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Luna Oliveira

O meu corpo doía, minha cabeça estava pesada. Eu tentei mover o braço, mas a sensação de cansaço era quase mórbida. Ouvia cochichos perto de mim; queria perguntar quem era e onde eu estava, mas minha garganta estava seca demais.

— Ela está acordando... — Notei um traço de ansiedade na voz da pessoa. Não consegui identificar quem era, talvez fosse Gabriela... ou não.

— Será que ela está com dor? — Outra voz comentou, e senti alguém tocar a minha mão levemente. — Tudo bem, Lua, estamos aqui com você. — O beijo deixado no topo da minha cabeça me acalmou. Era Gabriela, disso eu tinha certeza. O perfume, o toque, eram da minha melhor amiga.

— Vou chamar a enfermeira.

Depois disso, não me lembrava de mais nada. Voltei a dormir, e quando acordei, me sentia bem melhor e mais forte. Gabriela, Igor e Laura estavam lá — a última me surpreendeu bastante por estar ali.

Haviam ataduras ao redor dos meus pulsos, e me senti envergonhada porque todos veriam a minha fraqueza. Não queria que as pessoas soubessem que tentei tirar minha própria vida, mas sabendo direito como as coisas funcionavam aqui, era pedir muito para que a notícia não se espalhasse.

Gabriela não saiu do meu lado um minuto sequer, sempre segurando minha mão e tentando me distrair contando coisas que ocorreram nos dois dias que eu fiquei desacordada por conta dos remédios.

— Ele está aí fora. — Igor falou em determinado momento, assim que terminei de comer o almoço que me trouxeram.

Os músculos do meu corpo ficaram tensos.

— Quem? — Franzi o cenho, mesmo no fundo sabendo de quem se tratava.

— Russo — Ele respondeu sem me encarar nos olhos.

— Por favor, não deixe ele chegar perto de mim... — Pedi quase que implorando, olhando para Gabriela. Ela abriu um sorriso triste e me abraçou.

— Vou fazer o possível, meu amor. Mas não posso prometer nada, você sabe, não é? — Sussurrou, e eu sacudi a cabeça. Ficar contra o Russo era como nadar contra a maré.

— Eu juro que não sabia que era o idiota do meu primo que ficava te perseguindo. — Laura aproximou-se de nós duas, a raiva bem perceptível em seus olhos castanhos.

— Você é prima do Russo? — Falei de boca aberta. Nem sabia que aquele homem tinha família no morro.

— Sim, infelizmente. — Encolheu os ombros. — A mãe dele era a irmã mais nova da minha mãe.

— Ela está morta? — Perguntei curiosa, passando o dedo por cima da atadura em um movimento involuntário.

— Uhum, ela morreu quando ele ainda era criança. O pai que criou, era bandido também, por isso o menino cresceu endemoniado desse jeito. — Revirou os olhos de forma dramática. — Eu tenho certeza que se a tia Cecília estivesse viva, ele andava na linha.

— Duvido muito, o Russo tem cara de que não respeitaria a própria mãe. — Gabriela falou com ironia, Igor concordou.

— Acredite, ela não ficava atrás, só que diferente do Russo tia Celina era justa. Minha mãe vive contando histórias, não sei se é verdade. — Laura deu de ombros. — Enfim, não vamos estragar o momento falando sobre ele. A enfermeira me disse que você terá alta amanhã.

— Hum... — Murmurei indiferente. Cheguei em um momento da minha vida que eu não vibrava por mais nada; aos poucos a luz dentro de mim foi se apagando e eu me tornei vazia.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora