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📌 Este livro se tratava de uma fanfic e passou recentemente por revisão. Estejam cientes que os nomes dos personagens sofreram alterações e podem não coincidir com os comentários.

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Luna Oliveira

— Me deixa em paz, porra! Você não é a droga da minha mãe! — Ela gritou irritada enquanto fechava as portas do armário com uma pancada. Sua pele estava pálida e olheiras fundas predominavam seu rosto.

Suspirei e ajeitei a armação do óculos no meu rosto, tentando me manter calma. Sabia que se eu gritasse com ela seria ainda pior, Lara estava totalmente sem controle, acabando com a própria vida.

— Você tem razão, eu não sou a mamãe, Lara. Talvez ela conseguisse colocar um pouco de juízo nessa sua cabeça teimosa. Não consegue entender que não quero te perder? Eu não quero sair um dia e encontrar o seu corpo jogado em uma vala qualquer por aí. — Cruzei os braços acima do peito, implorando em silêncio para que minha irmã deixasse eu cuidar dela.

No entanto, a mesma estava irredutível.

— Mais que merda, cadê a porcaria do dinheiro que eu deixei aqui? — Gritou, batendo furiosa a gaveta de talheres.

Seu corpo raquítico já dava sinais de fraqueza. Eu conseguia enxergar cada osso das suas costelas, de tão magra que Lara estava. Não se alimentava bem, na verdade nem eu, mas ao contrário de mim, ela passava o dia inteiro se entupindo de drogas.

— Aquele dinheiro não era seu, você pegou sem a minha permissão.

— Ah, é claro que a minha irmãzinha egoísta vai jogar isso na minha cara. — Ela riu sarcasticamente, e passou ao meu lado transtornada. Era assim que ficava quando não usava as suas drogas. Transtornada, fora de si. — Eu odeio tanto você, Luna. Por que não morreu assim como nossos pais? Que saco, caralho!

Permaneci em silêncio, engolindo o choro. Eu não poderia levar em consideração as besteiras que ela me dizia quando estava tendo uma crise de dependência química. No fundo, eu sabia que Lara jamais me diria aquilo estando consciente, ou seria capaz de desejar a minha morte.

Ouvi a porta de casa batendo com força e me joguei de qualquer jeito no sofá. Estava ficando cada dia pior. O vício de Lara só piorava. A nossa situação só piorava. Eu sequer tinha dinheiro para pagar o aluguel.

Como olharia Dona Lúcia nos olhos e lhe diria que o aluguel desse mês também atrasaria? Já era o segundo mês que eu não pagava.

O salário que eu recebia por trabalhar meio período no bar do Portuga era o bastante para pagar as contas e comprar um pouco de comida, pelo menos o suficiente para que Lara e eu não morrêssemos de fome. E quando eu dizia apenas o suficiente, estava me referindo a arroz e feijão.

Às vezes, Lara me roubava alguns trocados para sustentar seu vício lá na boca de fumo, da última vez que fez isso, ficamos sem luz em casa por um bocado de tempo.

Mas nem sempre ela se resumia a isso. Quando nossos pais ainda eram vivos, minha irmã mais nova era uma garota feliz e obediente, totalmente dedicada aos estudos. Porém, assim que eles entraram para a estatística de vítimas de bala perdida durante um confronto da CDD com a polícia, Lara se afundou de vez.

E não pude fazer nada a respeito, para falar a verdade nem percebi. Eu só tinha quatorze anos de idade quando aquela tragédia aconteceu, a responsabilidade de cuidar de uma criança de doze anos e manter a casa era demais para mim.

Dois anos se passaram desde então e as coisas pareciam só complicar. Lara deixou de frequentar a escola, ficava o dia inteiro se drogando e vagando por aí feito um andarilho. Ela só se metia em confusões, desde dívidas a brigas na rua, e por causa disso já recebi inúmeras ameaças dos traficantes.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora