+18|
Ela, um verdadeiro anjo.
Ele, o próprio diabo.
Esta é uma história que foge dos padrões de um lindo romance. Esqueça tudo o que você conhece, este livro não segue os clichês convencionais. Russo, como é conhecido por todos na Cidade de Deus, um...
Foi um período de semanas, talvez meses, angustiantes dentro daquela cabana, tendo que lidar constantemente com o medo de que a qualquer momento Russo pudesse entrar por aquela porta e decidir levar meu filho para longe de mim.
Até aquele momento, ele não tinha feito isso, mas eu sabia que esse dia estava próximo de acontecer. Não havia uma noite sequer em que eu não chorasse enquanto olhava para Gabriel dormindo nos meus braços. Ele era tão pequeno, calmo e inocente, completamente alheio à maldade das pessoas.
Eu queria poder protegê-lo de tudo, colocá-lo dentro de uma redoma onde ninguém fosse capaz de fazer mal a ele, mas eu não podia. Eu nunca consegui proteger ninguém que eu amava, nem meus pais, nem minha irmã, nem a mim mesma.
Às vezes, quando movidos pelo desespero, somos capazes de fazer qualquer coisa. Eu já tentei fugir, mas não tinha como. Janelas, buracos... nada disso estava disponível. A cabana sempre estava trancada pelo lado de fora, com três ou mais homens fazendo a segurança.
— Você está grandão! — Falei sorrindo para Gabriel, que estava deitado com as perninhas para cima em uma espuma velha que eu fiz questão de transformar em nossa cama.
Ele abriu um sorriso banguela assim que escutou minha voz e virou a cabeça levemente para me acompanhar com os olhos. Eu vi a agitação do seu corpo, como se pedisse para que eu o pegasse no colo.
Eu havia acabado de tomar um banho e meus cabelos estavam úmidos, pelo menos o que sobrou, visto que Russo sempre fazia questão de mandar alguém cortar. Quando era assim, eu deixava a porta do banheiro aberta e passava embaixo do chuveiro para aproveitar o momento em que Gabriel dormia.
Assim que o peguei, ele soltou um gemido desconfortável. Estava com cólicas na barriga desde ontem, mal queria pegar o peito direito. Passei a noite inteira acordada, velando o seu sono, com medo de que acordasse chorando.
— Está com fome, meu amor? — Murmurei, ajeitando ele no colo e colocando meu peito para fora. Gabriel abocanhou o bico com força e começou a sugar o leite esfomeado.
Comecei a cantarolar bem baixinho uma música enquanto caminhava pela cabana e balançava Gabriel nos braços, que fechou os olhos e continuou mamando quietinho. A sua mãozinha pequena estava agarrada em um pedaço da minha camiseta, e aquilo aquecia meu coração.
Levei um susto quando ouvi as trancas da porta serem abertas de forma abrupta, e Russo entrou seguido por outro homem mal encarado. Me virei de costas para os dois, mas continuei observando com desconfiança por cima do meu ombro.
— Estão ali, pode rapelar tudo e levar para o carro. — Russo apontou para o cara de cabelos desbotados, que foi em direção às sacolas onde estavam os poucos pertences de Gabriel.
Uni as sobrancelhas e dediquei toda a minha atenção para o que eles estavam fazendo.
— O que foi? O que você está fazendo? — Perguntei assustada, vendo aquele homem começar a recolher tudo, deixando o paninho cair no chão. Ajeitei minha roupa, já que Gabriel tinha adormecido em um sono pesado, e me aproximei do homem, segurando o braço dele com força.
— Eu te avisei. — Russo falou apenas isso, e eu mordi os lábios para conter as lágrimas.
— Você não pode levá-lo! — Respondi, encarando-o diretamente em seus olhos vermelhos e com as pupilas dilatadas.
— Não só posso, como vou. Ainda não percebeu que posso fazer tudo o que quero? — Ele retrucou com a voz dura.
Balancei a cabeça, as primeiras lágrimas riscando meu rosto. Segurei meu filho com mais força nos braços. Eu não deixaria ninguém tirá-lo de mim, preferia morrer a permitir que isso acontecesse.
O capanga que Russo enviou para buscar as coisas do Gabriel desvencilhou-se de minha mão e continuou recolhendo tudo, as fraldas, roupinhas.
Eu me coloquei na frente de Russo, forçando-o a me encarar.
— Não tire ele de mim, Russo, eu juro que farei tudo o que você quiser. Eu mato o Mandela, mato quem for preciso, mas, por favor... Não faça isso. — Chorei. Não importava o quanto precisaria me humilhar, eu só queria ficar com meu filho.
— Eu não vou te matar... — Ele disse com os olhos frios, me encarando de cima. — Mas vou ter uma puta satisfação em te ver aqui sozinha, definhando de sofrimento.
— Eu não vou viver sem meu filho... Eu vou morrer todos os dias sem saber como ele está, se precisa de mim. — Solucei.
— Ah, é? — Ele sorriu ironicamente. — Que se foda esse papinho de "mãe do ano", eu conheço bem a piranha enganadora que você é, não caio mais nessa. Agora, me dê o moleque.
— Não! — Recusei firmemente. Olhei rapidamente para a porta aberta da cabana, procurando alguma forma de escapar com meu filho.
— Se tentar alguma gracinha, vou acertar uma bala no meio da sua testa. — Ele rosnou entre os dentes e tentou tirar Gabriel dos meus braços. — Não estou de caô, caralho, e nem com saco para tuas graças.
— Por favor... — Implorei novamente, mal conseguindo vê-lo por conta das lágrimas.
Russo bufou e puxou a pistola da cintura, apontando-a diretamente para minha cabeça. Apertei os olhos e implorei a Deus para me mostrar outra alternativa que não fosse abrir mão do meu filho, mas não conseguia enxergar uma saída.
Embora quisesse desesperadamente ficar com ele, eu sabia que não era o momento de ser egoísta. Gabriel precisava de mim para viver, não apenas sobreviver, mas crescer, estudar e conquistar seus sonhos. Eu queria que ele tivesse uma vida cheia de esperança e oportunidades, ao contrário da minha própria existência.
— Não quero te deixar ir, meu amor, mas estou sem opção. — Falei chorando, olhando para ele que dormia tranquilamente. Meu peito doeu, e eu quis gritar, lutar contra todos eles, mas a situação parecia insuperável.
— Deixa de drama e entrega o moleque aqui. — Russo disse revirando os olhos e estendeu o braço livre.
Encarei Gabriel novamente. Será que um dia eu conseguiria fugir daqui e encontrá-lo novamente?
— Não vou desistir de você. — Falei aos prantos, e Russo veio tirá-lo de mim. — A mamãe te ama, não esquece disso, ok? — Beijei sua mãozinha pequena e chorei ainda mais quando ele foi tirado de meus braços.
Tentei segurar o braço de Russo quando ele passou por mim em direção à saída, mas ele foi mais rápido e saiu pela porta, fechando-a atrás de si.
— Não, eu quero meu filho de volta! — Gritei o mais alto que pude e bati meus punhos na porta com força, fazendo-a estremecer. Não conseguia respirar direito. — Devolva meu filho, seu desgraçado!
Mas Russo não o devolveu, ele foi embora levando consigo a única coisa que ainda me importava na vida.
Meu coração se partiu em mil pedaços enquanto eu permanecia ali, impotente, olhando para a porta fechada que levou embora meu filho. As lágrimas não paravam de cair, e a dor que sentia era insuportável. Eu sentia como se tivesse morrido naquele momento, levando comigo qualquer resquício de esperança que ainda restava em meu coração.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.