35
Luna OliveiraRusso balbuciou algumas palavras ainda desacordado no sofá, e eu me aproximei dele lentamente, agachando-me ao seu lado para notar como as suas pálpebras se moviam insistentemente, como se estivesse prestes a acordar.
Sequei a lágrima que escorria no canto do meu olho e acariciei o seu rosto macio com a barba recém-feita.
Os tiros já tinham começado lá fora há algum tempo. O rádio dele chiava a todo instante com os vapores chamando, esperando pelas ordens que nunca vinham. Deviam estar perdidos. Perninha, em especial, parecia impaciente em saber onde Russo estava.
— Uh... — Os meus olhos se arregalaram quando o ouvi grunhir baixinho e, logo em seguida, abrir os olhos, ainda meio grogue pela bebida que lhe dei.
— Você está bem? — Perguntei com a voz trêmula e estiquei a mão para tocá-lo no rosto, mas mesmo fraco, Russo me impediu segurando o meu pulso.
— Que... que porra você colocou naquela água? — Russo resmungou e tentou se levantar, mas caiu no chão.
Me apressei para ajudá-lo a se sentar novamente, mesmo com ele contrariado.
— Você me drogou, caralho? — Ele me olhou com raiva.
— O morro está sendo invadido. — Desviei o assunto, pigarreando forte, e caminhei até a janela da sala. Ora ou outra, passava algum moleque correndo.
Russo franziu os olhos e tentou se levantar novamente, mas dessa vez ele conseguiu se manter firme em pé.
Acompanhei-o apreensiva quando ele pegou o radinho no chão e chamou pelo Perninha.
— Coé, porra, até que fim você deu sinal de vida! — Gritou, e no fundo era perceptível o barulho dos tiros sendo disparados. — É o cuzão do Mandela, veio com força máxima para cima de nós.
— Suave, botou a cara aqui agora eu amasso ele. — Russo falou com o olhar distante e pegou a arma em cima da mesa. — Estou descendo aí, fica de olho no movimento.
— Jaé.
Comecei a me desesperar quando vi que ele realmente iria sair, mesmo nitidamente não estando no seu normal. Ele sequer conseguia andar por muito tempo em linha reta, ficava cambaleando e tropeçando nas coisas.
— Fica aqui, você não pode sair desse jeito lá fora. — Segurei o seu braço quando ele ia passando por mim.
— Não sou moleque, porra! — Ele rosnou e se afastou como se eu tivesse a doença mais contagiosa do mundo. — Depois vou querer saber direitinho por que caralho você me drogou, sacou?
— Eu sei, mas por favor, não vai. Não vai, Russo. — Implorei chorando e me agarrei ao seu corpo, sentindo o cheiro do seu perfume. — Ele vai te matar.
— Vai nada, eu que vou matar aquele filho da puta! — Falou rude e me soltou.
Então ele abriu a porta no exato momento em que um relâmpago clareou o céu e saiu pisando duro. Meu peito apertou, e eu quis muito correr atrás dele.
— Russo! — Gritei com a porta da minha casa escancarada e chorei ainda mais quando o vi se afastar ao ponto de sumir das minhas vistas.
Eu sei que o que eu fiz foi errado, agi completamente sem pensar, e acho que acabei estragando tudo. Ele jamais iria querer olhar na minha cara de novo; na verdade, mandaria alguém me matar se ficasse sabendo do que eu acabei fazendo quando estava com raiva dele.
Coloquei a mão no rosto e desabei no chão, chorando desesperadamente.
Pensar que ele poderia morrer hoje me destruía por dentro, nunca quis que isso acontecesse, só queria que ele finalmente pagasse pelo que me fez.
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Sombras do Amor [M]
Fanfic+18| Ela, um verdadeiro anjo. Ele, o próprio diabo. Esta é uma história que foge dos padrões de um lindo romance. Esqueça tudo o que você conhece, este livro não segue os clichês convencionais. Russo, como é conhecido por todos na Cidade de Deus, um...