Joui - Mensagem de Íris

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Liz pegou o diário de trás do balcão, nós teríamos que lê-lo antes de sair para a cidade.
Nos sentamos nas poltronas do saguão.
- Posso ler? - perguntou Liz.
- Vai em frente, minha querida - disse Thiago.
Liz abriu na primeira página.
- "Os semideuses que estavam ficando aqui no hotel entraram no labirinto e nunca mais voltaram. A Ferreira e o Ajudante entraram no labirinto para ver se achavam eles, mesmo que as chances fossem extremamente baixas de encontrá-los lá dentro" - disse Liz. - " Provavelmente ficaram tempo demais lá dentro quando a noite começou e foram mortos pelas criaturas, ou algo assim. Impossível terem chegado no centro. Eles nem eram luzidios ainda... isso talvez explique os barulhos e o fogo durante a madrugada"
- Semideuses? - disse Thiago. - Vieram semideuses antes de nós aqui?
- Faz sentido, nossas missões podem dar em lugares que nunca esperamos - disse Liz.
- Mas olha o aspecto desse diário - disse eu. - Parece ser antigo.
O caderno tinha várias manchas amarelas pelas folhas e capa, além da camada de poeira.
- O Acampamento Meio-Sangue existe a milênios - disse Liz. - Pode ter sido qualquer uma dessas milhões de equipes que já existiriam.
- Ele disse que esses semideuses não voltaram do labirinto e provavelmente foram mortos... - disse Cesar.
- Nem todos sobrevivem, é um risco que se corre ao aceitar qualquer missão - disse Liz. - Digo isso por experiência própria, já vi um irmão meu ser partido no meio por um monstro.
- Eu... sinto muito, Liz-Sempai - disse eu.
- Liz, para, você está assustando eles - disse Thiago.
- Eu não vou mentir, eles têm direito de saberem dos riscos - disse Liz. - Nós já vimos vários campistas morrerem, não é tão incomum uma equipe ser dada como desaparecida, lembra da equipe Kelvin?
- Sim... - disse Thiago. - Foi a primeira missão autorizada depois da batalha contra Cronos...
- Batalha contra o quê? - perguntou Arthur.
- Cronos, o titã do tempo - disse Thiago. - É uma longa história, estamos passando por um período pós-guerra.
- Guerra? - perguntei assustado.
- Foi uma guerra contra titãs, mas não se preocupem, nosso lado venceu - disse Liz. - Lembram da onda de desastres naturais no ano passado? Não foi por causa do aquecimento global, ou desmatamento, eram semideuses e deuses lutando contra titãs.
- Ok, eu preferiria continuar não sabendo disso - disse Cesar.
Liz virou a página.
- "Houve um tempo em que esse diário era utilizado para registrar as atrocidades que cometi. Lendo os registros, sou obrigado a encarar o monstro horrível que fui e como minha mente era distorcida antes de viver em Santo Berço."
- Ele fazia esses monstros antes mesmo de viver aqui - disse eu. - Já tinha conhecimento do mundo mágico.
- Sim - disse Liz. - "Hoje pago o preço de viver dessa maneira. Assombrado em meu próprio hotel por minhas próprias criações, agressivas e fora de controle assim como eu era quando as criei. Hoje é minha culpa que as alimenta."
Liz continuou.
- "Não existe como apagar essas aberrações da existência. Eu tentava ao menos destruir os registros desse diário, mas isso apenas resultou nos deuses usando isso contra mim. Morfeu me manipulou a dar minhas criações sádicas a ele, disse que iria por um fim nelas, mas me enganou, agora as aberrações o pertencem e irá usá-la para seus próprios objetivos. Enquanto alguém nesse hotel carregar uma grande culpa, esse parasita vai continuar se alimentando." - disse Liz. - "Me desculpe, meu filho. Eu não posso manter mais isso vivo. Espero que um dia, se você ler isso, possa me perdoar. Me desculpe por nunca ter tido a coragem de te contar."
- Ele tirou a própria vida... - disse Thiago.
- Eu sabia que tinha algo muito errado com esse lugar - disse Cesar. - Todos agem como se aqui fosse perfeito, mas se fosse, esse tipo de tragédia não aconteceria.
- Mas mesmo assim, oque acontece com Santo Berço não é problema nosso, nós estamos aqui para resolver algo bem maior - disse Liz. - Temos que ter foco se quisermos sair daqui o mais rápido possível.
- Olha, eu tenho que concordar - disse Thiago. - Precisamos descobrir alguma coisa relacionada a nossa missão e depois meter o pé.
- Mas nós não deveríamos ajudá-los? - perguntou Arthur. - Somos semideuses, eles podem até ser seres mágicos, mas estão passando por problemas.
- Nos não temos tempo para isso - disse Liz. -, nossa missão é impedir uma guerra entre os Três Grandes, fazendo isso já estaremos ajudando de alguma forma a evitar a morte de mais deles.
- Eu detesto ter que falar isso, mas a Liz-Sempai e o Thiago-Sensei estão certos, precisamos ter foco - disse eu.
- Nós vamos falar com o Porteiro, descobrir o que precisamos e ir embora o mais rápido possível - disse Liz.
Todos acabaram concordando.
- Antes de irmos, queria dizer o que eu vi no labirinto. Eu acho que os luzidios estão sendo manipulados por algo... - disse Dante. - Eu vi alguma coisa dentro do labirinto que conectava a cidade inteira aos moradores, eu acho que estão em uma espécie de transe, fiquei com medo de ver a mesma coisa em Joui, mas ele está bem.
Suspirei aliviado em saber daquilo.
- O que você viu exatamente? - perguntou Liz.
- Uma aura muito forte, não sei dizer se é um lugar ou um monstro - disse Dante. - Mas está no centro do labirinto.
- Obrigada por contar, Dante, nós iremos investigar isso, entraremos novamente naquele lugar mais tarde - disse Liz. - Alguém quer continuar lendo?
- Eu posso? - perguntei.
- Claro - ela me entregou o diário.
- "Quando eu cheguei aqui sabia que ia me divertir com os animais da região, mas eu não imaginava que os animais literalmente tinham propriedades mágicas que eu podeira usar! Existe esse tipo de entidade ou eu sei lá o que..." - ao ver a próxima palavra, afastei o caderno de mim e o estendi para Arthur. - Você pode continuar, por favor?
Ele deu de ombros.
- "Existe esse tipo de entidade ou eu sei lá o que caralhos é isso, que de alguma forma se alimenta só de outras criaturas sonhando. Eu me pergunto o que eu conseguiria fazer com isso." - Arthur virou a página. - "Posso enfraquecer o quanto quiser a membrana, quanto mais monstros conseguir criar e invocar, mais medo os mortais sentiriam. Meu papel na desconjuração está se cumprindo. Kian sabe."
- Ok, aquele cara era realmente um monstro... - disse Beatrice.
Concordei com ela.
- De novo isso de desconjuração - disse Liz frustrada. - O quê isso significa?
- Eu também queria saber... - disse Dante apreensivo.
- Pera aí, você não sabe? - perguntou Liz. - Achei que era isso que está escondendo de nós.
Ele negou com a cabeça.
- Eu ouvia muito sobre isso, mas nunca me disseram do que se trata... - contou Dante.
- Mas pensando pelo lado positivo, nós descobrimos algo - disse Thiago. - Mais um deus está atrás de nós.
- Era tudo o que precisávamos saber nesse momento - disse Cesar ironicamente. - E aí, vamos para a Taverna de uma vez?
- Vamos - Liz pareceu empolgada com o novo assunto. - A única parte boa desse lugar é a comida.
- Sim - disse Beatrice rindo. - E as roupas, eu achei fofas.
Finalmente, saímos do hotel.
- Nossa, que diferença é esse lugar sem a Névoa... - comentou Dante.
- Vocês acham que eles vão continuar agindo da mesma forma com a gente? - perguntou Cesar.
- Provavelmente sim - disse eu. - Aparentemente, não é comum semideuses virem até aqui.
- Joui, fica na sua forma luzídio aqui fora, para vermos como eles vão reagir - sugeriu Liz.
- Tá bom - me transformei novamente.
Apesar de não sentir nada de diferente, não gostei de ter que assumir aquela forma, eu tinha certo receio de que poderia estar me tornando parte daquele local. Mas também não queria preocupar os outros com isso, já tinhamos problemas demais.
A porta da Taverna estava aberta, ao subimos os degraus da entrada, notei que o lugar estava cheio. Assim que entramos, percebi que tinha algo de errado, todos dentro do estabelecimento estavam bem quietos.
Ferreiro estava jundo do Guarda, ambos calados e de semblante sério.
O silêncio constrangedor criava uma certa tensão entre os moradores.
- Parece que eles já estão sabendo o que aconteceu com o Ajudante - Arthur susurrou para mim.
- Sim - concordei com ele.
- Bom dia, seu Taverneiro - disse Liz.
- Bom dia - disse ele. - A Garçonete já vai atender vocês.
Ele não parecia estar a fim de conversar, estava cabisbaixo, nem olhou para nós enquando falava.
Respeitei seu espaço e me afastei do balcão, afinal, tinha acabado de perder um amigo.
Vi uma menina chorando em um canto mais afastado, não era hora de enchermos eles de perguntas e dúvidas.
Uma moça com um vestido vermelho e um coque prendendo os cabelos se aproximou de nós, a reconheci como a Garçonete.
Fizemos nossos pedidos e nos sentamos em uma mesa mais afastada, onde poderíamos conversar em uma altura normal sem sermos escutados.
Vimos o Hoteleiro sozinho e resolvemos conversar com ele.
- Ah, oi, vocês finalmente vieram - disso o Hoteleiro.
Ele parecia um pouco mais tranquilo do que os outros, tranquilo até demais.
- Senhor Hoteleiro, eu percebi que vocês estava um pouco chateado quando saiu do hotel, viemos ver se você está bem - disse eu.
- Esse dia tá uma bosta pra falar a verdade - Hoteleiro falou bem alto, fazendo com que todos em volta nos olhassem.
- O que aconteceu com o Ajudante... - murmurou Hoteleiro. - vocês ficaram sabendo?
- Sim, sentimos muito - disse Arthur.
- Era só o que faltava... - o luzídio passou as mãos pelo rosto.
Então, ele parou bruscamente o que estava fazendo e nos encarou.
- Vocês não tem nava haver com isso não, né? - ele nos olhou com desconfiança.
- Meus pêsames pelo Ajudante - disse Dante. - Mas não tivemos nada a ver com isso...
- Ninguém morre em Santo Berço desse jeito! - Hoteleiro se levantou, claramente estava alterado, conseguia sentir o cheiro de álcool de longe. - Bem quando você vem pra cá, o Ajudante morre!
Todos pararam o que estavam fazendo para escutá-lo.
Ferreiro se levantou correndo.
- Hoteleiro, se acalma.
- Me acalmar? - disse Hoteleiro. - O Ajudante tá morto! Bem quando esses semideuses vem do nada para uma missão que nós nem sabemos qual é!
- Eu estava com eles o tempo todo - Ferreiro estava visivelmente irritado. - Não foram os semideuses, eles estão aqui para nós ajudar.
- Tá bom - Hoteleiro se sentou com a mesma expressão tranquila de anteriormente. - Eu só estou falando o que eu sei que muita gente aqui deve estar pensando...
- Sim - ouvi alguém dizer.
- É verdade - disse uma moça.
- Eu não confio neles...
Começou-se um burburinho entre as mesas.
Ferreiro bateu na mesa com tudo.
- Chega! Todos estamos sofrendo com a morte do Ajudante e eu entendo a desconfiança dos novos ignaros - gritou o Ferreiro. - Mas eu estava lá em todos os momentos que eles estavam aqui, nenhum deles teria sido capaz de matar o Ajudante!
Ele continuou o discurso.
- As coisas estão diferentes e ninguém sabe lidar com isso direito, mas eu sei que não foi nenhum deles.
A garota que estava chorando se levantou.
- E quem garante que eles não atrairiam nenhum deus inimigo para cá?
- É verdade! - disse Hoteleiro. - Morfeu apareceu para eles em um sonho! Eles me contaram!
- Opa, calma lá, não foi bem assim que as coisas aconteceram - disse Thiago. - Para começo de conversa, isso é só uma especulação nossa. Segundamente, não sabemos de que lado Morfeu está, e terceiramente, Santo Berço já tem uma certa relação com o deus do sono, você sabe do que eu estou falando Hoteleiro.
- É, não foram eles! - Porteiro também se levantou. - Eu mesmo garanti que chegassem aqui sem que ninguém os seguisse.
A discussão causou grande comoção, os burburinhos voltaram.
- Não vou descansar enquando o culpado não for encontrado mas atacar quem está tentando nos ajudar não é a resposta - disse Ferreiro. - O Ajudante morreu sem dor, alguém fez ele engolir cristais verdes. Como os ignaros iriam saber o que esses cristais fazem ao serem ingeridos? Alguém dentro na cidade matou ele e eu devo ao Doutro e a todos vocês descobrir quem foi.
A Garçonete saiu da cozinha, deixou nossos sanduíches na mesa e voltou para dentro.
- Senhor Hoteleiro - falei em voz baixa. - Eu sinto muito mesmo pela sua perda mas podemos ajudar a resolver isso também, nos queremos a segurança de vocês, não viemos machucar ninguém.
- É, você está certo - Hoteleiro cedeu. - Eu bebi demais, me desculpa, está sendo um dia muito difícil.
- Tá tudo bem - disse eu.
- Eu preciso conversar com vocês - disse o Ferreiro. - Tem uma coisa muito estranha acontecendo desde que chegaram.
- Pode dizer - falou Liz.
- Só foi vocês chegarem que a cidade começou a agir de forma agressiva, Hades me pediu pessoalmente para protegê-los, vocês vivem falando sobre uma próxima pista. Eu preciso que vocês me contem sobre a profecia, pode ter algo relacionado com o que está acontecendo aqui...
Ferreiro olhou para a porta. O Doutor tinha acabado de chegar, por onde ele andava, olhares eram direcionados para ele.
O Doutor parou na nossa frente.
- Tudo pronto, Ferreiro, quando todos terminarem de comer, podemos começar o ritual.
- Ok - disse o Ferreiro. - Eu sei o que você acha do semideuses, mas mantenho minhas palavras, confio neles, apesar disso, vou acatar seu pedido, eles não vão sair daqui enquanto não acharmos o culpado.
Minha respiração falhou por um momento, estavamos presos lá dentro até que Ferreiro nos permitisse sair.
- Ok, Ferreiro - o Doutor se virou para nós. - Eu não sei exatamente o porquê a profecia os trouxe aqui, mas se vocês gostam tanto de fazer perguntas sobre Santo Berço, é melhor que comecem a perguntar sobre meu filho também.
Ele foi embora sem dizer mais nada.
Finalmente, fomos comer. Eu não faço ideia do que tinha naquele sanduíche, mas era a melhor coisa que eu já comi.
- Eu não sei o quê é mais Impressionante, os cristais ou esse sanduíche dentro de mais sanduíches - comentou Thiago. - Liz, se levarmos essa galera lá pra Nova York e abrirmos um restaurante com a comida deles a gente fica rico.
- Você acha que eu não pensei nisso? - disse Liz. - Eu desistia da ciência forense em cinco segundos.
- Vamo sugerir para o Sr. Veríssimo que ao invés de morango, o acampamento podia vender só essa comida - disse Cesar.
- Aí pagar todas as reformas dos chalés - disse Liz.
Não falei muito, apesar de não termos feito nada, me sentia meio culpado por toda a situação do Ajundante. Dante e Arthur conversavam entre si, Beatrice comia em silêncio.
- Eu vi que você já está gostando da sua forma de luzidio - disse Hoteleiro sorrindo. - Gostei das suas faixas.
- Obrigado - agradeci.
- Bom, eu vou ir me despedir do Ajundante. - disse Hoteleiro se levantando. - Infelizmente, vocês não vão poder participar, somente luzidios podem fazer o ritual.
- Tudo bem, até mais - Beatrice finalmente se manifestou.
- Até - ele saiu da Taverna.
- Eu também vou indo - disse o Ferreiro. - Conversaremos depois.
Estávamos praticamente sozinhos agora, a maioria já tinha ido. Esperemos o restante das pessoas saírem.
- E agora? - perguntou Arthur. - O que vamos fazer?
- Eu não sei vocês, mas eu vou mandar uma mensagem de Íris para o acampamento - Liz pegou um dracma de de sua mochila. - Só para não deixar o Sr. Veríssimo muito preocupado.
- Mensagem do quê? - perguntou Beatrice.
- Mensagem de Íris, é simples, nós fazemos um arco-íris, damos uma oferenda a deusa Íris e, se ela estiver disponível, permitirá nos comunicarmos com quem desejarmos - disse Liz.
- Porque vocês simplesmente não ligam para lá? - perguntou Beatrice.
- Semideuses e tecnologia não tão certo - explicou Liz. - Usar dentro do acampamento é até mais de boa, mas do lado de fora, uma ligação é praticamente você implorar para algum monstro de devorar.
- Eu sei, é triste - disse Cesar.
- Sinceramente, não sei como o Cesinha não morreu por conta disso - disse Thiago.
- Ser um semideus acabou a minha ideia de fazer faculdade de TI - disse Cesar. - A unica coisa que eu sei fazer direito é programar e nem isso posso fazer mais.
- Você gosta de flores - disse Arthur. - O que acha de botânica?
- Arthur, todas as plantas que eu já tentei cuidar morreram - disse Cesar.
- Aí complica - disse Beatrice rindo.
- Não se preocupa com isso - disse eu. - Você vai descobrir alguma outra coisa que goste.
- Ô rapaziada - disse Liz no lado de fora da Taverna. - Eu já preparei o arco-íris.
- Quando foi que você saiu? - perguntou Arthur.
Ela o ignorou e voltou a mexer em sua mochila.
Santo Berço parecia deserta, não tinha uma alma viva pelas ruas.
Nas escadas, Liz havia colocado um prisma, a luz refletida formava um pequeno arco-íris.
- Onde você arranjou isso? - perguntou Dante.
- Eu sempre carrego um na mochila - disse Liz e ergueu o dracma acima da cabeça - Ó deusa, aceite nossa oferenda.
Ela jogou a moeda no arco-íris, que desapareceu.
- Acampamento Meio-Sangue - disse Liz.
Achei melhor me destransformar, não ia querer assustar o Sr. Veríssimo e ter que explicar tudo.
Aguardamos por um momento e então a Névoa em volta de Santo Berço nos permitiu olhar para os campos de morangos. No primeiro instante, pensei que a nevoa tinha nos levado até um campista desconhecido por mim mas, ao se virar, a reconheci na hora.
- Ai, caralho - Agatha quase caiu de susto.
- Agatha! - Arthur se aproximou um pouco da Névoa.
- Arthur! Pessoal! - ela tinha um grande sorriso de alívio no rosto - Vocês tão bem!
- Bem não é a palavra certa - disse Cesar. - mas estamos vivos.
- Esperem só um pouquinho - Agatha saiu correndo para fora do nosso campo de visão. - Ô Tris! Vem aqui!
Não demorou muito até ela voltar junto de um grupo de campistas.
- Gente! - Tristan pareceu feliz em nos ver.
- Que roupas são essas? - perguntou Nataniel.
- Longa história - disse eu. - Vamos contar tudo assim que voltarmos.
- Já terminaram a missão? - perguntou Fernando.
- Foi bem mais rápido do que eu imaginava - disse Luciano.
- Na verdade, estamos bem longe de terminar... - disse Thiago meio sem graça.
- Então esse é o acampamento? - perguntou Beatrice animada.
- Só uma pequena parte dele - disse Liz. - É muito maior do que consegue ver.
- Opa, quem é essa? - perguntou Tristan.
- Eu sou a Beatrice - ela se apresentou. - e o meu pássaro é o Orpheu.
- Que nome bonito, combina com você - disse Tristan.
- Tristan, não começa - disse Liz.
- Tá bom, desculpa - disse Tristan.
- Relaxa, Liz, eu não me incomodo - disse Beatrice.
- Ah, pessoal - Arthur puxou Dante para que ele ficasse visível aos demais. - Esse é o irmão da Bea, Dante.
- Oi... - disse Dante meio baixo, eu já tinha até me esquecido da timidez do loiro.
- Eles são filhos de Hécate - contou Arthur. - Estão aqui para nos ajudar.
- E aí, surfistinha - cumprimentou Tristan.
- Deu tudo certo na Nostradamos? - perguntou Agatha.
- Sim - disse Liz. - Matamos a Degolificada.
- E encontramos o Dante e a Bea - completou Arthur.
- E onde vocês estão agora? - perguntou Fernando.
- Em uma cidade mágica chamada Santo Berço - contou Liz. - Algum de vocês já ouviu falar disso antes?
Todos negaram.
- Como assim cidade mágica? - perguntou Luciano.
Contamos o que descobrimos até aquele momento.
- Isso não é nada bom... - disse Agatha.
- É, também não gostamos daqui - disse eu. - mas não temos muita escolha, estamos presos até que o culpado pela morte do Ajudante seja pego.
- Mas e vocês? - perguntou Thiago. - Como estão as coisas no acampamento?
- Para falar a verdade... não estão muito boas, não - contou Tristan.
- A notícia da possível guerra vasou de alguma forma que não sabemos até agora - disse Luciano. -, os campistas começaram a tomar partido.
- Vocês tem que tomar muito cuidado - disse Arthur. - A profecia falava que tem traidores no meio dessa história.
- Traidores? - Nathaniel pareceu surpreso - Então é isso, deve ter sido algum dos traidores que soltou a informação...
- Só para causar discórdia e desunir o acampamento - supos Luciano.
- E vocês ficaram sabendo que a Máscara do Desespero foi roubada? - perguntou Fernando.
- Sim, Zeus e Poseidon acham que foi o Cesar e Hades acha que foi o Joui - contou Arthur.
- Caramba... - disse Nathaniel. - sinto muito que esteja passando por isso, Joui, claramente Hades está sendo preceptado.
- E eu que se foda, né? - disse Cesar emburrado.
- Claro que não - disse eu. - Os Olimpianos estão errados ao seu respeito tanto quanto sobre o meu.
- Sim, é óbvio que não foi o Cesar - disse Nataniel. - Ele não seria forte o suficiente para conseguir usar a máscara de qualquer forma, seria consumido pelas sombras.
- Na verdade, seria sim, o próprio Hades disse isso - disse eu.
Cesar sorriu para mim.
A Névoa começou a se dissipar lentamente.
- Não temos muita mais tempo - disse Agatha.
- Foi bom saber que vocês estão bem - disse Fernando. - Se cuidem e voltem logo, estamos morrendo de saudades.
- Pelo amor de Atena, só fazem três dias que saímos do acampamento - resmungou Liz.
- Mas mesmo assim, estou com saudades - a voz de Fernando saiu um pouco baixa.
O arco-íris se desfez, a conexão foi cortada.
- Bom, pelo menos, agora eles tem certeza de que estamos vivos - disse Thiago.
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Oi pessoal! Eu estou muito animada para o episódio de hoje de calamidade, quais são suas espectativas para ele? Sinto que vamos encontrar mais respostas a respeito da volta do Joui.

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