𝟶𝟸𝟻

21.3K 1.2K 446
                                    

Encontrei Russo no quarto de sempre, sentado em uma cadeira enquanto parecia bem concentrado em desmontar cada peça de um fuzil inteiro. Inclusive, não era a primeira vez que eu via ele fazendo aquilo.

Andei meio oscilante por conta da bebida até a cama e me sentei na ponta, sem parar de encará-lo fixamente.

— Você bebeu. — Ele murmurou sem levantar o olhar, parando apenas por alguns segundos de mexer na arma.

— Bebi. — Concordei, ficando com o rosto vermelho por ter sido pega em flagrante.

— Onde?

— Na festa de um amigo. — Descansei os braços em cima do meu colo. — Como você sabe que eu bebi?

— O cheiro. — Russo revirou os olhos e em seguida me encarou. Vi quando ele me analisou de cima para baixo e pareceu ficar sem palavras por algum momento. Não é que eu estivesse linda e tudo mais, mas, definitivamente, eu estava arrumada e aquilo de certa forma pegava as pessoas de surpresa. — Aquele cuzão estava lá? — Russo parecia desconfiado quando me perguntou.

— Quem? — Rebati, mesmo sabendo que ele, provavelmente, se referia ao Théo.

— Não paga de doida não, na moral. — Ele respondeu com impaciência.

— Estava sim, era um amigo em comum entre nós. Mas não fiquei perto dele, eu juro. — Me expliquei rapidamente.

— Por isso se arrumou toda? Para se encontrar com ele? — Russo disse e voltou a desviar os olhos.

— Não, eu... — Calei-me, respirando fundo. — Eu não me arrumei para ele.

Russo não disse mais nada. Fiquei em silêncio também, apenas observando o que ele fazia com tanta concentração. Devia ser algo que ele gostava muito de fazer, uma distração.

— Você tem quantos anos? — Perguntei em determinado momento, curiosa.

— Para que tu quer saber?

— Só por curiosidade. Nós nunca conversamos, percebi que não sei nada sobre você.

— Também não sei nada sobre tu e nem por isso fico te perguntando as coisas. — Bufou, rolando os olhos como se estivesse entediado com a conversa.

— Ok... — Suspirei desanimada e voltei a me calar.

Fiquei observando pela janela o poste lá fora piscando, ora ou outra falhando, e com um monte de insetos de luz perambulando em volta. Uma barulheira com vozes altas chamou a minha atenção. Parecia um casal batendo boca aqui em frente.

— Vinte e cinco, está satisfeita? — Ele falou de repente, me olhando novamente. Prendi o lábio inferior entre os dentes e contive um sorriso.

— Você não é muito de confiar nas pessoas, não é? — Vi quando ele parou de mexer na arma por um instante.

— Não tenho motivos para isso. — Foi curto e grosso.

— Entendo. — Balancei a cabeça, parando para pensar um pouco no assunto. Ser traficante devia trazer bastante inimigos para ele. — Eu sou uma pessoa fechada também, mas não tanto como você. — Ele não falou mais nada, então continuei. — Mas pode ficar tranquilo, não sou ninguém.

— Ninguém? — Repetiu, me olhando com uma curiosidade disfarçada.

— É... você sabe, eu sou só a Luna. — Dei de ombros, abrindo um sorriso tímido. As minhas únicas amizades eram Gabriela e Igor, e eles eram totalmente inofensivos para o Russo. — Não tenho porque sair espalhando coisas sobre você com os outros.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora