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Luna Oliveira

Uma semana e dois dias. Era o tempo exato que eu não via a minha irmã. No começo, ela ainda se importava de aparecer à noite, agora nem isso. Estava há dias sem dar as caras, e isso me afligia porque eu não sabia se estava viva ou morta. A todo momento me culpava por ter dito aquelas coisas pesadas para ela na hora da raiva, mas tudo foi dito no calor do momento. Eu jamais a odiaria.

Russo também não havia me procurado novamente, e eu agradecia a Deus por isso. Como ele mesmo deixou claro, ele odiou cada momento daquela noite em que transamos, assim como eu. Então, pelo menos nesse aspecto, eu me sentia aliviada, pois sabia que ele não me procuraria tão cedo.

— Não concorda, Lua? — A voz de Gabriela me tirou dos devaneios, e eu pisquei os olhos antes de acenar com a cabeça.

— Concordo. — Respondi sem hesitar, mesmo sem ter ouvido uma palavra do que ela havia dito para mim.

Estávamos sentadas em um dos bancos da praça, depois que Gabi insistiu bastante para que eu saísse de casa com ela. Acabei aceitando, pois sabia que realmente precisava sair um pouco e respirar um ar diferente.

— Que bom que não sou a única a achar que o seu Adalto deve ter um pinto enorme e gostoso. — Gabi ironizou, olhando-me com desaprovação. Ela estava se referindo ao dono da padaria que ficava em frente, um senhor de quase oitenta anos.

Fiz careta e segurei a ânsia de vômito ao pensar no pênis flácido do seu Adalto.

— Que coisa horrível, Gabi. — Murmurei, colocando o saco vazio do meu sacolé ao meu lado.

Gabriela riu e me deu um empurrão no ombro.

— Não é minha culpa se você está aí no mundo da lua, não dando a mínima para o que eu falo. — Ela disse em tom de reclamação, fazendo um bico no rosto.

— Eu me distraí um pouco, mas estou sim prestando atenção em você. — Retruquei, e ela bufou impaciente.

— Não vai mesmo me contar o que está acontecendo?

— Do que você está falando? — Disfarcei, desviando o olhar para o outro lado da calçada, onde um grupo de crianças brincava de pega-pega e ria alto.

— Não nasci ontem, amiga. Eu sei que você está agindo de forma estranha nos últimos dias. — Gabi retrucou, forçando-me a encará-la novamente. — Pode confiar em mim.

— Eu confio em você, Gabi. — Respondi rapidamente. Ainda não tinha contado a ela o que eu tinha feito, mais por vergonha do que por falta de confiança na minha única amiga. — É só que... eu fiz algo de que me arrependo muito.

— O quê? — Gabi perguntou desconfiada. Afinal, era muito difícil ela me ver fazendo algo errado. Pelo contrário, sempre evitei me envolver em problemas aqui no morro.

— Lara fez uma dívida grande lá na boca.

— De novo? — Franziu o cenho.

Assenti.

— Sim, mas desta vez foi diferente. A dívida era realmente enorme. — Falei, soltando um suspiro. — Eles ameaçaram matar minha irmã, Gabi. Fiquei desesperada e acabei oferecendo algo que não queria...

— O que você fez, Luna? — Gabi perguntou novamente, agora com menos paciência. — Por favor, não me diga que...

— Eu me deitei com o dono da boca. — Respondi por fim. Os olhos de Gabriela se esbugalharam tanto que comecei a temer as consequências da minha loucura por causa do desespero. — Não o gerente da boca, mas o dono de todas elas.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora