Confesso que estava um pouco impacientemente para continuarmos logo, quanto mais rápido fossemos, mais rápido sairíamos daquele lugar. O senhor tentava nos contar os acontecimentos de sua missão, mas não conseguia se lembrar com clareza e juntando o fato de que parecia ansioso para sair de sua prisão o quanto antes, não iríamos conseguir muitas informações de imediato.
– Eu nunca achei que Cariad seria capaz de matar alguém, ele presava tanto em proteger o acampamento... – disse Kenan. – Mas agora, o que mais importa para ele é proteger esse lugar.
Ele fez uma careta enquanto olhava a sua volta.
– Como assim? – perguntou Liz.
– Suponho que você se lembre de como ele colocava a família e os amigos acima de tudo – disse Kenan.
– Estou me referindo a Santo Berço – explicou Liz. – Como assim ele quer proteger esse lugar?
Kenan abaixou a cabeça novamente, não parecia nem tentar se esforçar para lembrar, devia ser um assunto muito delicado.
– Kenan, eu sei que é difícil, mas precisamos de você – disse Liz. – Queremos destruir Santo Berço, por isso entramos aqui, nos ajude.
O senhor suspirou e ergueu a cabeça para olhar a irmã.
– Cariad se foi, aquele não é o meu amigo, ele se foi no momento em que decidiu trair o acampamento – disse Kenan. – Um dia depois de termos achado Santo Berço, eu e Mariana saimos para investigar os arredores, ele decidiu ficar... não estivermos fora nem por duas horas, mas quando retornamos, Miguel afirmou que havíam sido duas semanas.
Liz colocou a mão no ombro do meio-irmão e balançou a cabeça positivamente, o incentivando a prosseguir.
– Ele nos mostrou e contou tudo que sei sobre Santo Berço e... bom, vocês sabem como Cariad era... não podia ver alguém da idade dele que já dava encima da pessoa, ele começou a namorar com a Ferreira durante o tempo que ficamos fora.
– Ferreira? – perguntou Thiago. – Essa... é a mãe do Porteiro.
Minha mente começou a conectar as pontas soltas, se a Ferreira é a mãe do Porteiro e se o Cariad namorava com ela isso quer dizer...
– Senhor Kenan – disse meio apressado em contar minha descoberta. – O Cariad é o Ferreiro, não é?
Kenan arregalou os olhos e arqueou as sobrancelhas em surpresa, depois abriu um sorriso.
– Você é esperto, garoto – afirmou. – Gostei de você.
– Obrigado – agradeci.
– Então, isso é verdade? – perguntou Arthur.
– Sim – disse Kenan. – Ele nos traiu para proteger a nova família dele, matou a Mariana para defender a Ferreira. Podemos ir embora agora?
– Era óbvio! – disse Liz. – Como eu não tinha percebido isso antes?
– Liz, nós já conversamos sobre isso – repreendeu Thiago. – Para de se culpar toda vez que você não descobre algo de cara, você não é uma máquina de investigação.
– Podemos ir embora? – Kenan perguntou outra vez.
– Daqui a pouco – disse Liz. – Mas antes, precisamos fazer uma visitinha ao pai do Cesar.
– Hum... – Kenan resmungou. – Quem é o pai do Cesar?
– Hades – disse Liz. – O Porteiro no contou sobre um entrada para o mundo Inferior aqui dentro.
– Ah, quem é o Cesar? – perguntou Kenan.
– Eu – ele não o olhou nos olhos enquanto se pronunciava.
Kenan encarou o cabeludo, como se estivesse o analisando.
– Faz sentido, ele é emo – concluiu o senhor.
Cesar fechou mais ainda a cara.
Mordi meu lábio inferior na tentativa de segurar a risada.
– Você não ouse rir – disse Cesar emburrado.
Meu sorriso se alargou mais ainda, poderia ser coisa da minha cabeça, mas achei que ele ficou muito bonitinho irritado.
– Quer parar de me olhar desse jeito? – as bochechas de Cesar tomaram uma coloração avermelhada bem evidente pelo contraste que fazia com sua pele pálida.
– Que jeito? – quando nossos olhos se encontraram, percebi que estava o encarando a mais tempo do que deveria.
Desviei o olhar, parecia que meu coração iria sair de dentro na minha caixa torácica a qualquer momento de tão acelerado.
– Tá, chega vocês dois – disse Liz. – Vamos sair logo daqui, não é bom ficamos no mesmo lugar por tanto tempo.
– Liz-Sempai tem razão – me afastei um pouco. – Cesar-Kun, você consegue continuar nos guiando?
– Sim – disse Cesar com o rosto ainda estava ruborizado.
– Preparado para ir, Kenan? – perguntou Thiago.
– Eu estive esperando isso por anos – o senhor saiu sorridente.
Me assustei quando notei que Kenan tinha pequenos espasmos aleatoriamente. Ele claramente não era a pessoa mais sã do mundo, mas também, quem não ficaria mentalmente estável se estivesse trancado em uma sala branca por muito tempo?
– Liz-Sempai – chamaria a garota antes que ela se retirasse da cela.
– Hum? – disse Liz.
– Você acha uma boa ideia o Kenan ir ao Mundo Inferior conosco? – perguntei.
– Não podemos deixar ele sozinho, Joui – respondeu Liz.
– Eu sei mas e se tivermos que lutar? Ele pode acabar se machucando – disse preocupado.
– Se isso acontecer, o tiramos de perto, eu também não acho que vai dar certo deixar ele lutar naquele estado – disse ela.
Concordei com seu plano e finalmente saímos da sala. Liz fechou a porta antes de prosseguimos.
– Vocês acham que deveríamos abrir as outras celas? – perguntou Beatrice. – Se abrimos uma e encontramos Kenan, o que garante que não tem outras pessoas de refém aqui?
– Você não está totalmente errada, menina – disse Kenan. – Aqui é onde os Mananciais ficam. Eu mesmo estava servindo de Manancial para alimentar o santo, isso até vocês chegarem, é claro.
– Por isso o Ferreiro te prendeu aqui? – perguntou Arthur. – Para você ser um Manancial?
– É – disse Kenan. – Nós praticamente somos conectados com o símbolo.
– O símbolo em espiral? – perguntou Liz.
– Uhum – disse Kenan. – Eu me sinto estranho quando fico longe dele.
– Kenan, você acha que deveríamos libertar os Mananciais? – perguntou Thiago.
– Não sei se é uma boa ideia, não – disse Kenan de forma despreocupada. – Aqueles carinhas nunca viram a luz do dia.
– Como assim? – perguntei.
– Até onde eu sei, eles nasceram aqui – respondeu Kenan.
Me lembrei do que o Porteiro nos disse: Ele nasceu em Santo Berço e foi um Manancial, só saiu da cela por compaixão de sua mãe.
Decidimos continuar indo em frente. Coloquei meu ouvido em uma das portas na tentativa de ouvir algo. Nada. Era de se esperar pela grossura das paredes.
Quando mais andávamos, mais a caverna se tornava escura (se é que isso era possível), o chão foi tomando uma coloração acinzentada.
Pulei para o lado ao ver uma espécie de tentáculo, feito da mesma coisa que estava nas paredes, sair de uma pedra.
Me juntei a Cesar e Arthur na frente mas a situação era pior ainda por lá, o lodo nas paredes parecia pulsar jundo com a batida de coração que escutávamos.
– Cesar, sem querer te questionar mas tu tem certeza que é por aqui? – perguntou Arthur.
– Sim – ele abraçou o próprio corpo na tentativa de se aquecer.
O vento gélido batia com força contra nós.
– Caramba, que pedra legal! – Kenan esticou o braço em direção a um dos tentáculos pretos.
– Não! – Liz deu um tapa em sua mão antes que ele pudesse encostar. – Não toca nisso.
– Aí! – reclamou o senhor.
Chegamos a mais uma bifurcação. Cesar foi pela direita sem nem pensar.
As paredes estreitas se alargaram um pouco, soltei um suspiro de alívio.
– Pelo amor dos deuses, quantos caminhos tem nesse lugar? – reclamou Arthur ao ver outra bifurcação mais a frente.
– Kenan-Sama, o senhor se lembra se tinha tantas dessas coisas nas paredes e no chão quando esteve aqui pela primeira vez? – perguntei a ele.
– Tu me chamou de que? – Kenan fez uma careta.
– Sama, senhor – disse eu. – É um jeito de demostrar respeito.
– Ok, só tira a parte do senhor, eu não sou velho – disse Kenan – Respondendo sua pergunta, lembro sim.
Ele parou de falar e contou andando.
– O sen... você poderia nos contar o que lembra? – perguntei.
– Ah, claro – disse ele. – Teve uma hora em que eu acendi meu molotov, aí esses trequinhos na parede não ficaram muito felizes.
– Você usou um molotov aqui dentro? – perguntou Dante.
– Eu tentei, no caso – disse Kenan frustrado. – tinha vários explosivos na minha mochila, devo der deixado ela por aqui em algum lugar...
– Tá explicado – disse Thiago. – Santo Berço não gosta de fogo.
– Nem de semideuses – disse Beatrice. – Só foi entrarmos no labirinto que deu merda.
– Verdade – concordou Thiago.
– Gente – chamou Arthur. – Olhem só isso.
Ele apontou a lanterna em direção a parede. O lodo agora formava ondas que seguiam até os túneis escuros ainda não explorados, elas ficaram cada vez mais lentas, até que uma bolha surgiu. O lodo começou a tomar forma: uma mão, que virarão duas e se transformaram em braços, logo pude ver o que parecia ser uma pessoa feita de lodo saindo da parede.
– Isso não é bom – Cesar escolheu o caminho da esquerda. – Vamos. Rápido.
Ninguém questionou mas, assim que fizemos a curva, percebi mais bifurcações.
– Deuses, não acaba nunca – reclamou Thiago.
– Estamos perto – disse Cesar.
– Tu tá dizendo isso a uns trinta minutos, meu querido – disse Thiago.
– Cala boca e corre – respondeu Cesar.
Depois da terceira curva (ou seria a quarta?) vi mais uma bolha de lodo se formar.
– Beatrice-San, cuidado! – alertei.
Ela conseguiu desviar para o lado antes que aquele braço gosmento conseguisse a agarrar. Thiago arrancou a mão da criatura com a espada enquanto passava.
– O que são essas coisas? – perguntou Arthur.
– Vivos eles não estão – afirmou Cesar. – Parecem uma espécie de zumbi.
– Ah, que incrível – disse Thiago em um tom irônico. – Nerdinho, tu não tem um ritual para se livrar desses bichos para a gente, não?
– Ou eu corro, ou eu pego meu livro – disse Dante.
– Tu não pode fazer os dois? – disse Thiago.
– Eu preciso me concentrar em um símbolo para conseguir fazer qualquer ritual de ataque – disse Dante. – Até lá, esse monstros já nos alcançaram.
Continuavamos seguindo cada vez mais fundo para dentro da caverna. Parecia que estávamos em um novo labirinto, eram muitos caminhos, só não havíamos nos perdido por conta de Cesar.
Olhei para trás para verificar se todos estavam bem (para que eu fui fazer isso?) logo notei que haviam no mínimo dez monstros de lodo se rastejando e tentando nos alcançar. Quando foi que esses bichos se materializaram?
Acabei trombando com Cesar, nem percebi que ele havia parado.
– Cesar-Kun, tá tudo bem? – perguntei preocupado ao ver sua expressão assustada.
– Eu tô bem – disse ele. – Só... esteja preparado.
– Tá muito ruim a situação? – perguntou Arthur.
– Não vai ser a coisa mais agradável do mundo estar no Mundo Inferior – disse Cesar.
– Mas pelo menos lá vamos estar seguros – disse Liz. – Já que Hades está do nosso lado.
– Por onde agora, Cesinha? – perguntou Thiago.
– De preferência, vai rápido – disse Kenan.
Conseguia ouvir os monstros se aproximando atrás de nós.
Cesar inspirou fundo.
– Deixem eu me livrar dos zumbis primeiro – disse ele. – Para que isso não vire um problema maior.
– Sozinho? – perguntou Dante.
Cesar voltou alguns passos para trás, de forma que ele ficasse um pouco a frente do grupo.
– Eu sou filho do deus dos mortos – disse ele. – Qualquer coisa abaixo da terra e sem vida, consigo controlar parcialmente.
Me lembrei no nosso primeiro Captura a Bandeira e sorri já sabendo o que viria a seguir.
Ele ajoelhou e encostou uma se suas mãos no chão. A terra acinzentada e lamacenta começou a rachar, logo, criou uma pequena fenda que se abriu até se tornar um fundo buraco.
– Eles não vão conseguir saltar – disse Cesar convicto – Mal conseguem andar.
Dante ajeitou seus óculos e piscou algumas vezes.
– Por essa eu não esperava – disse o loiro.
– Nem eu – disse Beatrice.
– Que legal! Como é que você faz isso? – perguntou Kenan.
– Fazendo – disse Cesar. – Para a direita.
Entramos no túnel escuro. Mal dava para enchergar de tanta Névoa contida, o que poderia ser perigoso com todos os tentáculos de lodo a nossa volta, eles não eram mais pequenos, tinham praticamente o tamanho de um braço humano. Eles reagiam a nossa presença, se esticando e tentando nos alcançar.
Segurei firmemente minha espada.
O batimento de coração não soava mais das paredes, parecia vir de algum lugar na direção em que seguiamos. Os tentáculos se engrossaram ao ponto de ficarem com a grossura de troncos de árvores.
Chegamos a última curva, não existia outro caminho não ser seguir pela esquerda. No final do corredor, havia uma escada de pedra, me aproximei para tentar ver aonde parava. Com a escuridão e a Névoa, era impossível em enxergar qualquer coisa.
– Fiquem todos juntos – Cesar tomou a frente.
– Cesar, espera – disse sem pensar.
– O que foi? – ele se virou para mim.
– Eu vou com você na frente – disse eu.
Preferia estar do lado dele, caso algo acontecesse, ele estaria desprotegido indo sozinho. Cesar é muito forte, aquela fenda na terra só foi uma pequena demonstração do que ele é capaz, mas mesmo assim, não conseguia deixar essa necessidade de protegê-lo de lado.
Desci a escadaria com cautela, o lodo nas paredes pareciam pulsar conforme a batida de coração, que soava cada vez mais alto.
Chegando lá embaixo, nos deparamos com uma enorme entrada, completamente coberta por tentáculos e lodo, ao contrário do resto da caverna, essa área não era escura, uma forte luz vermelha era gerada por um símbolo em espiral (deveria ter no mínimo dez metros de comprimento) e, acima dele, uma espécie de organismo gigante, completamente asqueroso, pulsava como um coração, ele era suspenso pelo próprio lodo que se movia conforme a batida. No centro dessa aberração, havia um ponto que originava a espiral.
– Gente, vocês está vendo isso também? – Cesar segurou em meu braço.
– Infelizmente – respondi.
Senti uma estranha necessidade de voltar a minha forma de luzídio mas resisti a essa vontade.
Era como se a morte emanaçe daquele monstro. Olhei para trás para verificar como os outros estavam.
Kenan estava congelado, olhava fixamente para o monstro a frente com os olhos arregalados e o queixo caído.
– O... que é isso? – gaguejou Arthur.
– O Parasita. – ouvi Liz dizer. – encontramos ele.
– Nunca tinha visto um chegar a esse tamanho – Dante parecia imprecionado, mas não surpreso.
– Você... já viu essa... coisa? – Beatrice perguntou ao irmão dando alguns passos para trás.
– Gente foco, essa informação não é importante no momento – disse Thiago. – Para onde agora, Cesinha?
– Eu não sei o que fazer... – disse Cesar com a voz trêmula.
– Ei, olha para mim – tentei acalmá-lo. – esquece do monstro.
Assim que ele se virou para mim o abracei.
– Estamos aqui com você, nós somos uma equipe – continuei.
– Joui está certo, vai ficar tudo bem – Arthur se juntou ao abraço. – Nós vamos encontrar uma saída juntos.
Cesar não era muito fã de abraços mas quando era comigo e Arthur ele não parecia se importar.
– Sim – Dante acariciou os cabelos da irmã.
– Kenan, pronto para ir ao Mundo Inferior? – Thiago apertou o ombro do senhor.
– Sim – Kenan pareceu ter um momento de lucidez – irei honrar a memória de Cariad e Mariana, vou terminar o que começamos.
– Nós temos que fazer dar certo, – disse Liz. – Então, se recomponham, vamos pensar com calma.
– Ok, mas eu ainda não seu o que devemos fazer – Cesar desfez nosso abraço – Eu só... segui e estamos aqui, não sei explicar direito mas foi quase como um sentimento, como se alguém estivesse me ajudando, mas não, era eu.
– Era... como se você estivesse sendo chamado? – perguntou Dante. – Uma necessidade de saber o que está o aguardando.
– Como você sabe? – Cesar se aproximou do loiro.
– Isso é o Mundo Inferior te chamando de certa maneira, ou uma entidade muito provavelmente relacionada a morte... – contou Dante. – Acho que Hades está te ajudando.
– Então, meu pai está me chamando? – Cesar não pareceu acreditar na teoria de Dante.
– Basicamente, se ele te guiou até esse lugar é porque estamos no lugar certo – disse Dante. – A membrana aqui dentro é muito fraca, não consegue sentir?
Cesar não respondeu.
– Quanto mais fraca a membrana está, mais forte é a conexão daquele lugar com o Mundo Inferior – disse Dante. – E Santo Berço é claramente conectado com a Morte.
– Eu...consigo sentir – contou Cesar. – e é muito estranho.
– Eu sei – disse Dante. – Você se acostuma com o tempo.
– Mas porque você consegue sentir também? – Cesar perguntou.
– Eu não entendia muito bem antes mas creio que seja por conta de minha mãe – disse Dante. – Eu sou um feiticeiro de Hécate.
– Mas... eu não sinto nada – disse Beatrice enquanto acariciava Orpheu. – Eu sou sua irmã, deveria conseguir também, não?
– Você tem razão, eu preciso estudar mais para entender melhor – disse Dante.
– Parem! – ouvi uma voz familiar e nem um pouco agradável gritar. – Eu não posso deixar vocês fazerem isso!
Uma silhueta enorme e cinza com os cabelos grisalhos andava em nossa direção. O Ferreiro havia nos encontrado.
– Vocês tem noção do que estão fazendo? – ele gritava enfurecido. – Eu já sei o porquê vocês estão aqui!
– E a gente sabe que é você, Miguel – retrucou Liz sacando suas foices.
– Os objetivos dos semideuses são salvar a vida das pessoas e destruir os monstros! – ele não deu ouvidos a garota. – Vocês não conseguem entender que vão ser assassinos se fizerem isso?
– Seu filho estava feliz? – perguntei ao Ferreiro.
– O Porteiro nunca deveria ter sido tirado da caverna – disse ele. – Os Mananciais não sofrem, ele só estava infeliz porque foi tirado de perto do símbolo.
– Eu não me lembro de ter ficado feliz quando você me jogou dentro daquela cela branca, Cariad – Kenan se pronunciou.
– O Porteiro não é só um Manancial, ele é seu filho – disse Arthur.
– Ele sustentava esse lugar junto com todos os outros Mananciais! – disse o Ferreiro. – Vocês não estão aqui para salvar vidas e impedir a guerra? Se destruirem Santo Berço, iram matar dezenas de inocentes, pensem em como todos são felizes aqui!
– É uma felicidade falsa – disse Cesar. – Os deuses queriam destruir essa cidade por um motivo.
– Nós já sabemos quem roubou a Máscara do Desespero – disse Dante. – Podemos impedir a guerra, não queríamos que chegasse a esse ponto, nem sabemos o que acontecerá com Santo Berço.
– Nemesis cumpre seus acordos – algumas lágrimas escorreram pelo rosto de Ferreiro. – Ela irá destruir todos nós, por favor, repensem isso.
– Não tem outro jeito, se a guerra não for impedida, Santo Berço sofrerá da mesma maneira – disse Dante.
– Sempre tem outro jeito de se resolver as coisas – disse Ferreiro.
– Nem sempre... – Dante olhou para Beatrice. – as vezes você é obrigado a fazer coisas de que não se orgulha para proteger aqueles que ama.
– Eu te entende, Dante – afirmou Ferreiro. – É só isso que estou tentando fazer, eu quero proteger minha família.
– Não estou dizendo que é uma escolha fácil ceder a desconhecidos o destino de sua casa – disse o loiro. – Cada um decide lutar pelas batalhas que considera valer a pena.
– O que você está fazendo? – perguntou Liz enquanto segurava suas armas na frente do peito.
– Conversando? – ele respondeu como se fosse uma resposta óbvia. – Senhor Ferreiro, eu não o condeno por ter feito tudo o que fez, mas não tem como negar que é uma luta perdida.
– Não! Não pode acabar assim! – Ferreiro se negou.
– Eu realmente sinto muito – disse Dante. – mas eu te prometo que faremos de tudo para que Santo Berço seja poupado, certo pessoal?
– Sim! – Thiago se aproximou do luzídio. – Iremos conversar com Hades, pediremos para ele proteger Santo Berço.
A expressão fechada de Ferreiro se transformou completamente.
– Vocês... podem fazer isso?
– Mas é claro, meu querido – Thiago havia suavizado a voz, claramente usando seu chame. – Nós faremos de tudo para salvar a cidade.
Dante se virou para trás, ele me encarou seriamente e seus lábios formaram uma frase silenciosamente "Encontrem uma saída".
Assenti positivamente, Dante fez o mesmo gesto e voltou a falar com o Ferreiro junto de Thiago.
Meu coração acelerou por conta do meu nervosismo. Tínhamos que ir rápido, Ferreiro não compraria a ideia deles para sempre. Corri até Liz, Beatrice e Kenan, os tirei de perto da saída, voltado onde Cesar e Arthur estavam.
– Nós precisamos ir, agora – disse preocupado.
– Para onde? – perguntou Beatrice.
– Cesinha – disse Liz. – Assume aí, meu querido.
– O que? – ele estava distraído olhando os arredores.
– Você é o filho de Hades, assuma a liderança – disse Liz. – Consegue ver alguma coisa diferente aqui?
– É isso que eu estou tentando fazer – disse Cesar. – Tem muita coisa aqui...
Ele parou a frase no meio, seu olhar focou em um ponto em específico atrás de mim.
– Cesar? – chamou Arthur. – Tá tudo bem?
– É isso – disse Cesar. – A gente não tem que procurar nada.
– Como assim? – perguntou Kenan.
– Nós já estamos em uma entrada para o Mundo Inferior – disse Cesar. – Olhem.
Nós viramos para a direção em que Cesar olhava, vi os tentáculos de lodo pulsando fortemente.
– Não vejo nada de mais – disse Liz.
– Sim mas... alguma coisa parece querer que eu vá para para aquela direção – Cesar começou a caminhar. – Venham comigo.
– A gente pode confiar mesmo no emo? – perguntou Kenan a Liz. – Ele não bate muito bem da cabeça.
Liz o ignorou e continuou andando.
– Aqui – Cesar parou em frente a parede.
– E agora? – perguntei.
– Não briguem comigo – Cesar aproximou a mão dos tentáculos.
– Não! – Liz bateu na mão de Cesar.
– Aí! O que eu acabei de falar, porra? – resmungou ele.
– Eu não vou deixar você tocar nessa coisa! – disse Liz.
– Liz-Sempai, fala baixo – disse eu.
– É, você vai acabar chamando a atenção do Ferreiro – disse Arthur.
Ela bufou.
– Faz o que tu quiser então, mas depois não diga que eu não avisei.
Cesar deu de ombros e encostou em um dos tentáculos, já estava pronto para ajudá-lo se precisasse, mas o lodo fugiu de onde Cesar havia encostado, logo, conseguimos ver uma boa área do que havia atrás deles: uma porta de pedra selada no meio com várias espirais entalhadas.
– Mas que porra é essa? – disse Liz.
– Nossa saída – disse Cesar.
– Temos que ser rápidos – disse eu. – Você sabe como abrir isso, Cesar-Kun?
– Sim – ele afirmou.
– Vai em frente – disse eu.
Somente Cesar ter encostado na porta foi o suficiente para fazer as espirais acenderem em vermelho e a porta começar a se dividir, saia tanta Névoa do local que tive certeza que não conseguiríamos enxergar nada lá dentro.
– Dante, Thiago! – os chamei – Vamos!
Os dois saíram correndo em nossa direção deixando um Ferreiro muito confuso pelo charme de Afrodite para trás.
– Até que tu é bom de persuasão, nerdinho – disse Thiago.
– Espero que o pouco que aprendi sobre esse tipo de feitiço tenha ajudado – disse Dante.
– Ajudou pra cacete – disse Thiago. – Rapaz, como é que vocês acharam essa porta?
– Não faço ideia, pergunta pro Cesar – disse Arthur.
– Depois eu explico – disse Cesar. – Só entra nessa merda logo.
Assim que pisei dentro do local, percebi que eram degraus descendo para a escuridão. A porta se fechou assim que entramos.
– Eu não vou permitir que ele nos siga – disse Cesar.
A escadaria além de ingrime e escorregadia, parecia que não ia acabar nunca, me senti como se estivessem os voltado para a infinidade de bifurcações dentro da caverna, depois do que pareceu ser uma eternidade, desembocamos um lugar escuro e amplo, aos poucos, a Névoa foi se dissipando.
Olhei ao redor, inúmeras pessoas estavam aglomeradas no que parecia ser um campo aberto sussurrando enquanto vagavam pelas sombras, a grama era preta, assim como as árvores, ainda pude fez uma fina camada de Névoa quase grudado ao gramado. O teto era tão alto que poderia ser confundido facilmente com nuvens de tempestade, se não fosse pelas estalactites cinzas e pontudas.
– Merda... – ouvi Liz resmungar.
– Onde estamos? – perguntei.
– Estamos nos Campos de Asfódelos – Cesar respondeu.
_________________________________________Agora acabaram os capítulos que prometi postar hoje <3
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O Segredo No Acampamento
FanfictionDeuses são reais. Todas as criaturas mitológicas são protegidas aos olhos mortais através da Névoa, porém, tudo tem suas brechas: semideuses, os descentes meio mortais dos deuses gregos. Seres extremamente poderosos e ao mesmo tempo tão vulneráveis...