𝟶𝟺𝟸

18.6K 1.1K 548
                                    

Estávamos sentadas no chão da minha sala — Laura, Gabriela, Lara e eu —, conversando sobre tudo, exceto a minha irmã, que se mantinha calada boa parte do tempo. Era uma sensação indescritível tê-la ao meu lado novamente.

— Você nem imagina, a Carina veio me enquadrar na rua perguntando se tinha sido eu que dei uma paulada nela. — Gabriela contou, me encarando.

Fiquei meio tensa, agradecendo por aquela mulher ainda não ter vindo Para cima de mim. Sabia que podia demorar o tempo que fosse para isso acontecer, mas uma hora ela chegaria.

— E você respondeu o quê? — Comecei a roer minhas unhas.

— Que não, é claro. Não sou idiota, aquela mulher não ia sair da minha cola. — Gabriela revirou os olhos, e Laura deu risada.

— A gente bem que podia se divertir um pouco com a cara dela, não acham? — Olhou para nós duas com uma carinha de quem iria aprontar. — Sei de coisas que tirariam a Carina do sério.

— Nem pense em se meter nisso, Laura. Quero distância, tanto do seu primo quanto da maluca da mulher dele. — Falei com seriedade, e apesar de contrariada, Laura não discordou.

Lara ouvia tudo quieta, sentia dificuldades para se entrosar com as meninas.

— Então, Lara, como você está? — Gabi perguntou, encarando-a com curiosidade. Minha irmã apertou minha mão, nervosa. — É estranho te ver aqui, mas estou feliz que tenha voltado para casa.

— Estou bem... — Ela sussurrou em resposta. Tinha tido uma péssima noite de sono, pude ouvir do meu quarto quando ela teve um pesadelo e acordou chorando. — Vou subir um pouco, tudo bem? — Me olhou com dúvida. Concordei com um sorriso e observei Lara se levantar para subir as escadas.

— Ela não está nada bem. — Gabi comentou.

— Eu sei, mas vai ficar. — Havia se passado alguns dias desde que ela voltou e desde então Lara ainda não se sentia à vontade, como antigamente. Estava bastante retraída e parecia estar sempre na defensiva com todos, inclusive comigo.

— Hoje tem pagodinho na casa de um cara aí, nós vamos, né? — Laura perguntou a nós duas com expectativas.

— Deve ser do PH, é aniversário dele. — Expliquei calmamente enquanto terminava de destruir minhas unhas após um ataque de ansiedade.

— Nem posso, mona, minha família marcou de jantar lá na casa da minha tia. — Gabriela respondeu, entediada.

Laura me olhou com um biquinho e piscou os olhos, fazendo charme. Dei risada e confirmei com a cabeça; PH já tinha convocado minha presença mais cedo. Acho que estávamos nos tornando bons amigos.

— Mas vou ficar só um pouco, ok? Não quero deixar a minha irmã sozinha por muito tempo.

— E por que não a leva junto? — Laura sugeriu.

— Não quero ela envolvida com aquelas pessoas, tudo pode servir como gatilho. — A última coisa que eu faria era levar minha irmã em recuperação para uma festa de traficantes, onde tudo resumia a bebidas e drogas.

— Hum, você tem razão. — Laura concordou.

— Ai que ódio, queria tanto ir com vocês. Odeio minha vida! — Gabriela choramingou e deitou-se no chão, abafando o rosto com uma almofada.

Laura começou a contar umas besteiras que faziam Gabriela se matar de tanto dar risada e eu fui preparar alguma coisa para o almoço.

Lara desceu para comer com a gente, mas se manteve em silêncio. Às vezes, respondia de maneira bem rasa às perguntas das meninas e só. Contei que ia para um pagode na casa de um amigo mais tarde e se ela ficaria bem sozinha por algumas horinhas, ela respondeu que sim.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora