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Já tinha escurecido quando bateram na porta da minha casa, quase derrubando-a. Era o mesmo garoto de sempre, aquele com cara de poucos amigos que vinha entregar recados.

— Russo quer te ver, pô. Se arruma aí que eu te levo até lá. — Ele disse, ajustando a bandoleira. No entanto, pela primeira vez, neguei com a cabeça.

— Diga a ele que eu não vou. — Falei decidida, mesmo sabendo que em algum momento ele acabaria vindo atrás de mim, talvez até me matando.

— Perdeu o juízo, caralho? — Retrucou com impaciência, bufando de raiva.

— Eu não vou! Já chega, entendeu? — Fiz menção de fechar a porta na cara dele, mas o garoto me impediu com a ponta do pé.

— Já estou vendo o que ele vai fazer com você, guria. Rateou legal. — Murmurou antes de sair da minha casa.

Meu coração estava acelerado no peito. Eu sabia que tinha cometido uma burrada grande, mas não queria encarar a possibilidade de estar na mesma situação que Ritinha hoje.

Em algum momento, ele faria o mesmo comigo?

Subi para tomar um banho e vestir meu pijama. Planejava apenas procurar algo para comer e depois me jogar na cama. Estava terminando de me vestir quando ouvi um estrondo alto lá embaixo, seguido pelo barulho da porta batendo contra o chão.

Meu Deus, minha casa estava sendo invadida!

Abri a porta do banheiro devagar e me movi silenciosamente pelo corredor, observando as escadas que levavam à sala. Havia apenas uma vela acesa, e vi a sombra de Russo passando por trás do sofá, subindo em minha direção.

Arregalei os olhos quando nossos olhares se encontraram e corri de volta para o banheiro, mas não consegui fechar a porta a tempo.

— Sai, vá embora daqui! — Gritei, empurrando meu corpo contra a porta na tentativa de fechá-la, mas ele era muito mais forte e me empurrou como se eu fosse uma pena.

— Acha que tem algum otário aqui, sua desgraçada? Vou te mostrar o que acontece quando se brinca com a cara de bandido. — Esbravejou e me arrancou à força de dentro do banheiro.

— Me solta! Eu te odeio! — Continuei gritando, me debatendo para longe.

Joguei-me propositalmente no chão do corredor para impedir que ele me obrigasse a andar, mas Russo não se importou e começou a me arrastar pelos cabelos. Gritei o mais alto que pude em busca de ajuda, sentindo minha cabeça arder de dor.

Ele me carregou dessa forma até o quarto de Lara e me jogou no chão como se eu fosse um saco de lixo. Naquele momento, eu já chorava, com medo do que aquele monstro faria comigo.

— Por favor, me deixe em paz... eu não quero nada com você! — Gritei em meio às lágrimas.

— Eu estou cansado das suas gracinhas, caralho. E da sua irmã também, já deu porra! — Ele disse com irritação e deu um chute forte nas minhas pernas escolhidas. — Vou caçar aquela vagabunda imunda como um animal e então vou torturá-la bem na sua frente. Você vai ver sua irmã morrendo lentamente.

— Não, deixa ela fora disso. Me mata, mas deixa ela! — Implorei, me arrastando e segurando suas pernas. — Sua dívida é comigo agora, por favor. Deixe minha irmã fora disso.

— Tínhamos feito um trato, mas você não cumpriu sua palavra e agora a porra da minha paciência acabou. — Ele disse e me chutou para longe. Sua perna acertou minha boca, que começou a sangrar.

Coloquei a palma da mão sobre a boca enquanto sentia o sangue jorrando dos meus lábios, escorrendo entre os dedos e pingando no antigo carpete do quarto.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora