𝟶𝟶𝟺

24.2K 1.6K 753
                                    

4
Luna Oliveira

O silêncio só era rompido pelo som dos meus soluços. Aquela era a pior parte do dia, quando eu chegava do serviço, exausta, e me dava conta de que no fim de tudo, eu sempre estava sozinha. Eu não tinha ninguém.

Não podia contar com a minha irmã viciada, até porque na maior parte do tempo nem em casa ela estava.

Gabriela era sim minha amiga, mas tinha seus próprios problemas para ter que ficar lidando toda hora com os meus. Aquilo era função da família, apoiar, desabafar, acolher... Mas eu não tinha uma.

Queria que a minha vida tivesse sido levada de outra forma.

Queria que os meus pais não tivessem saído naquele dia de casa e, consequentemente, não terem morrido na invasão.

Queria que a minha irmã fosse apenas uma adolescente normal, frustrada por não ter sido correspondida pelo seu primeiro amor.

Queria que tudo fosse diferente, mas infelizmente não é. A realidade era cada vez mais dura, cruel e desanimadora.

Acordei na manhã seguinte com o barulho irritante do meu celular tocando. Segui a minha rotina diária e me arrumei para mais um dia naquele inferno de colégio.

— Toma aí, come. — Gabriela me entregou um pacote de biscoito de água e sal. Ajeitei minha mochila nas costas e agradeci, não perdendo tempo em começar a comer. — Tudo bem, Lua? Você está meio estranha.

Pensei em lhe contar sobre Dona Lúcia ter me despejado da casa, mas mordi o lábio inferior e apenas concordei com a cabeça. Eu daria o meu jeito, nem que eu precisasse me humilhar para minha vizinha deixar eu ficar.

As aulas passaram lentamente, como de costume. Na saída, Gabi me convenceu a ir tomar um copo de sorvete perto da casa dela e eu aceitei. Entre conversas e risos, ela foi me contando os babados que aconteceram nos dias em que fiquei reclusa em casa. Eu amava ter aqueles momentos com ela, sério, me dava a falsa sensação de que eu era uma garota de dezesseis anos como qualquer outra.

— Eu preciso ir. — Falei, me levantando.

Gabi me acompanhou até em casa e falou que ligaria mais tarde.

Entrei e encontrei a casa vazia. Olhei para o meu uniforme, que estava sujo com uma mancha de molho de macarrão, e decidi aproveitar aquelas horas antes do trabalho para lavar as roupas que estavam sujas.

Mas os meus planos foram interrompidos pelas pancadas na porta.

Miga, abre a porta aqui para mim! Vamos! — Igor gritou lá de fora, sem parar de bater. — A sua irmã... — Murmurou ofegante, tentando recuperar o fôlego.

— O que tem a minha irmã, Iggy? Fala logo, pelo amor de Deus! — Pedi aflita, com a mão repousada em cima do peito.

Por favor, não diga que ela está morta. Por favor, não diga...

— O Russo mandou os caras darem uma coça nela, está lá na frente da boca, apanhando mais que tapete em dia de faxina. — Igor respondeu rapidamente, sacudindo as mãos de forma espalhafatosa.

— Por favor, Deus. — Comecei a me desesperar e nem me preocupei em fechar a porta de casa, só saí correndo em direção a biqueira lá debaixo.

Uma rodinha de homens estava em volta da minha irmã, caída no asfalto, enquanto um garoto que eu nunca vi na vida batia nela com um pedaço de madeira, principalmente nas pernas. Lara gritava e pedia incansavelmente para ele parar, mas a única resposta escutada eram as risadas.

Babacas!

— Por favor, parem! Ela é a minha irmã, chega! — Gritei, mas um dos garotos me segurou pela cintura, impedindo que eu me envolvesse.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora