Acordei ofegante, levantei da cama e me olhei no espelho, não tinha nenhum hematoma em meu rosto, suspirei aliviado.
– Foi um sonho? – pensei alto. – Eu sonhei com tudo aquilo?
Através da persiana, alguns feixes de luz invadiam o quarto, abri a janela, já era manhã e a Névoa não estava mais pelas ruas. Olhei em volta, ainda meio apreensivo, notei um embrulho em cima do baú que com certeza não estava lá antes.
Me sentei na cama tentando processar tudo. Eu sonhava com certa frequência com meu tio, mas nunca desse jeito.
O tio Brúlio era muito protetor e brincalhão, ele era quase como o coração da família, nunca falaria comigo da forma que falou no sonho, me culpando pelo acidente e por sua própria morte. Até sua aparência me assustou, logo depois de ter arrombado a porta do meu quarto, consegui ver que escorria sangue de sua cabeça... eu soube muito bem do que se tratava, ele estava exatamente da forma quando o encontrei morto.
– Só foi um pesadelo... – disse para mim mesmo. – não era ele.
Me assustei ao ouvir uma porta batendo com força e sons de passos pelo corredor.
– Arthur! – Dante entrou correndo.
– Dante? Bom dia... – ele me abraçou.
– Você tá bem... – ele parecia aliviado. – Desculpa ter entrado assim do nada, tive um sonho estranho...
– Isso envolveu eu ter morrido, um tal de Oliver e um parasita de sonhos? – perguntei.
Dante arregalou os olhos.
– Do que você se lembra? – ele me perguntou.
– De tudo, foi como se eu fosse o espectador de um filme horrível... – disse eu.
– Não, não, não... – Dante colocou as mãos no rosto. – Agora a Beatrice vai querer saber sobre ele...
– Quem era aquele homem? – perguntei. – Ele te chamou de... Gaspar?
Dante não me respondeu.
– Ei, tá tudo bem – eu o abracei novamente, ele não correspondeu, mas isso pouco importava, só queria confortá-lo um pouco. – Eu não vou contar para a Beatrice, nem para ninguém, a não ser que você queira.
Ele apoiou sua cabeça em meu ombro, senti seus braços trêmulos em volta de minha cintura.
– Você promete? – perguntou Dante.
– Eu juro pelo Rio Estige – disse sem pensar duas vezes.
Ele se afastou o suficiente para me olhar nos olhos.
– Você sabe que é meio loucura da sua parte fazer um juramento desses para uma pessoa que você mal conhece? – perguntou.
– Confio em você – sorri para ele, tentando passar o máximo de conforto possível, não iria obrigá-lo a falar de um assunto que parece ser tão delicado.
– Como? – disse Dante. – Eu tenho escondido muitas coisas de vocês e da minha própria irmã, como ainda confia em mim?
Por um momento, pareceu uma boa ideia admitir que tinha me apegado a ele, mesmo que nos conhecêssemos a pouquíssimo tempo.
– Você não é uma pessoa ruim – respondi. – Até onde eu entendi, só está tentando proteger a Bea.
Dante inspirou fundo, se levantou e sentou ao meu lado na cama, ele demorou um pouco para começar a falar.
– Aquele era... meu pai – Dante não pareceu gostar em ter que denominá-lo dessa forma – E ele não é uma pessoa confiável.
Fiz um carinho nas suas costas, incentivando a continuar.
– Ele faz parte de uma... ceita ou algo do tipo, nem eu sei muito bem ao certo o que é aquele grupo – disse Dante. – Sempre falava para mim e para a Beatrice que nossos poderes poderiam ajudar em "algo maior" e que salvariamos muitas pessoas se aprendessemos a usá-los da maneira correta, mas na verdade, só queria nos usar para benefício desse grupo dele... fomos treinados desde pequenos, estudamos magia a vida toda. O Oliver é um feiticeiro poderoso e, no ano passado, ele resolveu nos dar uma primeira missão, disse que iríamos salvar uma criança de uma doença terminal, mas o que aconteceu...
Ele travou, percebi que estava com medo de continuar falando.
– Você vai me achar um monstro... – ele baixou a cabeça.
– Tá tudo bem se não quiser contar – disse eu.
– O que você precisa saber por agora é que eu me lembro de tudo, seu sei muito bem quem nós somos e de onde viemos – contou Dante. – Mas a Lili... a Beatrice não pode saber.
– Lilian, não é? – perguntei. – Esse é o nome verdeiro dela?
Ele disse que sim.
– E o seu é Gapar?
Ele confirmou novamente.
– Sei que você precisou fazer isso para protegê-la – segurei em seu rosto, fazendo ele olhar para mim novamente. – E não importa o que aconteceu no passado, não estou aqui para te julgar, quero ajudar, você é meu amigo.
– Me desculpe por ter mentindo, não tinha como eu saber se vocês tinham alguma coisa haver com essa ceita, ainda mais quando vi seus poderes...
– Já disse que está tudo bem, você teve seus motivos – disse eu. – Você já sabia que é um semideus, então?
– Não, Oliver dizia que éramos de uma família de feiticeiros, mas semideus faz bem mais sentido – contou Dante.
– O que importa é que consegui fugir aquele lugar doentio... – Dante me olhou, como se tivesse percebido que tinha que explicar. – O meu pai é dono de um orfanato, ele recrutava as crianças mais velhas para fazer parte da ceita.
– Que horror – disse eu.
– Pois é, eu praticamente cresci naquele lugar – Dante ajeitou o cabelo – Eu não quero ter que voltar para lá nunca mais, quando decidi fugir de casa, ainda tinha algum receio, mas sabia que se continuasse daquele jeito, Lilian iria enlouquecer completamente.
– E porque ela não se lembra disso tudo? – perguntei.
– Eu apaguei as memórias dela – confessou. –, não tive escolha, era isso ou deixá-la para sempre.
Ele não me olhou nos olhos, parecia inquieto, preocupado em como eu reagiria.
– Eu sinto muito pelo que vocês tiverem que passar – disse eu. – Nem consigo imaginar como deve ter sido tudo isso.
Ele me abraçou com força.
– Obrigado... – Dante sorriu, suas bochechas tinham um leve tom avermelhado – Eu sei que vai soar meio estranho falar isso agora mas... espero que possamos nos aproximar mais, gosto de conversar com você.
– Claro que nós vamos – disse eu. – Quando terminarmos a missão, o que você acha de... sei lá, tem algum lugar que você gostaria de ir?
– Você tá... me chamado... pra sair? – Dante ficou mais vermelho ainda.
– Depende... – senti meu rosto quente. – Você queria que eu te chamasse para sair?
– Talvez... – disse Dante.
– Depois que passar esse caus todo, quer sair comigo?
– Sim – disse Dante timidamente.
Olhei para baixo tentando esconder meu sorriso.
– É... melhor eu ir ver como a Li-Beatrice está... – ele se levantou. – Te encontro lá embaixo?
– Uhum... – eu estava envergonho demais para formular alguma frase.
– Ok... – disse Dante e saiu correndo, me deixando sozinho no cômodo novamente.
O que caralhos tinha acabado de acontecer? Em um momento, eu estava tentando ajudar um amigo com um assunto extremamente delicado para ele e, no outro, eu tinha arranjado um encontro.
Olhei para a caixa ao lado da minha cama, resolvi a abrir, essas seriam as roupas que o Tecelão disse que faria?
Tinha uma calça simples, suspensórios expondo meu peitoral e um capuz verde por cima. Eram bem confortáveis.
Sai para o corredor em direção a recepção, sabendo que o grupo se encontraria lá.
Joui usava uma vestimenta mais oriental da cor rosa; Liz conversava com o asiático, ela usava roupas esverdeadas com detalhes de couro; Cesar tinha várias camadas de roupa com penugens, parecia bem quente; o restante do grupo ainda não havia chegado.
– Bom dia, gente! – cumprimentei.
– Bom dia – Joui se aproximou de mim. – Arthur-San, você tá muito descolado!
– Olha quem fala – disse eu. – Você tá parecendo um samurai.
– Obrigado – o asiático riu.
Me inclinei para o lado e disse:
– Você também tá bonitão, Cesinha.
– Ficou descoladissimo! É a sua cara – disse Joui.
– Valeu... – ele parecia um pouco envergonhado.
– Salve, rapaziada! – Thiago finalmente havia chegado.
– Bom dia – Liz cumprimentou o namorado e o beijou.
– Se vocês forem ficar se pegando, não podem ir para um canto afastado, não? – disse Cesar caminhando em nossa direção.
– Acordou rabugento hoje – disse Thiago.
– Se fosse você e o Joui tu faria a mesma coisa que eu sei – cochichei para Cesar.
– Arthur! – exclamou Cesar.
– É verdade, ué – não podia perder a oportunidade de provocá-lo com aquele assunto novamente – ou não?
Ele ficou em silêncio.
– Não sei do que trata, mas quem cala consciente – disse Thiago.
Cesar ficou vermelho.
– E aí, Arthur, vai me falar o que está acontecendo? – Thiago se juntou ao grupo – Você prometeu que ia me contar depois e não disse até agora.
– Tá, vem comigo! – comecei a puxar ele para um canto.
– Ei, eu também quero saber – Joui veio atrás da gente.
– Pergunta pro Cesar, ele te conta – disse eu.
– Tá bom – disse Joui meio desconfiado e voltou para perto do cabeludo.
Cesar me olhou e tive certeza que ele estava me xingando mentalmente.
– E então? – perguntou Thiago.
– O Cesar gosta do Joui – fui direto ao ponto.
– E porque você não me disse isso antes? – disse Thiago. – Eu sou filho da deusa do amor, se tem alguém que pode juntar eles, sou eu.
– Humildade passou longe, Thiagão. – disse rindo.
– Mas é verdade, eu já juntei uma galera no acampamento – contou Thiago.
– Ok, eles estão precisando de uma ajudinha mesmo – disse eu. –, mas seja discreto, se não o Cesar me mata.
– Thi, vem cá – Liz puxou o garoto pelo braço para perto de Joui com um grande sorriso no rosto. – Olha só o Jojo.
– Se tá estilo – elogiou Thiago.
– Não é isso que eu queira mostrar – disse Liz.
– Eu amo que a Liz e o Thiago praticamente adotaram o Joui – comentei.
– Ele é meu bebê, eu que treinei – disse Liz abraçando o asiático. – Até parece que foi ontem que ele aprendeu a voar.
– Isso foi ontem, Liz-Sempai – lembrou Joui.
– Ah, foda-se! – disse Liz. – Faz aquilo de novo para mostrar pra eles.
– Mostrar o quê? – perguntei.
– Ok! – disse e, do nada, sua aparência mudou, a pele de Joui se tornou acizentada, seus olhos ficaram completamente pretos, apareceram duas faixas pretas na lateral dos olhos e suas orelhas se tornaram pontudas.
– Thiago, olha o nosso menino – disse Liz sorrindo. – Olha como ele tá!
Thiago arregalou os olhos.
– Rapaziada, eu não sei se gostei muito disso, não...
– Nem eu – disse Cesar.
– Que porra é isso? – disse eu.
– Tudo bem, posso ficar assim – Joui voltou ao normal.
– Que incrível! – vi Beatrice descendo as escadas com Orpheu a seu lado. – Me ensina a fazer isso também?
– Não! Não ensina – disse Dante correndo atrás dela. – Como isso aconteceu?
– Ok, eu não estou gostando nada disso – disse Cesar. – Joui, isso não parece ser um bom sinal.
Puxei Dante para perto de mim.
– Lembra da sua teoria de que esse lugar consome as pessoas aos poucos? – perguntei. – Acho que você está certo.
– Relaxa, gente, tá tudo bem – disse Joui.
– Tá tudo bem? – disse Cesar. – Você tá cinza, como isso é estar bem?
Vi o Hoteleiro sair de uma porta atrás do balcão.
– Bom dia – disse ele sorridente. – Dormiram bem?
– Não – disse Dante.
– Foi a pior noite da minha vida – respondi sinceramente.
– Joui – Cesar ignorou a existência do Hoteleiro e continuou conversando com o asiático. – É sério, não faz mais isso.
– Mas é muito legal – disse Joui.
– Não é não – disse Cesar.
– Olha minha orelha – Joui se transformou e destransformou – Parece de elfo.
– Deuses... – Cesar colocou a mão no rosto – nossa senhora... qualquer entidade, porque justo com ele?
Ele começou a resmungar em grego.
– Por Hades... – disse o Hoteleiro sonolento. – Tá tudo certo com vocês?
– Eu tive um sonho... peculiar – disse Beatrice.
– Eu também tive um sonho estranho – o Hoteleiro olhou na direção dos quadros.
A penúltima pintura, o pai do Hoteleiro, estava com um buraco no meio, pelas marcações, parecia ter sido feito por um soco.
Hoteleiro segurou um livro com várias páginas rasgadas.
– Eu tive um pesadelo – disse Cesar. – Mas isso que o Joui mostrou é bem pior.
– Olha só, senhor Hoteleiro – Joui se transformou e destransformou novamente.
– Para! – disse Cesar.
– Cesinha, você tá exagerando, ele consegue mudar de forma sozinho, é muito legal – disse Liz.
– Por Hades, onde isso é legal? – Cesar estava muito preocupado.
– Fala que é legal, cacete – ela olhou de canto de olho para o Hoteleiro.
Entendi o que eles estavam fazendo, disfarçando para que os luzidios não desconfiassem de nós. Como havíamos combinado no dia anterior, como me esqueci disso?
– Caramba, você já tá conseguiu se transformar, que cedo – Hoteleiro apoiou seus cotovelos no balcão. – Mas não se preocupem, daqui a alguns dias vocês também vão conseguir.
– Ah, que notícia maravilhosa – disse Cesar em um tom irônico.
– Olha só – Hoteleiro se destransformou, sua aparência agora era de um humano comum. – Eu não consigo ficar muito tempo assim porque acho estranho, já que eu cresci como um luzídio.
Ele voltou a sua forma cinzenta.
– Joui, você se sente diferente quando faz aquele negócio? – perguntei.
– Não – disse ele.
– Se transforma em luzídio de novo – pediu Dante.
Joui se transformou. Dante pareceu o analisá-lo, ele aproximou suas mãos do rosto do asiático.
– Posso verificar uma coisa? – perguntou.
– Claro – Joui deu de ombros.
Dante passou as mãos pelas marcações pretas do rosto dele e pelas orelhas.
– Parece tudo normal – disse Dante se afastando. –, continua desse jeito.
Ele pegou o grimório de dentro da sua mochila e fechou os olhos, quando os abriu novamente estavam completamente amarelos.
– É, pura magia isso daí – confirmou Dante. – Se destransforma.
Joui voltou ao normal.
– Não vejo mais nada... – os olhos do loiro pararam de brilhar.
– Desde quando você sabe fazer isso? – perguntou Liz.
– É um ritual que me permite detectar qualquer tipo de magia – explicou Dante.
– Você teria visto ele usando se tivesse entrado no labirinto com a gente – disse eu.
– Arthur-San, shhh – disse Joui. – A gente fala sobre isso depois.
– É normal do Dante querer esconder informações importantes... – disse Beatrice meio baixo.
– Ah, acho que tem coisa que devem continuar sendo secretas – tentei defender Dante.
– Você contou para ele, mas não quer contar para sua própria irmã, entendi – concluiu Beatrice. – O que ele te falou?
Ela parecia desesperada por qualquer informação.
– Desculpa Bea, eu não posso... – comecei.
– Arthur, por favor, se você sabe de qualquer coisa sobre meu passado, eu preciso saber – pediu ela.
– Eu realmente não posso, jurei pelo Rio Estige que não iria contar para ninguém – disse eu.
– Sem querer me intromenter, mas será que vocês podem deixar o casos de família para depois? – disse Thiago. – Temos mais assuntos para resolver agora.
– Seu Hoteleiro, foi você quem fez isso daqui? – perguntou Cesar apontando para o quadro destruído.
– Foi – o Hoteleiro ficou cabisbaixo – Meu pai era um homem que eu respeitava muito, ele quem me ensinou tudo o que eu sei, mas eu sonhei com algumas coisas que me fizeram encontrar algo aí dentro que eu nunca imaginei que pudesse ser verdade.
– O que aconteceu? – perguntou Liz.
– Aparentemente, meu pai era um monstro, mas não como esses normais de Santo Berço, ele era um monstro que criava outros monstros – contou o Hoteleiro. – Ele fazia experimentos com os animais e criaturas para tentar criar coisas novas. Um dos monstros que ele criou parece se alimentar de culpa nos sonhos.
Ele nos mostrou o livro que segurava, era um diário.
– E como se não bastasse tudo isso, um deus pareceu bem interessado desse monstro em específico...
– Qual deus? – perguntei.
– Morfeu – disse o Hoteleiro.
– O deus dos sonhos... até que faz sentido, mas para que ele queria o monstro? – perguntou Liz.
– Não sei, mas pelo que eu li, meu pai deu de presente para ele a criatura – contou Hoteleiro.
– Então, se esse parasita controlou nosso sonho, Morfeu está envolvido nisso? – perguntou Thiago.
– Eu não sei, provavelmente – Hoteleiro parecia abalado. – e como assim nosso sonho?
– Eu tive esse sonho também – disse Cesar.
– E eu também – disse Joui.
– Eu, Dante e Beatrice também – disse eu.
– É, aquela foi a definição de surto coletivo – disse Thiago.
– Tenho que concordar – disse Liz.
– Eu lembro de ter visto uma gosma preta estranha, aí o Arthur morreu e minha mãe tava lá... – contou Cesar.
– Sim, o Arthur morreu no sonho! – disse Liz. – E eu também.
– Eu não tive esse mesmo sonho – disse o Hoteleiro. – Acho que tinha mais de um deles.
– Pessoal, e se o nosso parasita na verdade era o Morfeu? – teorizou Liz. – Uma manifestação dele pelo menos, ele é um transmorfo e quando a questão é sonhos, poderia se transformar em qualquer coisa, inclusive o Hoteleiro.
– Mas porque ele faria isso? – perguntou Dante.
– Eu não sei – disse Liz.
– Os deuses não estavam atrás da gente? – perguntou Joui apreensivo.
– Os Olimpianos sim – disse Liz.
– O Ferreiro nos disse que os deuses estão tomando partido na guerra... de qual lado vocês acham que está Morfeu? – perguntou Joui.
– Não sei dizer... – disse Liz. – Mas considerando o que passamos, no nosso não é.
– Hipnos é pai do Morfeu, né? – perguntou Cesar.
– Sim, e o que tem? – perguntou Liz.
– Hipnos, é filho de Nix e irmão de Tânatos – disse Cesar. – Suponho que os dois estejam do lado no meu pai, acha que ele os trairia?
– Já me perdi – disse eu. – Explica com mais calma.
– Tânatos é a personificação da morte, ele trabalha diretamente com Hades. Nix, a noite, é mãe do Hipnos, deus do sono, que é pai do Morfeu – Liz falou lentamente.
– E o que tudo isso tem haver com a gente? – perguntou Beatrice.
– Não faz o menor sentido Morfeu ir para o lado de Zeus ou Poseidon... – disse Cesar.
– E eu lá vou saber o que os deuses pensam? – disse Thiago. – Eles já não batem tão bem assim da cabeça, vivem se traindo em todos os sentidos da palavra, só fazem o que os favorece, não importa se é ou não família.
Ficamos em silêncio por um tempo.
– Porque vocês acham que nossos pais nos mandam para missões mortais ao invés deles resolverem os próprios problemas sem guerra? – perguntou Thiago. – É óbvio que eles não estão nem aí se vamos morrer ou não.
– Thiago-Sensei... – disse Joui.
– Eu não duvido nem um pouco que Morfeu faria isso – concluiu Thiago. – Ele devia estar tentando nos enlouquecer.
– Será que a profecia está se referindo a deuses traidores? – teorizou Joui. – "E da fúria dos traidores, os marcados se revelarão"
– Não sei – disse Liz pegando seu caderninho de anotações. – Vamos revê-la.
– "Do começo de sua jornada retornará" – disse Cesar. – A Nostradamos, já foi.
– "Do susurrador o desespero ganhará" – disse Joui. – Eu ainda não faço a menor ideia do que significa.
– "O desconjurador e a diplomata ao seu lado caminharão" – disse eu. – Bea e Dante, agora o porquê desses nomes eu não sei.
– A Hécate falou sobre a desconjuração – disse Liz. – e no bilhete de Álvaro também.
– Que bilhete? – perguntou Beatrice. – O que é a desconjuração?
– Não sabemos – disse Liz.
– Dante? – notei a inquietação do loiro. – Tá tudo bem?
Ele negou com a cabeça.
– Eu já ouvi falar muito sobre a desconjuração, os marcados...
– O... ele te falou sobre isso? – perguntei.
Ele respondeu que sim.
– Ele disse que eu e a Bea nos tornariamos marcados.
– Nosso pai que disse isso? – perguntou Beatrice. – Se você nos contar o que sabe, vai ajudar a missão, não somente eu.
– Ela tem razão – disse Liz. – O que você sabe sobre a desconjuração, Dante?
– Gente, para de precionar ele, não é um assunto fácil... – fui interrompido por Liz.
– Eu não gosto de falar muitas coisas sobre mim, mas se estivesse no lugar dele, contaria sem pensar duas vezes. – dise ela.
– Por Hades, eu não sabia que a situação estava tão ruim assim... – disse o Hoteleiro preocupado.
Tínhamos esquecido completamente que o luzídio ainda estava nos escutando.
Nos entreolhamos. Teríamos que continuar discutindo em outro lugar.
– Desculpa estar me intrometendo, mas se quiserem ficar com o diário do meu pai, fiquem a vontade, eu não quero mais ver isso – disse o Hoteleiro. – Se estiverem com fome, todos vão para a Taverna durante os horários de refeição, eu vou ir para lá agora, encontro vocês depois.
Hoteleiro saiu de trás do balcão e foi em direção a grande porta da frente já aberta e seguiu para fora.
– Gente, nós não sabemos se teremos outra oportunidade de ficarmos sozinhos tão cedo – Liz pegou o caderno no balcão. – Vamos ler o diário antes de sair.
_________________________________________Oi gracinhas, tudo bem com vocês?
Qual vocês acham que é a verdade por trás do parasita de sonhos? Eu estou muito empolgada para continuar escrevendo sobre a família Galen e a história que os envolve, talvez vocês já tenham entendido grande parte do arco mesmo sem Dante ter contato tudo, eu me acho meio previsível as vezes.
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O Segredo No Acampamento
Fiksi PenggemarDeuses são reais. Todas as criaturas mitológicas são protegidas aos olhos mortais através da Névoa, porém, tudo tem suas brechas: semideuses, os descentes meio mortais dos deuses gregos. Seres extremamente poderosos e ao mesmo tempo tão vulneráveis...