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Luna OliveiraTrês semanas se passaram desde o acontecido no baile, um dos piores dias da minha vida. O hematoma no meu olho estava quase imperceptível, apenas com um leve arroxeado na parte de baixo. No entanto, a fofoca do que rolou com o Russo se espalhou rapidamente pelo morro, e agora a minha vida se tornou um inferno.
Quase ninguém dirigia a palavra a mim. Parecia que, de um dia para o outro, eu me tornara indigna disso, como se tivesse uma doença contagiosa demais para alguém chegar perto. Se o Russo queria me destruir, me ver no chão, ele conseguiu.
Gabriela e eu voltamos a nos falar, mas as coisas ainda estavam diferentes entre nós duas. Ela já não me contava as coisas como antes e passava boa parte do tempo em silêncio.
Decidi chegar mais cedo no salão e logo estranhei o clima tenso lá dentro. Sabrina estava calada, penteando os mega hair, e Rebecca não me recebeu com o sorriso de sempre assim que entrei.
— Bom dia, meninas. — Falei em voz alta, franzindo o cenho diante das respostas meio vagas. — Aconteceu alguma coisa?
Sabrina me encarou com os olhos tristes e negou com a cabeça, embora seu semblante dissesse justamente o contrário.
— Preciso conversar com você, Luna. Podemos fazer isso aqui? — Gigi perguntou, parada na entrada do seu mini escritório. A última vez que estive lá dentro foi no dia em que fui admitida, por isso logo senti meu corpo se arrepiar de medo.
Concordei com um movimento de cabeça e a segui até o escritório, engolindo em seco quando ela fechou a porta e nos deixou sozinhas.
— Então, fiz algo de errado? — Perguntei preocupada. Tentei pensar em algum vacilo que eu poderia ter cometido sem querer, mas não me ocorreu absolutamente nada.
Sempre me cuidei muito para não errar.
— Não, é claro que não. — Ela soltou um riso nervoso e caminhou devagar até onde eu estava, segurando minhas mãos trêmulas de medo. — Meu bem, estive dando uma olhada nos lucros do salão e percebi que eles estão bem abaixo do esperado.
— Sério? — Enruguei a testa. Desde que comecei a trabalhar aqui, o salão sempre esteve muito bem frequentado, era conhecido por ser um dos melhores no morro e, por isso, a Gigi tinha uma clientela fiel.
— Sim, isso me levou a tomar uma decisão difícil de cortar alguns gastos e, infelizmente, vou precisar te mandar embora. — Ela falou, olhando-me com tristeza, e acho que demorou longos minutos para finalmente cair a ficha. Eu estava sendo demitida, mandada embora.
— Não... não pode ser, Gigi. — Neguei com a cabeça, sem acreditar que aquilo era verdade, mas logo me lembrei do comportamento estranho das meninas lá fora. Elas mal me olharam. — Isso é por causa da minha briga com o Russo, não é? Eu sei que todos estão falando mal de mim, mas prometo que não vou trazer meus problemas para o salão.
— Não, não é isso, querida. Você sabe que eu te adoro, sua mãe foi uma grande amiga minha na época da escola. — Sua mão gelada tocou a pele da minha bochecha.
— Pela minha mãe, então, Gigi, não me manda embora, por favor. Eu preciso muito desse emprego, não posso ficar sem trabalhar. — Comecei a me desesperar.
— Sinto muito, meu bem. — Seus lábios ficaram unidos em uma linha fina. Soltei um suspiro derrotado e esfreguei a cabeça.
Como eu pagaria minhas contas? O aluguel da casa? Com muito custo, eu consegui arrumar um emprego aqui, mas era difícil por conta da minha idade e da falta de experiência. Além disso, minhas chances diminuíam gradativamente quando eu mencionava nas entrevistas que eu morava na Cidade de Deus. Infelizmente, o preconceito ainda estava enraizado na cabeça de muita gente.
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Sombras do Amor [M]
Fanfic+18| Ela, um verdadeiro anjo. Ele, o próprio diabo. Esta é uma história que foge dos padrões de um lindo romance. Esqueça tudo o que você conhece, este livro não segue os clichês convencionais. Russo, como é conhecido por todos na Cidade de Deus, um...