência aqui; era a primeira vez em vários dias que aparecia. Queria lhe perguntar se sabia algo da minha irmã, ou de Laura e Gabriela. Mas não tinha coragem.

— Preciso de um banho. — Falei em voz baixa. Russo me olhou por cima do ombro e balançou a cabeça, vindo caminhando na minha direção.

O seu rosto não estava tão nítido quanto eu estava acostumada a vislumbrar. Infelizmente, a minha visão estava bem prejudicada sem os óculos. Mas notei o jeito como os lábios se entreabriu e a sua respiração ficou levemente acelerada quando se aproximou de mim, até porque eu estava da mesma forma.

— Sem gracinha... — Falou em tom de ameaça e agachou na minha frente para poder me livrar do cadeado que prendia as minhas pernas.

Eu arfei um pouco alto quando os seus dedos envolveram o meu tornozelo esquerdo, apertando além da conta. Mas só de ter aquele tipo de contato físico depois de tanto tempo, era como despertar de um sono profundo.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora