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— Por que está nervosa? — Angelique perguntou, me olhando de canto enquanto limpava o balcão.

O nosso último cliente havia acabado de sair e Portuga estava fechando o portão.

— Não estou — Neguei, desviando os olhos rapidamente.

— Vai mentir para mim na cara dura? — Ela rebateu e eu não respondi, fingindo estar ocupada olhando para uma sujeirinha grudada no balcão. — O que foi? Problema com a raça homem?

— Não, não estou saindo com ninguém.

— Ah, é? E por que não me sinto convencida com essa sua resposta? — Angelique cruzou os braços. Nós tínhamos intimidade suficiente para conversar sobre esses assuntos uma com a outra, afinal, ela vivia me contando das suas paixonites. No entanto, eu não queria que ela soubesse que eu estava envolvida com um traficante.

— Porque você adora enxergar coisas onde não tem. — Respondi. Angelique riu e ponderou minhas palavras, sabendo que eu não estava completamente errada.

Alguns meses atrás, ela colocou na cabeça que o Portuga era secretamente apaixonado por mim. Só por Deus, o nosso chefe tinha idade para ser meu pai, talvez até avô. Sempre me tratou com muito respeito e nunca deixou transparecer que queria algo além de uma relação profissional.

— Preciso ir! — Falei após conferir o relógio. Já era mais de onze horas e Russo provavelmente estaria em breve em minha casa.

Me despedi de Angelique e fui embora. A contenção para entrar no morro estava especialmente cheia hoje, provavelmente devido ao perigo iminente de invasão. Os traficantes permitiram minha passagem e subi em direção à minha casa, escolhendo o caminho mais rápido para evitar um escadão escuro.

Ao chegar em casa, respirei aliviada e abri a porta. Deixei minha bolsa no chão enquanto tateava o armário em busca da vela que eu havia deixado separada.

Assim que consegui acender a vela, levei um susto ao deparar com a figura sombria de Russo sentado no meu sofá, olhando-me com uma expressão ameaçadora.

— Meu Deus, o que você está fazendo aqui? — Perguntei com a respiração ofegante e a mão sobre o peito. Meu coração batia tão rápido que parecia prestes a sair pela boca.

— Cadê a porra da luz dessa casa? — Ele perguntou irritado, olhando ao redor da sala. Segurei o riso ao imaginar os esbarrões que ele deve ter dado para chegar até o sofá no escuro, embora ele provavelmente tivesse um celular.

— Foi cortada. — Falei, dando alguns passos hesitantes em direção a ele e colocando a vela ao lado do sofá, sobre uma mesa lateral quase caindo aos pedaços. — Como você entrou aqui?

— Pela porta, né, caralho. — Respondeu sem paciência.

— Isso eu sei, estou perguntando por que a deixei trancada. — Como não sabia como agir corretamente com ele, fiquei parada a alguns metros de distância.

— Dei meu jeito, pô. — Respondeu simplesmente, sem explicar como entrou sem chave e sem arrombar a fechadura.

— Hum... — Murmurei, um pouco sem graça, porque agora ele me encarava fixamente nos olhos, de uma forma que me deixava desconfortável.

— Tira a roupa! — Ele mandou, me fazendo corar. Aquele jeito autoritário dele de querer controlar tudo e a todos me irritava ao mesmo tempo que causava medo. — Anda garota, tira logo a porra dessa roupa.

Será que ele não conseguia passar um minuto sem xingar? Parecia que a cada dez palavras que saíam de sua boca, cinco eram palavrões.

— Esse seu sutiã é horrível pra caralho. — Voltou a reclamar assim que tirei a minha camiseta e a joguei do outro lado do sofá. — Quantos anos tu tem? 60? — Debochou.

Sombras do Amor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora