Joui - Cidade de Hades

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Estávamos presos no meio do nada até que o ônibus fosse concertado. O motorista estava na parte de trás do veículo, com o motor aberto. Os mortais não pareciam notar nossas armas, tentei imaginar o que eles enxergavam no lugar.
Não demorou muito tempo até eu ver um vulto passando entre as árvores, ao verificar o local, Liz foi atacada.
- Ah! - Liz se abaixou rapidamente.
Uma ave de rapina passou por cima da cabeça da garota.
- É, definitivamente você é paranóica - disse Cesar. - É só um periquito, olha só que bonitinho.
O animal pousou em em uma árvore mais perto de nós, não parecia ter medo de seres humanos. Ele tinha as penas marrons, grandes olhos pretos, seu bico tinha uma leve curvatura.
- Que periquito, Cesar? É um urubu - disse Arthur.
- Na verdade, é um urutau - explicou Beatrice chegando mais perto do pássaro na árvore.
- Trice, não chega tão perto! - disse Dante.
- Porque? O que um bichinho fofo desses pode fazer? - perguntou ela.
- Vai que ele tem alguma doença ou...
- Acho que não é só a Liz que é paranóica não, Cesinha - comentou Thiago.
- Ei! Eu ouvi isso! - disse Dante.
O pássaro voou até Beatrice e pousou em seu ombro, a menina o acariciou, ele fechou os olhos satisfeito. Era meio estranho o jeito que ele se portava, era como se Bea fosse sua dona a anos.
- Viu? Ele não vai fazer nada - o urutau continuou no ombro da garota.
- Tá... até que ele é fofinho... - Dante passou a mão pela penugem do animal.
- Aí que ódio desse bicho, tinha que fazer todo esse suspense? - disse Liz irritada.
- Bom, ainda bem que não era nada de mais - disse eu.
- Oi crianças! - um homem jovem de cabelos pretos surgiu em meio a mata.
- Puta que pariu, mas não é possível, o povo gosta de aparecer do ar assim, nunca vi - disse Thiago.
- Quem é você? - Liz se levantou e apontou uma de suas foices na direção do rapaz.
- Eita, calma garotinha - o homem levantou as mãos em redenção. - Sou um mensageiro do Mundo Inferior, estou aqui em nome de Hades.
- É qual é seu nome? - Cesar se aproximou do rapaz.
- Eu sou conhecido como o Porteiro, muito prazer - disse o moço estendendo a mão para Cesar.
Cesar apertou a mão do rapaz desconfiado.
- O que veio fazer aqui? - perguntou Cesar.
- Hades me pediu para protegê-los e levá-los até um lugar seguro - disse o Porteiro.
- E onde seria esse "lugar seguro"? - perguntou ele.
- É uma templo perto daqui, meu senhor me pediu para guiá-los até lá.
- Ok, rapaziada, vamo fazer uma reunião de família aqui rapidinho - Thiago nos puxou para um canto.
- Na moral, alguém comprou aquela ideia dele? - perguntou ele.
- Não - dissemos todos juntos.
- A presença dele é meio estranha, pode ser que ele está tentando nos manipular com a Névoa - disse Dante.
- Concordo - disse Cesar. - Quando eu apertei sua mão, senti claramente que ele estava mentindo.
- E agora? O que a gente faz? - perguntou Arthur.
- Finjam naturalidade, vamos ver qual é a desse cara - disse Thiago. - Fiquem espertos, qualquer gracinha dele e a gente mete o pé.
- Será que é para esse lugar que Hades queria que encontrássemos, mesmo que ele esteja mentindo pra gente, talvez seja parte do plano do pai do Cesar de alguma forma? - teorizei.
- Pode ser - disse Liz. - Os deuses e as profecias nunca são muito claros mesmo.
- De qualquer forma, bora ficar todo mundo junto e de preferência armados, não podemos baixar a guarda - disse Thiago.
Nós concordamos e nos viramos de volta até o homen.

Ele continuava parado com aquele sorriso falso e sobrancelhas erguidas esperando alguma resposta.
- Então, porque meu... o Hades quer nos levar até lá? - perguntou Cesar.
- Ah! Você é o filho de Hades, então! Você é bem parecido com o seu pai, sabia?
Cesar não pareceu ter gostado muito de ser comparado ao deus da morte.
- Porque meu pai quer nos levar lá? - ele perguntou novamente.
- Ele quer vocês seguros, Zeus está atrás de vocês, acho que ele não ficou muito feliz de ser chamado de idiota pelo próprio filho - disse o Porteiro como se não fosse nada. - Além do mais, soube que Ares está caçando vocês pessoalmente.
Engoli em seco. Eu tinha comprado briga com meu próprio pai que, por acaso, é o rei dos deuses.
- Como você... - comecei.
- Os deuses estão sempre de olho em tudo e as paredes tem ouvidos, eu tomaria mais cuidado com o quê fosse falar a partir de agora Joui, ainda mais para ele.
Me lembrei do que Tristan havia me dito: "Os deuses vão ficar de olho em você, esperando que faça alguma coisa minimamente duvidosa na visão deles."
- Isso foi uma ameaça? - perguntou Liz.
- Eu só estou avisando - disse o Porteiro. - Achei que no Acampamento Meio-Sangue se ensinava que não deve nunca irritar um deus...
- Como você sabe o nome dele? - perguntou Liz.
- Hades me mandou para cá, é claro que eu saberia quem são os seus semideuses protegidos.
- Vamos logo, antes que eu mude de ideia, nos mostre o caminho até esse tal templo - cortou Liz.
O Porteiro abriu um sorriso que me fez ter arrepios. Todas as bandeiras vermelhas já tinham sido acionadas na minha cabeça. Isso não iria acabar bem.
O Porteiro começou a abrir caminho pela densa mata, de início, não pareceu ter nada de mais a não ser mato e mais mato, nós seguimos em linha reta, parecia que ao mesmo tempo que não estávamos indo a lugar nenhum, estávamos chegando a algum lugar (se é que isso faz sentido), o homem desconhecido nos guiava com uma precisão que me assustava. A passagem era tão estreita que tivemos que passar em fila indiana.
Liz estava logo atrás do Porteiro, com as foices em mãos, Thiago estava um pouco mais relaxado do que ela mas, ainda sim, não tirava os olhos do homem, com medo dele tentar algo.
Beatrice continuava andando junto do pássaro em seu ombro, ele não parecia querer largar a morena tão cedo. Arthur tinha seu arco em mãos, pronto para agir se fosse necessário.
Cesar estava logo na minha frente, bem mais sério do que o normal. Dante segurava na manga da minha blusa com medo de acabar se perdendo, já que estava de noite e ele não tinha lanterna.
Comecei a me sentir ansioso e nervoso, não fazia a menor ideia para onde estávamos indo. Depois do que pareceu ser uma eternidade, a floresta não parecia mais tão fechado, conseguia me movimentar muito mais livremente, quando mais adentravamos, o chão ia ficando cada vez mais marcado e visível, formando uma trilha, mas as coisas começaram a ficarem realmente estranhas quando as árvores começaram a tomar um formato um tanto inatural, conforme caminhavamos para dentro, elas ficaram cada vez mais curvadas e os galhos começaram a ficar mais arredondados e fazerem curvas que árvores não deveriam conseguir fazer normalmente, quase em espiral, a folhagem também começou a tomar uma coloração diferente.
Dante puxou minha blusa, na tentativa de chamar minha atenção.
- Joui, olha para o chão - sussurrou o loiro.
Ao olhar para baixo, percebi uma fina camada de Névoa abaixo de nós.
- Isso está cada vez mais estranho, fique atento - disse eu.
Ele fez que sim com a cabeça.
Conforme andávamos, a Névoa foi ficando cada vez mais forte e visível, chegando no ponto de não conseguirmos enxergar a nossa frente.
Dante apertou um pouco minha mão.
- Fala pro pessoal segurarem uns nos outros, desse jeito, vamos acabar nos perdendo.
Seguimos a ideia do loiro, segurei no ombro de Cesar, era desesperador não conseguir ver nada, a única coisa que me trazia um pouco de conforto era não estar sozinho naquele momento, apesar de só conseguir ver suas silhuetas.
As árvores se tornaram retorcidas, formando uma espécie de túnel, seus troncos também estavam retorcidos em espirais, a coloração rosa e amarela das folhas teria sido uma bonita visão se não fosse todo o resto. A floresta foi ficando cada vez mais fechada e escura, o caminho que estávamos seguindo era uma sutil subida, seguindo em frente, consegui ver uma entrada à direita, o que parecia o fim dessa Névoa espessa. Ao fazermos a curva, vi uma grande clareira sendo revelado em meio a floresta: na nossa frente tinha um grande arco de madeira, mais a baixo, haviam dezenas de casas com um aspecto meio medieval grandes e pequenas; ruelas, fazendas; mais a distância, consegui ver uma caverna com algumas estruturas de mineração; ao nosso lado, tinham uma grande torre; pessoas andavam normalmente por esse vilarejo; e todas as construções estavam ao redor do que parecia ser um grande jardim coberto por Névoa.
No letreiro do arco a nossa frente estava escrito "Santo Berço".
- Mas que porra é essa? - disse Liz.
- Isso daqui está bem longe de ser um templo - observou Beatrice.
- Esse vilarejo foi construído encima de um templo de Hades, sendo assim, o deus virou o padroeiro da vila - disse o Porteiro.
- Porque vocês estão isolados do resto do mundo? - perguntou Dante.
- É melhor assim, ninguém de fora nos entenderia, não respeitariam nossas crenças, vocês entendem isso, não? - respondeu Porteiro.
- Aham... - disse Dante e cochichou para mim. - Já podemos ir embora agora?
Antes que eu pudesse respondê-lo, o Porteiro disse:
- Agora de estamos sozinhos, posso assumir minha verdadeira forma.
Ele rapidamente começou a se transformar, sua pele se tornou completamente cinza, suas orelhas se esticaram e se tornaram pontudas como as de um elfo, seus olhos eram completamente pretos, ele tinha duas faixas pretas descendo dos olhos e fazendo uma curva nas bochechas e outra faixa preta que descia dos lábios até o queixo.
- Agora sim, bem vindos a Santo Berço! - disse ele com um grande sorriso no rosto.
Thiago apontou sua espada para ele.
- Epa, que isso? - o Porteiro levantou as mãos em redenção.
- Que história é essa de "Bem vindos a Santo Berço", o que é você? Explica isso aí direto - disse Thiago.
- Nós chegamos a Santo Berço, é o nome da cidade - disse ele calmamente.
- Fala a verdade - Thiago encostou a espada no peito do Porteiro.
- Eu estou falando a verdade! Eu só omiti algumas coisas lá embaixo para convencer vocês a virem comigo mas...
- O que você omitiu? - perguntou Thiago.
- Eu sou só o porteiro da cidade, o Ferreiro é quem me falou que vocês passariam por aqui e me pediu para buscá-los, ele disse que foi a pedido de Hades...
Cesar se aproximou do Porteiro e tocou seu braço.
- Ele está falando a verdade agora - confirmou ele.
- Sabe, é de costume trazer mais pessoas para cá com a peregrinação, mas nunca tinha acontecido de nos falarem para trazer pessoas específicas - disse o Porteiro.
- Para que vocês trazem essas pessoas para cá? - perguntou Cesar.
- Para eles viverem com a gente - respondeu como se fosse óbvio.
- Não queremos viver aqui - respondeu Beatrice.
- Vocês são convidados especiais, Santo Berço é um lugar seguro, vocês podem ficar quanto tempo precisarem - disse o Porteiro.
- E como vocês trazem pessoas para cá? - disse Liz.
- A gente não sequestra ninguém, se eles quiserem morar aqui, eles ficam e moram... - respondeu ele.
- Porteiro - chamou Liz - O que aconteceu com a sua pele e o seus olhos?
- Como assim? - ele começa a se olhar confuso.
Naquele momento foi quando percebi, se quisessemos alguma informação, teríamos que entrar no jogo deles.
- Liz-Sempai! Não se pergunta uma coisa dessas! - repreendi.
- É, ninguém sai perguntando por aí porque a pele das pessoas é daquele jeito! - concordou Arthur.
Olhei para o moreno, ele sorriu para mim. Arthur tinha entendido o que eu estava tentando fazer.
- Sinto muito, senhor Porteiro - disse eu.
- Tudo bem - respondeu ele. - Vamos andando, tenho que levar vocês até o Ferreiro.
- Thiago, abaixa a espada, ele está assustado - disse Arthur.
- Mas...
- Confia em mim - falou Arthur.
Thiago suspirou e guardou sua espada.
- Quem é esse Ferreiro que te falou para nos trazer? - disse Cesar.
- Ele é o líder da cidade - disse o Porteiro. - Tenho que notificar que vocês chegaram em segurança.
- Ele vai saber responder suas perguntas melhor do que eu na verdade, só estou aqui para ser o Porteiro, receber as pessoas.
- Venham comigo - ele andou um pouco mais a frente e se virou para ver se iríamos ou não.
- Gente - sussurrou Liz. - junta aqui de novo.
Nós formamos uma rodinha.
- E aí? A gente confia? - perguntou Dante.
- Não temos muitas opções - disse Arthur. - Nós estávamos só indo para o oeste, mas só isso, não sabíamos exatamente o que fazer.
- E se for uma armadilha? - perguntou Liz.
- Pessoal, o melhor jeito de conseguirmos alguma informação, é fingir que estamos de boa com isso - disse eu.
- Mas se a gente for com ele o Ferreiro pode tentar fazer alguma coisa para a gente, eles parecem ser alguns tipo de monstro - disse Liz.
- Eu sei que vocês devem estar estranhando - disse o Porteiro para nós. - Todo mundo estranha na primeira vez que vem a Santo Berço, não se preocupem, vocês vão se acostumar rápido.
Ele começa a caminha em direção a cidade.
- E então? Vamo meter o pé ou ir com ele? - perguntou Beatrice.
- Eu não confio naquele cara, mas confio no Joui e no Arthur - disse Cesar.
Liz pareceu indignada.
- Calma, amor - disse Thiago. - Vamos fazer o seguinte, a gente entra lá, já com as armas na mão, se acontecer qualquer gracinha a gente sai correndo.
- Vocês podem perguntar para mim o que vocês estão com dúvida, esse é meu trabalho - disse o Porteiro. - Eu sei que pode ser um choque para muita gente no começo.
- Rapaziada, só vamo entrar logo - disse Thiago.
- Eu não vou com ele, não! - disse Liz.
O grupo começou a discutir novamente.
- Vamo, não temos outra opção - disse Cesar e se virou para o Porteiro. - Pera aí, rapidinho.
- Fiquem a vontade - disse ele se encostando no arco de madeira.
- Vamos votar então - propôs Thiago. - Quem acha que deveríamos ir?
Eu levantei minha mão. Cesar, Arthur, Beatrice e Dante também levantaram.
- Ótimo, vamo bora - Thiago saiu andando. - Ô seu Porteiro, leva a gente pra esse tal de Ferreiro, então.
- Não! - Liz o seguiu.
- Claro - disse o Porteiro. - Sejam bem vindos, tenho certeza que vocês vão gostar muito de Santo Berço, todo mundo adora.
Ele começou a nos guiar para dentro. Nos explicou que a torre a nossa frente era a Torre do Porteiro, onde ele vigiava quem entrava e quem saia.
- Vocês chegaram num ótimo dia - disse ele. - hoje é dia de provação, vocês vão gostar.
- Como assim? - perguntou Cesar.
- Hoje é a festa da provação, é um dia que todos se divertem muito por aqui.
- Ô meu querido, você falou das pessoas que entram, mas e o pessoal que sai? Ninguém sai daqui, não? - perguntou Thiago.
- Ninguém sai de Santo Berço - disse o Porteiro. - Ninguém quer sair daqui.
- Ah, tu só pode estar de brincadeira - disse Thiago. - Tudo mundo entra mais ninguém sai, é?
- Se quiser sair pode, mas não tem o porquê, Santo Berço é muito melhor do que qualquer outro lugar - disse ele.
Comecei a andar mais devagar, não estava nem um pouco animado para conhecer esse tal Ferreiro. Acabei ficando por último no grupo.
Cesar se aproximou de mim, ficando ao meu lado.
- Eu tô com um péssimo presentimento desse lugar - murmurou ele.
- Eu também - disse tentando ser o mais discreto possível.
- Sério? Nem parece, você está agindo de forma tão descontraída. - comentou ele.
- Eu sei muito bem como guardar sentimentos para mim mesmo - disse sincero. - As vezes você passa por algumas situações e... acaba aprendendo esse tipo de coisa.
Acabei o assunto por ali, não gostava de me lembrar dos anos em que passei morando na casa dos meus avós e muito menos do que eu aprendi lá.
Cesar segurou minha mão.
- Você tá com medo - disse ele.
- Como consegue saber? Você é tipo um empata? - perguntei.
- É, pode se dizer que sim - disse ele rindo. - Quando eu toco em alguém, consigo saber o que essa pessoa está sentindo.
Sorri levemente. Ele entrelaçou nossos dedos.
- Nos vamos ficar bem, se alguma coisa acontecer, você pode nos tirar daqui literalmente voando - seus olhos se encontraram com os meus, eles eram escuros como a noite. Cesar geralmente não era muito de demonstrar afeto, nem de te contato físico (agora eu entendia o porquê) mas a mudança era notória, eu sentia que algo tinha mudado entre nós.
Continuamos descendo em direção a cidade. Passamos por algumas casas, elas eram bem bonitas e tinham um estilo bem rústico como o resto da cidade.
- Boa perguntou a sua é... Thiago, né? - ouvi o Porteiro dizer.
- Isso mesmo - respondeu ele.
- Na verdade é uma coisa que muita gente se pergunta, como é que vem parar em Santo Berço quando vocês, ignaros, chegam.
Fransi minha testa. Ele tinha acabado de nos chamar de desinformados? Olhei para Cesar ao meu lado, ele deu de ombros.
- Bom, a gente tem funções e nós só buscamos pessoas novas quando precisamos preencher essas funções - explicou o Porteiro.
- E como exatamente vocês buscam essas pessoas? - perguntou Liz.
- Nós convidamos as pessoas e elas aceitam - explicou ele.
- Que tipo de convite é esse aí, meu querido? - perguntou Thiago.
De repente, o Porteiro parou bruscamente ao ouvir a pergunta e vira na direção de Thiago com um olhar sério.
Eu engoli em seco. Havíamos perguntado algo que não deveríamos.
- Oi! Quer vim morar em Santo Berço? - ele abriu um enorme e simpático sorriso. - Assim! É bem simples.
O Porteiro não parece ser uma pessoa ruim, ele parece ser bem legal, na verdade. Pensei.
- Aqui é... bem bonito - disse Cesar olhando para os lados atentamente.
- Pois é, aqui é um verdadeiro paraíso na Terra - disse o Porteiro.
Agora que havíamos saído dos limites da vila, pude ver claramente que todos os moradores do local tinha a aparência similar ao nosso guia: Pele acinzentada, orelhas pontudas, olhos completamente pretos e marcas no rosto que variavam de habitante para habitante. Eles iam animados em direção a um bosque mais a frente.
- Ali é o Bosque da Provação - disse o Porteiro. - Nós iremos lá mais tarde, assim que vocês conversarem com o Ferreiro.
- Só tem um ferreiro na cidade? - perguntei.
- Sim, é só um - disse ele. - Santo Berço já teve vários ferreiros, o vilarejo existe a muito tempo.
- A quanto tempo exatamente? - perguntei.
- Eu não sei, nós não marcamos os anos como vocês, simplesmente vamos vivendo - disse o Porteiro. - Eu só sei que é tão antigo quanto a civilização ocidental e oriental.
- Sério? - tentei parecer o mais curioso que consegui. - quanto tempo você mora aqui?
- Eu nasci aqui - contou o Porteiro.
Paramos em frente a um homem com a pele cinza um pouco mais escura, ele estava em frente a uma casa com a aparência um pouco mais velha que as demais, algumas ferramentas estavam jogadas pelo quintal.
- Oi seu Guarda, cê não vai para o bosque? - cumprimentou o Porteiro.
O homem negou com a cabeça.
- Eu vou depois - ele olhou para nós. - E esses aí?
- Ah, são os semideus que o Ferreiro me pediu para trazer para cá - explicou ele. - Estamos indo falar com ele agora.
- Bem vindos a Santo Berço - disse o Guarda com um pequeno sorriso.
- Obrigado, seu Guarda - agradeçeu Cesar sem muito ânimo.
Subimos os degraus até a grande porta de madeira. Olhei para o lado, vi a Névoa saindo de um labirinto circular, uma cerca viva.
O Porteiro abriu a porta e disse:
- Aqui é a casa do Ferreiro. Vamos?
- Senhor Porteiro, o que é aquele labirinto? - perguntei.
- Ah! Aquele é o Labirinto Infinito, é um dos maiores mistérios de Santo Berço. Quando eu era criança, eu ficava tentando entrar mas nunca dá em nada, ninguém nunca consegue chegar no centro, ele sempre muda o caminho e você acaba voltando de onde veio. Depois se vocês quiserem entrar, fiquem a vontade, é divertido na primeira vez - disse ele. - Vamos entrar?
Cesar apertou minha mão.
- Vamo aí.
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Vocês acharam mesmo que eu ia deixar Santo Berço de fora de tudo isso? Tem tantas possibilidades de como usar esse lugar em um universo como esse.

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