Joui - Mascarados

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Uma semana e nada.
Thiago nem se quer deu um sinal de vida e se tinha uma coisa que me deixava ainda mais preocupado era aquela maldita profecia. Ela não estava completa ainda, aquele último verso martelava na minha cabeça dia e noite...
Quem são esses traidores? Porque alguém trairia o acampamento?
Eu tinha tantas perguntas e tantos medos...
– Aconteceu alguma coisa, Jojo? – Cesar entrelaçou nossos dedos.
Sorri. Estávamos sentados na Colina Meio-Sangue, ao lado do grande pinheiro que nos protegia do mundo exterior, onde poderíamos visualizar o acampamento inteiro. Era um bom lugar para ir quando queriamos um tempo sozinhos.
– Não é nada, meu anjo – segurei sua mão e a beijei delicadamente.
– Joui, eu sei que você não tá bem – ele me olhou sério.
Ele com toda certeza estava lendo meus sentimentos. Não tinha como mentir nem se eu quisesse.
– Eu tô com um péssimo pressentimento, não sei explicar, achei que seria só aquela missão e acabou – confessei. – mas agora o sr. Veríssimo começou a falar sobre Grande Profecia e Marcas... esse tal de Kian... e ainda por cima, o Thiago-Sensei continua desaparecido.
– Eu também me sinto assim, foi tudo muito do nada, a um mês atrás ainda estávamos na Nostradamos, agora de repente existe um mundo mágico e nós fazemos parte disso – Cesar passou a mão por minha cicatriz. – mas vai ficar tudo bem, a gente sabe se virar sozinho.
– Sozinhos não, nós sempre tivemos um ao outro – disse eu. – Acho que eu só não enlouqueci ainda porque tenho você, o Arthur e todos os nossos amigos daqui.
– Você tem razão – disse Cesar. – Eu não sei o que faria sem vocês.
O abracei apertado e comecei a distribuir beijinhos por seu rosto. Esse garoto era a coisa mais fofa do mundo.
– Você tá carente hoje – Cesar riu.
– Você é perfeito, sabia? – disse eu.
– Eu tô muito longe de ser perfeito – disse Cesar.
– Não pra mim – beijei sua testa. – Para mim você é perfeito do jeitinho que você é, com todas as suas qualidades e defeitos.
– Porque você me elogia tanto? – Cesar perguntou. – Eu não sou nada do que você diz.
– Cesar-Kun, você é tudo isso sim – disse eu. – Só queria que você se visse como eu te vejo, que percebesse o quão incrível você é.
– Eu não consigo entender o que você vê em mim – disse Cesar. – Tem tanta gente melhor por ai, por que eu?
Me doía muito ver o quanto Cesar era duro consigo mesmo.
– Porque você é você e isso é o suficiente – levei minhas mãos até seu rosto. – Não existe alguém melhor no mundo para mim do que o garoto por quem eu me apaixonei.
Vi Cesar abrir um sorriso que me derreteu por completo.
– Você é perfeito – dei um beijo casto em seus lábios.
– Joui...
Nos separamos rapidamente, me virei já sabendo quem havia me chamado.
– Oi Nathaniel – minha voz quase não saiu de tanta vergonha. – O que você tá fazendo aqui?
Olhei para Cesar, ele estava tão envergonhado quando eu.
– Ahn... eu... tava te procurando – Nathaniel gaguejou meio em choque. – Queria falar com você, mas não sabia que ele estaria aqui também.
Nathaniel tinha se afastado de mim depois que comecei a namorar Cesar, não o julgava, eu sabia que o loiro gostava de mim. Achei até que seria melhor para ele se afastar e com toda certeza ter visto Cesar e eu nos beijando deve ter sido uma situação tão desconfortável para ele tanto quanto foi para nós.
– Nós podemos conversar? – Nathaniel perguntou.
– Claro – disse e olhei para Cesar.
– A gente se fala na fogueira – Cesar beijou minha bochecha e saiu.
Sorri. Depois que começamos a namorar, o ciúmes que ele sentia por Nathaniel sumiu completamente.
– Você parece gostar muito do Cesar mesmo... – disse Nathaniel.
– Sim – sorri meio bobo.  – Sobre o que você queria falar?
– Vocês vão começar a busca pelo Thiago amanhã, não é? – ele me perguntou.
– Sim, porque?
– Tomem cuidado – disse Nathaniel.
– Sempre – disse eu.
Até que era bom ter meu amigo de volta, não que nós fossemos extremamente próximos, mas Nathaniel era uma boa companhia.
Fomos conversando e andando sem rumo pelo acampamento.
– Ei, hoje é dia de Captura a Bandeira, não é? – Nathaniel me perguntou.
Respondi que sim.
– O que acha de irmos até a floresta e procurar algum monstro para enfrentar?
Hesitei antes de responder. Não me parecia uma boa idéia entrarmos sozinhos na floresta, ainda mais pra procurar por seres que querem nos matar.
– Não é mais fácil irmos treinar na Arena? – perguntei.
– Nesse horário já deve estar lotada de gente – disse Nathaniel. – Todo mundo está se preparando para o jogo.
– Você acha mesmo que é uma boa idéia? – perguntei. – Quero dizer...
– Vamos, a gente volta rápido – disse Nathaniel. – Se te deixa mais confortável, eu conheço um lugar onde os monstros não costumam ir, podemos treinar entre nós, não necessariamente ir atrás de monstros.
Ainda não estava muito confiante com aquele convite, não sei o porquê. Deveria estar me sentindo aliviado por Nathaniel estar sendo tão amigável, desde que eu e Cesar começamos a namorar, ele estava mais distante. Estava com medo dele possivelmente ainda não ter superado.
– Tudo bem – cedi. – Porque não?
Fomos andando até a floresta, seguia Nathaniel que parecia conhecer o caminho com a palma da mão. Por sorte, não encontramos nenhum monstro pelo caminho, agradeci silencisamente os deuses por aquilo.
Paramos em uma clareira em meio a densa mata, me perguntei em que momento Nathaniel havia descoberto aquele local.
– Você parece conhecer bem a floresta – comentei.
– Joui, você... não sente falta da sua casa? – ele me perguntou.
– Sim – disse eu. – E você?
– Não, não mais – disse ele. – Minha mãe morreu quando eu era criança, desde então, vivo aqui.
– Eu sinto muito – disse eu.
– Relaxa. Isso já faz muito tempo, eu nem lembro direito de como ela era – disse Nathaniel. – Vou sentir muita mais falta do acampamento do que senti dela.
– O que você quer dizer com isso? – fransi a testa. – Falando assim, até parece que vai embora.
Nathaniel sorriu triste.
– Eu estou indo embora, Joui. Trouxe você aqui para te fazer uma proposta – disse ele. – Só... não surta, por favor.
– O que... – paralisei ao ouvir várias vozes começarem a ecoar por minha cabeça, sussurrando palavras em grego.
– Nathaniel... que porra é essa?
Ele não me respondeu, apenas abriu um sorriso ladino.
Procurei a caneta em meu bolso. Os sussuros foram ficando cada vez mais altos.
Destampei a caneta, que se transformou em minha katana. Quado me dei conta, as sombras ao nosso redor começaram a se destorcer, como se quisessem nos engolir para a escuridão.
As sombras começaram a se mover e esticar, elas se expandiram cada vez mais até que, de dentro da escuridão, sugiram cinco pessoas mascaradas usando túnicas brancas e cordas em volta do pescoço como nós de uma forca. Uma mulher se destacava um pouco a frente do resto do grupo, ela tinha o cabelo trançado e a pele negra, sua máscara era diferente das outras, tento um grande símbolo que brilhava em vermelho na região da testa, a expressão do adereço era de completo desespero.
– Nós louvamos o equilíbrio e é isso que viemos buscar – as pessoas disseram em uníssono, suas vozes pareciam se misturar em um único sussuro. – Você é diferente, Joui, consegue perceber?
– Quem são vocês? – apontei a katana em direção a eles. – Como sabem meu nome?
Não consegue sentir o motivo de você ter sido levado até aqui, filho de Zeus? – as vozes continuaram.
– Nathaniel, quem são eles? – perguntei segurando firmemente a espada.
– Essa, Joui, é a Seita das Máscaras – ele apontou para a moça a frente. – Aquela é a Magistrada, a líder escolhida por Nemenis.
Arregalei os olhos completamente horrorizado, aquilo não podia ser verdade.
Não esperava me deparar com você, que supresa agradável! – as Máscaras afirmaram. – Momentos assim são raros para nós. Uma surpresa para ambos, não acha?
– O que... vocês estão fazendo aqui? – minha voz oscilou, levei a katana por cima do ombro, me preparando para atacar.
– Eu não faria isso se fosse você – Nathaniel ameaçou. – As Máscaras vão te imobilizar em questão de segundos se tentar ir pra cima.
Então a ficha caiu.
– Você está com elas – conclui. – Você... traiu o acampamento.
E, da fúria dos traidores os marcados se revelaram.
– Eu vi muita coisa lá fora, Joui – ele começou. – Você não sentiu a escuridão se acumulando, os monstros ficando mais fortes? Não percebeu que o jeito que resolvemos as coisas é inútil? Todas as missões, todos os feitos heróicos... nós não passamos de peões dos deuses. A desconjuração vai acontecer se continuarmos nesse ritmo.
– Quem são os outros? – gritei furioso. – Quem são os outros traidores?
– Nós não somos traidores – disse Nathaniel. – Mas digamos que eu não fui o único semideus retrutado por Nemenis.
Eu não conseguia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Eu simplismente não conseguia acreditar em uma palavra do que Nathaniel dizia.
– Nathaniel, você está falando dos nossos pais – disse eu.
Ele riu.
– Eu estou pouco me fodendo para os deuses. Você mesmo não é muito fã do seu pai pelo que eu ouvi dizer – disse Nathaniel. – Agora, se Kian retornar... aí sim vamos ter problemas catastróficos.
– Você ficou maluco? – disse eu. – Nemesis quase destruiu o mundo para trazer essa seitazinha de volta!
Joui – as máscaras retornaram a falar, senti um arrepio percorrer por meu corpo ao ser chamado. – Kian é uma entidade completamente insana, ele não vai parar até conseguir o que quer. Vai destruir o equilíbrio se não o pararmos.
– E o que ele quer? – perguntei. – Quem é Kian?
Pode ter todas as respostas que quiser, se você se juntar a nós – as Máscaras disseram. – Somente os marcados podem decidir o rumo desconjuração, por isso precisamos de você.
– Eu... sou um marcado? – perguntei. – Que nem o Cesar e o Dante?
Sim – elas respondem. – Precisamos da sua ajuda.
Olhei para Nathaniel, ele assentiu com a cabeça, confirmando o que elas estavam falando.
– Nós não queremos destruir a humanidade ou algo assim – disse Nathaniel. – Uma Marca te escolheu e precisamos de mais marcados para parar a desconjuração e cumprir a Grande Profecia.
Aquele discurso não tinha me convencido de nada. Eu tinha que sair dali e rápido.
– O que eu faria se me juntasse a vocês? – abaixei a katana, tentando passar confiança. – Como iríamos derrotar Kian sem os outros marcados?
– É aí que você começa a entrar no plano – disse Nathaniel. – Os semideuses marcados confiam mais em você do que em mim, nós vamos de dar os nomes de quem você precisa convencer a vir para o nosso lado.
Pensei em Cesar imediatamente, ele também era um marcado. Eu não podia simplismente arriscar em confiar na pessoa errada, se eles fizessem qualquer coisa com o Cesar...
– Porque não nos juntamos ao acampamento? – perguntei. – Se contassemos ao sr. Veríssimo, tenho certeza que ele entenderia.
Nossa senhora protege o Equilíbrio e é por isso que estamos aqui – as máscaras disseram. – Kian irá destruir o Equilíbrio se não o impedirmos de retornar.
Falaram, falaram e no final não me deram resposta nenhuma. Pensei.
– Você não está cansado de ter que esperar por ordens para agir? – Nathaniel me perguntou. – Nós temos que seguir por conta própria se quisermos salvar os nossos amigos.
Nathaniel e as Máscaras facilmente poderiam estar só tentando me manipular para conseguirem o que querem. Sabendo dessa possibilidade, não conseguia acreditar em nada do que eles estavam dizendo.
– O que vocês querem de mim? – perguntei.
Você irá se juntar a nós – as Máscaras disseram, a Magistrada se aproximou.
– É o quê? – disse assustado.
– Eles me convocaram para restaurar o Equilíbrio – Nathaniel colocou a mão em meu ombro, engoli em seco. – Eu fiz um acordo com a Nemesis, eu iria entrar para Seita com a condição de que você entrasse também.
Ele só pode estar de brincadeira. De todas as coisas que poderia pedir, ele escolheu me levar junto?
– Porque você quer me envolver nisso? – perguntei. – Eu não posso abandonar o Cesar, o Arthur, a Liz... minha equipe... não vou deixá-los para trás!
O Equilíbrio é mais importante, mas você não irá os abandonar, irá os convencer a se juntar a nós. Vocês são os marcados, quando sua profecia se cumpriu, ela revelou aqueles que possuem a marca – a Magistrada deu um passo a frente, se apoiando em sua bengala. – Se aceitar nosso acordo...
– Pera aí, ninguém tinha falado nada sobre eu fazer um acordo – levantei a espada novamente e olhei para Nathaniel. – Eu não me importo se você se juntar a eles ou não, mas eu não vou para lugar nenhum.
Que assim seja, então – as máscaras disseram. – O acordo se cumprirá, quer você queira ou não. Você irá ceder, logo irá entender que este é o certo a se fazer.
– Vão ter que me levar a força então – comecei a andar para trás a passos largos. – Eu me recuso a fazer parte disso.
– Joui, elas não vão te machucar, nem ninguém do acampamento, isso eu te garanto – Nathaniel veio em minha direção calmamente. – O acordo é uma troca. Você pode pedir como condição que protegeremos o acampamento, o que você acha?
Até parece que eles são tão bonzinhos como estão dizendo, eles estão escondendo alguma coisa...
– O que vocês vão fazer se eu não aceitar? – perguntei desconfiado. – Até parece que vão me deixar voltar para o acampamento e contar para todos sobre vocês.
– Eu nunca deixaria elas te matarem – disse Nathaniel.
Ah, claro, agora estou muito mais tranquilo que o traidor falou que a Seita das Máscaras não vai me matar.
– Para trás! – levantei a espada na direção dele. – Eu nunca falei nada matar.
– Joui, abaixa a espada, vamos conversar – ele levantou as mãos em redenção. – Acho que você não está me entendendo...
– Não! Você é quem não está entendendo que eu só entro pra essa sua seitazinha morto!
– Ok. Vai ser do jeito difícil então – ele suspirou e ergueu uma das mãos, o ar a sua volta pareceu se destorcer e começar a formar letras gregas em dourado que logo começaram a tomar forma. Quando me dei conta, Nathaniel tinha em mãos uma máscara branca com um coração invertido em dourado no centro. – Peço desculpas desde já, não terei controle de minhas ações a partir de agora, mas te darei um último aviso: eles vão te pegar de um jeito ou de outro, então, tome cuidado com as sombras.
Ele colocou a máscara, ela se moldou perfeitamente em seu rosto, como se fosse feita sob medida.
Engoli em seco. Aquilo não era um bom sinal.
Dito e feito. A Magistrada apontou sua bengala em minha direção, as sombras se destorcerem e aumentaram novamente, mas dessa vez rodearam todos os membros da Seita, incluindo Nathaniel, desaparecendo nas sombras da noite.
Não esperei mais tempo antes de sair correndo, voltando pela densa mata em direção ao acampamento. Sentia o coração disparar em meu peito, o desespero e a sensação de estar sendo perseguido me acompanhavam.
Infelizmente, eu não estava errado em me preocupar em estar sendo seguido. Mal consegui avançar pela floresta e as sombras ao meu redor comeram a tomar forma, da escuridão surgiram o as Máscaras a minha frente.
Tentei evacoar para trás mas mais membros da Seita surgiram das sombras, me cercando completamente.
Kuso... – praguejei baixo.
Não tem para onde fugir, filho de Zeus – as Máscaras disseram.
Sem ter outra opção, abaixei a espada e pulei o mais alto que consegui, sendo impulsionado para cima pelos ventos, que me mativeram no ar e começaram a ajudar a me mover para frente.
– Bom, daqui eles não tem como me alcançar – pensei alto aliviado.
Pra que eu fui abrir a boca? Quando já conseguia ver as construções do acampamento se aproximando conforme voava para mais perto, me senti sendo puxando para baixo.
– Não é possível! – ao olhar para trás, me deparei com um dos membros da Seita agarrado minhas pernas. – Como você veio parar aí?
Me perguntei se era possível ele ter se teleportado em pleno ar.
Conjurei um raio, que caiu em direção a máscara, ela desapareceu entre as árvores.
Me senti mais fraco, como se parte de minha energia estivesse se esvaindo, e de fato estava, como toda vez que em que usava os raios.
Pousei e corri em direção as construções do acampamento, mas isso não me fez com que eles desistissem.
Duas das Máscaras apareceram na minha frente com espadas em mãos.
Desviei da primeira, mas a segunda conseguiu fazer um corte profundo em meu braço, o sangue escorria e pingava no chão. Apesar da dor, revidei com minha katana, mas a Máscara me bloqueou com sua arma, me abaixei e dei uma rasteira nela, que caiu com tudo no chão.
A outra logo partiu para cima de mim. Com a ajuda dos ventos, pulei por cima da Máscara, quando estava prestes a golpeá-la me toquei que era um ser humano ali, não um monstro, rapidamente segurei seu braço e derrubei, a pessoa mascarada caiu de costas ao lado de seu companheiro.
Antes que eles pudessem se recuperar, voltei a correr o mais rápido que podia. O acampamento ficava cada vez mais perto, mas ao mesmo tempo, parecia que estava muito longe (se é que isso faz algum sentido).
Surpreendentemente consegui chegar nos limites da floresta sem mais nenhum ataque. Quando estava me convencendo que havia acabado, Nathaniel apareceu na minha frente, apontando uma longa espada para meu peito.
Recuei para trás e levantei minha katana, esperando que ele atacasse.
Como previsto, ele avançou, me abaixei rapidamente antes que me acertasse, tentei dar uma rasteira mas Nathaniel pulou para trás, desviando com facilidade.
Dessa vez, eu ataquei primeiro, nossas espadas entraram em atrito e então tive uma idéia um tanto arriscada, mas se já deu certo uma vez, o que me impediria de fazer de novo?
Conjurei um raio entre nossas espadas. Nathaniel foi arremessado para trás, rapidamente consegui absorver uma parte da eletricidade, para que a descarga elétrica não fosse forte ao ponto de matá-lo, somente desacordá-lo. Senti uma onda de energia invadir meu corpo.
Continuei em direção ao acampamento, a essa altura eles não tentariam me seguir mais, não é?
Errado. Seis membros da Seita tentaram me cercar novamente, conjurei mais um raio ao meu lado, bem no meio de todos, eles se afastaram, atordoados, o que me deu a chance de continuar o pouco que restava para chegar ao acampamento.
Achei que finalmente eles iriam desistir de mim, mas estava enganado novamente.
Eles continuaram me perseguindo, tentei ir o mais rápido que pude, mas dois deles se teleportaram a minha frente e mais outros dois ao meu lado.
Os dois mais próximos seguraram meus braços. Descarreguei a eletricidade que havia absorvido anteriormente, eles me soltaram e despencaram desacordados na grama.
Enquanto isso acontecia, mais quatro Máscaras haviam me cercado. Meu corpo começava a demonstrar sinais de cansasso, estava usando demais dos meus poderes.
– Vocês não eram só seis? – perguntei frustrado.
Ajeitei minha postura, esperando para ver o que eles iriam fazer.
As Máscaras começaram a me rodear, me impedindo de sair pelos lados. Eles se utilizavam da mesma estratégia de cercar e atacar em conjunto, apesar de ter notado isso, não tinha como escapar, mesmo se voasse de novo, elas poderiam me seguir para dentro do acampamento, não arriscaria colocar meus amigos em perigo.
Ataquei a Máscara a minha frente, os outros três me acertaram com suas espadas ao mesmo tempo, como se fossem robôs programas a fazer a mesma ação.
A ferida em meu braço foi acertada novamente, abrindo ainda mais o machucado, senti minhas costas arderem com o corte que foi feito na região, mas essa dor foi logo amenizada pela outra ainda maior de uma lâmina entrando em minha costela.
Minhas pernas cederam e despenque no chão, o som metálico de minha katana caindo ecoou por minha cabeça.
Tentei me levantar, mas fui impedido por uma das Máscaras que pisou em minhas costas, me impedindo de me movimentar.
Olhei em volta sem saber o que fazer, me sentia tão inútil, não consegui nem se quer fazer a tarefa simples de voltar ao acampamento. Olhei em volta, percebi que já estava nos limites da floresta, então, resolvi fazer a única coisa que me veio a cabeça:
– Socorro! – gritei o mais alto que pude. – Por favor...
Minha visão começou a escurecer, meu corpo doía muito, mas não podia desistir, não agora, estava tão perto...
No momento de desespero, conjurei mais um raio, mas não para acertar a Seita, e sim para produzir um trovão, um som alto que pudesse chamar a atenção de alguém próximo.
– Socorro! – gritei novamente.
A Máscara que me segurava no chão pisou mais uma vez nas costas, fazendo minha visão de escurecer novamente. Ninguém estava vindo, ninguém havia me escutado, eu tinha falhando...
Abaixa!
– O quê... – quando abri os olhos, pude ver uma garota com a blusa do acampamento vindo correndo em minha direção com... uma granada na mão?
Arregalei os olhos e protegi minha cabeça com as mãos. Aquela maluca queria me ajudar ou me explodir?
– Ô mascarados! – a garota gritou. – Venham me pegar, se puderem!
Espiei um pouco para ver o que estava acontecendo. As Máscaras se viraram para ela, deixando somente a que estava me imobilizando para trás.
A Seita foi em direção a garota que saiu correndo para longe de mim, levando as Máscaras junto. Quando estava em uma distância razoável, parou, tirou o pino da granada com a boca, deu um beijinho no explosivo e disse:
– Vai supernova!
E lançou a granado em direção a Seita. Voltei a proteger minha cabeça com os braços, me impedindo de ver direito o que estava acontecendo. A granada explodiu em chamas, me assustei um pouco com o barulho e o fogo, mas tinha que admitir, aquilo tinha sido muito descolado.
Com a explosão, a Máscara que me imobilizava tirou o pé de cima de mim. Aproveitando a distração, puxei seu calcanhar, a derrubando, coloquei meu joelho em suas costas e segurei seus pulsos com uma de minhas mãos.
– Desculpa, senhor – disse antes de dar de um mata leão na Máscara caída, de forma que só o desacordasse.
Me levantei e olhei em volta, procurando pela garota que havia me ajudado, foi aí que me toquei: ela estava perto demais quando a granada explodiu.
– Moça! – cambaleei com dificuldade na direção onde a explosão ocorrerá.
Ainda saia muita fumaça do local, juntamente com alguns focos de fogo espalhados pelo chão.
Quase caí dentro do buraco que a explosão havia causado, não era muito grande, mas tinha feito um belo estrago no chão.
As ninfas do bosque não vão ficar nem um pouco felizes quando vierem isso. Pensei.
– Moça da granada, você tá aí? – perguntei preocupado.
Vi uma mão se erguer em meio a fumaça e fazer um sinal de joinha. Rapidamente, a segurei e ajudei a se levantar.
A garota ruiva tinha um grande sorriso no rosto, seus olhos verdes me olhavam com curiosidade. Suas vestes estavam completamente intactas e limpas mesmo depois da explosão, percebi também que ela carregava consigo muitas ferramentas em um colete, juntamente com um cinto repleto de granadas, todas estampadas com algum desenho.
– Pelo amor de Zeus, você tá bem? – perguntei.
– Eu tô ótima, agora você... não parece muito bem – ela me observou preocupada. – O que aconteceu? Quem eram aqueles caras?
– Eu... – minhas pernas cederam novamente, quase fui parar no chão, mas a garota conseguiu me segurar.
– Eita! – ela passou meu braço por seus ombros e começou a andar, me ajudando a ficar em pé. – Vamos voltar para o acampamento, você conta a história depois.
– Quem é você? – perguntei me sentindo fraco.
– Quem é você? – ela rebateu a pergunta. – Quatro anos no acampamento e nunca te vi por aqui.
– Quatro anos? – disse eu. – Como é que a gente nunca se viu?
– Você chegou a pouco tempo? – ela me perguntou.
Respondi que sim.
– Então é por isso, eu não fico aqui o ano todo, moro com meus avós – ela explicou. – A propósito, eu sou a Erin.
– Joui – me apresentei. – Como você sobreviveu a explosão?
– Sou filha de Hefesto – ela disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Sou imune a fogo, é um poder raro entre os nossos, mas por sorte, eu tenho.
Isso explica o colete com ferramentas. Pensei.
– Como você ainda está de pé? – ela me perguntou.
– Porque você está me segurando – não era uma mentira, se ela não estivesse ali, já estaria estirado no chão.
– Sim, mas você tá sangrando pra caralho – ela disse um pouco assustada. – Como não desmaiou ainda?
– Acho que parte da descarga elétrica que absorvi quando fui conjurar um raio está me mantendo acordando – respondi.
– Você fez o quê? – ela perguntou chocada. – Você é filho de quem mesmo?
– Zeus.
– Cê tá zuando – ela disse.
– Infelizmente não – senti minha visão escurecendo de novo. – Obrigado por ter me salvado, moça da granada.
E então tudo escureceu.
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E com isso, encerramos o primeiro arco.
Ainda tem muita coisa por vir, essa história não está nem na metade.
Erinzinha apareceu depois de vindo e sei lá quantos capítulos!
Espero que vocês tenham gostado do capítulo, até a próxima <3

O Segredo No AcampamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora