O mundo ficou escuro. As vozes ao meu redor foram se tornando cada vez mais abafadas, até o ponto que não pude escutar mais nada além de sons indecifráveis, como sussuros na escuridão eterna.
Essa é a sensação de estar morto? Me perguntei.
Senti um calor reconfortante a minha volta, como se algum anjo estivesse me rondando.
Abri os olhos devagar.
Eu estava no meu quarto, em casa, deitado em minha cama, enrolado em meus cobertores.
Eu sonhei com tudo aquilo?
Então, senti um forte formigamento em minha bochecha, não pude evitar de passar a mão pelo local, senti perfeitamente o formato de um "x" por onde meus dedos passavam.
Não foi minha imaginação. Mas porque estou aqui? Cadê os outros?
Levantei às pressas e olhei em volta, aquela definitivamente era minha casa. Era o mesmo ambiente calmo e acolhedor de sempre, estava sendo tão reconfortante estar de volta que quase não resisti ao impulso de voltar a minha cama.
Me assustei ao ouvir uma batida vindo da porta.
- Okaasan? - perguntei.
A porta se abriu lentamente, revelando uma mulher negra de cabelos cor de fogo, seus olhos eram tão castanhos que chegavam a ser avermelhados, ela tinha no máximo 20 anos.
- Olá, Joui - a mulher sorriu gentilmente.
Sua presença me deixou mais calmo, como se alguma amiga próxima que não via a tempos tivesse vindo me visitar (apesar de nunca tê-la visto em toda minha vida).
- Quem é você? - perguntei. - O que está acontecendo comigo?
- Sou Héstia - a mulher se apresentou.
- Deusa do lar? - pensei em voz alta. - Isso explica muita coisa.
Ela sorriu.
- Desculpe se te assustei, achei que se sentiria seguro estando em um ambiente mais tranquilo.
- Bom, você acertou... obrigado - ainda não compreendia o que estava acontecendo, mas achei melhor ser educado.
- Por favor, eu que devo lhe agradecer - ela se aproximou um pouco. - Você e seus amigos.
- Meus amigos? - perguntei. - Onde eles estão? O que aconteceu depois que...
Não completei a frase.
- Está tudo bem, eles estão seguros - tranquilizou Héstia. - Você está seguro, está em casa.
- Quer dizer que eu não estou...
- Morto? - ela completou. - Não, querido, só está sonhando.
- Atá... - as coisas começaram a se encaixar em minha cabeça. - porque a senhorita está aqui?
- Achei melhor lhe poupar dos sonhos premonitórios por hoje, não ia ser uma situação legal ter seu primeiro com tantas outras coisas na cabeça - Héstia se sentou a beira da cama. - Vim te agradecer, você e sua equipe foram verdadeiros heróis, salvaram meu lar.
- O Olimpo? - perguntei. - Nós conseguimos?
- Sim, vocês impediram essa guerra - disse Héstia. - mas devo te alertar, esse não é o fim, é apenas o começo, a primeira batalha foi vencida.
- Primeira? - disse eu.
- Joui, sua profecia ainda não se cumpriu - disse a deusa. - lembre-se do último verso.
- "E, da fúria dos traidores, os marcados se revelarão" - disse eu.
- Exato, ainda não terminou - disse Héstia. - Fique atento, o que julga traidor hoje, pode ser um grande aliado amanhã.
- Como assim? - perguntei.
- "do sussurador o desespero ganhará" - disse ela.
- Esse verso... - fransi o cenho. - o que significa?
- As máscaras estão de volta - Héstia me contou. - O equilíbrio precisa ser mantido.
- Equilíbrio... - disse eu. - Se Nemesis é a deusa do equilíbrio, porque ela não se importou em causar uma guerra?
- Eu não sei suas motivações - disse Héstia. - mas uma coisa é certa, a desconjuração está próximo.
- Isso de novo... - disse eu. - O que é a desconjuração?
A deusa desapareceu por um breve momento, como uma chama que ameaçou se apagar.
- Estamos ficando sem tempo, você acordará em breve - avisou Héstia. - Eu irei te mostrar o que está mais te angustiando.
- Me mostrar? - perguntei. - Do que você está falando?
Ela se levantou e deu alguns passos para trás.
- Até logo - ela se despediu. - Eu estarei te aguardando na fogueira.
- Espera!
Um clarão de luz preencheu minha visão, assim que consegui abrir os olhos, percebi que já não estava mais em casa, havia voltado ao parque.
Vi a mim mesmo caído no gramado, uma poça de sangue se formou ao meu lado. Liz fazia um curativo com vários pedaços de gaze, suas mãos estavam sujas de sangue, assim como sua roupas, Cesar a ajudava, segurando o kit médico e pegando mais pedaços de pano.
Conseguia ouvir a batalha ainda acontecendo atrás de mim.
- Ele vai ficar bem? - Cesar perguntou com a voz trêmula.
Sabia que ele estava se culpando pelo ocorrido. Abri a boca para falar, mas nenhum som saiu, de alguma forma soube naquele momento que estava apenas navegando entre memórias, eu não podia interferir em algo que já aconteceu.
- Consegui estabilizá-lo - disse Liz. - mas o curativo só vai evitar que sangre mais ainda.
- Mas ele vai ficar bem, não é? - perguntou Cesar.
- Vai mas precisamos tirá-lo daqui, a bochecha dele abriu e eu não tenho recursos para fazer mais do que isso, temos que voltar para o acampamento se não... - ela hesitou, parecia escolher com cuidados as palavras que diria ao mais novo. - eu não sei por quanto o curativo vai ser eficaz.
- Então o que estamos esperando? - disse Cesar. - Vamos voltar.
- Ares não vai nos deixar simplismente ir, ainda mais você - disse Liz. - Temos que avisar a equipe que é para recuar e pensar em como vamos nos livrar do Ares.
- Ok - Cesar concordou.
- Eu vou ir ajudar eles - Liz guardou o kit de volta em sua mochila. - Fica aqui com o Joui.
- Tudo bem - Cesar me segurou em seus braços e repouso minha cabeça em seu colo.
- Não vai nem me questionar? - Liz pegou suas foices do chão.
Cesar balançou a cabeça negativamente.
- Eu já atrapalhei o suficiente.
- Isso não é verdade - disse Liz. - você salvou a vida dele.
- Salvei? - vi uma lágrima escorrer pelo rosto de Cesar. - Eu quase matei ele.
- Se você não tivesse rachado o chão naquela hora, ele estaria bem pior do que agora - Liz acariciou meus cabelos antes de ir.
Em mais um clarão, a cena mudou.
Vi Arthur caído inconsciente, um de seus braços se descolara de seu corpo. Thiago estava deitado a seu lado, com os olhos fechados mas consciente, seus lábios se movimentavam em murmúrios.
Dante despejou cinzas em sua mão e soprou na direção de Arthur enquanto dizia a Thiago:
- Ele vai ficar bem, continue tentando contato com ela.
Não fazia idéia do que o loiro estava falando. Ela quem? O que eles estavam tentando fazer? O que aconteceu com Arthur?
Quanto mais eu via, mais perguntas se criavam em minha mente.
Dante cicatrizou o que restou do braço de Arthur em uma grande espiral, parecida com a cicatriz que tenho em meu antebraço.
Liz chegou a tempo de ajudar Beatrice a tirar Ares de perto dos garotos, as duas lutavam em conjunto e forçavam o deus a recuar.
Dante aproveitou para curar Thiago também, que estava bem ferido, estava coberto por hematomas, além do grande corte em seu ombro.
- Temos que sair daqui agora, não posso ficar curando vocês para sempre - disse Dante. - Minhas cinzas estão acabando, esse é o último pote que tenho.
Dante fechou a tampa para impedir que as cinzas se dispersassem ao vento e guardou de volta em sua mochila.
- Na moral, a onde caralhos você arranjou isso daí? - perguntou Thiago se levantando com a ajuda do loiro.
- Isso não é importante agora - disse Dante. - Você não tem que rezar para Afrodite?
- Já fiz minha parte - Thiago pegou sua espada no chão.
- Tá, mas e agora? - perguntou Dante. - Ela te deu alguma orientação, uma dica, qualquer coisa?
- Vamos descobrir isso agora - disse Thiago.
- O que você pediu? - o loiro perguntou.
- Pedi sua benção - disse ele.
Dante pareceu confuso.
- O que isso significa? - Dante perguntou confuso.
- Não pedi a mesma que recebi de quando fui reclamado, claro - disse Thiago ignorando a pergunta do loiro.
- Fique aqui e cuide do Arthur, se der ruim tu já sabe o que fazer.
- Ok... - Dante parecia inseguro com plano de Thiago.
Não julgo o loiro, pelo que eu havia entendido, o plano era muito incerto, mas ao mesmo tempo, Thiago não é burro para fazer algo que conta cem por cento com a sorte, é muito mais experiente do que a maioria da equipe e sabe o que está fazendo.
Thiago girava sua espada na mão enquanto caminhava tranquilamente em direção a Ares.
Liz e Beatrice continuavam lutando, elas o golpeavam e recuavam, para que o deus não as alcançasse.
Thiago bateu com a espada nas costas de Ares e se afastou, o que fez o deus voltar sua atenção para ele.
- Ei! Eu ainda estou de pé - disse Thiago. - Acho que você não concluiu seu trabalho muito bem.
- Você quer tanto assim morrer? - Ares riu.
- Thiago, o que tá fazendo?! - Liz gritou.
- Gente, se afasta! - Thiago gritou de volta. - Deixa comigo agora.
- Mas...
- Liz, por favor, confia em mim - pediu Thiago.
- Isso - disse Ares. - Fujam como da última vez, ratinhos, eu vou caça-los um por um, mas se esse daqui quer ser abatido primeiro, irei realizar seu desejo.
Ele correu para cima de Thiago, pronto para golpea-lo com tudo com sua espada.
Por sua vez, Thiago apontou sua própria arma para Ares enquanto dizia calmamente:
- Pare.
Por mais surreal que pareça, o deus o obedeceu, ele parou bruscamente, ficando estático lugar, parecia confuso.
Olhei para Thiago e pude ver claramente uma aura rosada em torno de seu corpo.
- Vão! - ele gritou. - Agora é a chance de vocês, fujam!
- Eu não vou sem você! - disse Liz.
- Eu alcanço vocês depois - disse Thiago. - Minha mãe só me permitiu dar um comando, não vou conseguir manter a ordem por muito tempo, vão!
Beatrice prontamente puxou Liz consigo para que a morena tomasse alguma atitude.
- Nós temos que ir, ele vai ficar bem - ela tentou acalmar a amiga.
- Você tá certa, eu tenho que confiar nele - disse Liz.
Ela voltou para ajudar Cesar a me levantar e os dois juntos começaram a me carregar para longe de Ares e Thiago. Beatrice foi até o irmão e o ajudou a carregar Arthur.
Mais um clarão preencheu minha visão. Já não estava mais no parque, me encontrava sentado em uma cadeira, no que parecia uma sala de estar sem janelas ou qualquer outro tipo de saída.
Uma moça de longos cabelos negros usando um vestido branco se encontrava de costas para mim.
Me levantei da cadeira em um pulo.
- Quem é você? - perguntei.
A mulher se virou para mim lentamente e quase levei outro susto, ela era muito bonita, provavelmente a mulher mais bonita que já vi, mas de um jeito que não parecia ser normal: de alguma forma eu não conseguia ver seu rosto nitidamente, ele parecia mudar constantemente, mas sabia que ela usava muita maquiagem, o único detalhe que pude ver com clareza em sua face eram seus olhos obsidiana, ela tinha a pele branca e pálida; poderia ser facilmente uma prima mais velha de Cesar, a clara semelhança chegava a ser um pouco assustadora.
- Joui! - a mulher exclamou animada. - Desculpe ter te tirado de suas visões, mas eu também queria falar com você.
- Quem é você? - perguntei novamente.
- Afrodite - disse a moça.
- Isso explica muita coisa - pensei alto. - O que está fazendo no meu sonho, senhorita?
Depois de tudo o que aconteceu, ver a deusa do amor na minha frente era o menor dos meus problemas, resolvi só aceitar.
Ela sorriu.
- Vim te ver, ué - disse a deusa. - Eu adoro adolescentes, vocês costumam dar muita importância para o amor nessa idade, é uma época da vida em que os sentimentos estão bem aflorados.
- Ok... - achei melhor não questionar.
- É tão fofo o seu jeito de preocupado e atencioso com o seu amigo - disse ela.
- Senhorita Afrodite, com todo o respeito mas eu não sei se essa é a hora ideial para falar sobre minha vida amorosa...
- Joui, nunca tem a hora certa de ter essa conversa - disse ela. - Mas é necessária, acredite, você vai me agradecer depois, se permita descansar um pouco disso tudo...
- Eu não posso descansar! - disse desesperado. - Nós não impedimos a guerra, eles tiveram que retornar, mas a missão ainda não está concluída...
- Calma, tudo se resolverá...
- Calma? - perguntei. - Como eu vou ter calma se o mundo vai ser destruído?!
- Meu querido - ela colocou a mão em meu ombro. - Eu sou uma deusa Olimpiana e sei o que aconteceu, está tudo bem agora.
- Não, não está tudo bem! - disse eu. - Isso foi fácil demais... tem alguma coisa errada...
Massageie minhas tempôras completamente estressado. Era muita coisa para processar, os deuses nunca nos diziam o que fazer, porque tudo tem que ser um enigma?
Inspirei fundo, completamente frustrado, aquele não era o momento para surtar.
- Me desculpe, senhorita Afrodite - disse eu. - Você tem razão, eu tenho que descansar.
A mulher sorriu satisfeita. Eu ainda estava bastante irritado, mas achei melhor me conter perante a mulher que começou a Guerra de Tróia.
- Porque a senhorita queria me ver?
- Joui, você é um amor de pessoa - ela me disse. - Mas é muito inocente.
- Inocente? - repeti a palavra confuso.
- Sim - disse ela. - Meu querido, você se reprime demais, que tal tentar tirar a máscara e demonstrar seus verdadeiros sentimentos?
- Mas, Afrodite...
- É difícil, blá, blá, blá... vocês adolescentes complicam tudo! - disse Afrodite. - Eu gosto de drama, deixa tudo mais intenso, mas você mal demonstra sua própria intensidade.
- Está falando da forma que expresso meu amor? - perguntei.
- Não, mas quase acertou - disse ela. - estou falando de demonstrar sua paixão.
- Não a mesma coisa? - perguntei.
- Não! - Afrodite pareceu ofendida. - Paixão é talvez a parte mais intensa de se amar algo ou alguém.
- Então... uma coisa está ligada a outra, mas não é a mesma coisa - conclui.
- Isso, você aprende rápido! - ela acariciou meus cabelos. - Paixão é uma das coisas que diferencia uma relação amorosa de uma relação de amizade, por exemplo.
- Entendi - disse eu.
Ela sorriu empolgada.
- Então comece a aplicar isso a sua vida.
- De que forma? - perguntei.
- Demonstre sua paixão pelas coisas que você ama, pelo o garoto que você ama.
- O quê...
- Não me venha se fazer de desentendido, isso não funciona comigo, eu sei do que falo! - exclamou Afrodite. - Achei que já estava mais do que na cara o quanto você está caidinho pelo Cesar.
Ela apontou para si mesma.
- Você me vê como alguém parecida com ele, você vê a imagem do amor parecida com ele - Afrodite parecia já estar perdendo a paciência - Entende o que quero dizer agora?
- Sim... - eu me senti meio idiota por só estar percebendo meus sentimentos porque a própria representação de amor teve que me dizer isso.
- Joui, amor é uma coisa que demora para ser cultivado e você esteve aprendendo a amá-lo a cinco anos, valorize isso.
Afrodite desapareceu por um momento, assim como aconteceu com Héstia.
- Acho que já falei o suficiente - ela disse frustrada. - Espero que tenha se entendido melhor e não se esqueça: eu não facilito para ninguém, comece a demonstrar seu amor ou vai acabar o perdendo.
- Ei, espera...
- Ah, uma última coisa - disse ela. - Meu filho está vivo.
Acordei com a visão embasado, o formigamento que sentia antes em minha bochecha se transformou em dor, parecia que alguém estava passando uma faca em cima de minha ferida continuamente, coloquei minha mão em cima no local de reflexo e percebi um curativo.
Esfreguei meus olhos e o ambiente a minha volta ficou nítido: eu estava da enfermaria do Acampamento Meio-Sangue, deitado em uma das várias camas com lençóis brancos.
- Joui? - ouvi uma voz familiar ao meu lado.
Antes que pudesse me virar para ver quem era, (em minha defesa, eu ainda estava muito sonolento e confuso) fui puxado para um abraço apertado.
- Cesar, deixa ele respirar - disse Liz se aproximando de nós.
A voz da garota soava em um tom claro de tristeza, seu rosto expressava unicamente seu cansaço e um certo... vazio, é até difícil decifrar o que suas emoções quiseram representar, era quase como se ela não estivesse de fato nesse plano, parecia distante, pensativa.
Cesar não deu ouvidos a mais velha, ele me segurava como se eu fosse sumir assim que me soltasse.
As memórias que Héstia havia me mostrado vieram a minha mente em fleches.
Aquilo foi real. Eu vi tudo o que aconteceu, então, pude compreender que desespero de Cesar não era a toa, não fazia idéia de quanto tempo havia se passado desde que desmaiei, mas deduzi que já não estávamos no mesmo dia pelas roupas que o cabeludo usava.
Ele vestia uma camiseta laranja do Acampamento Meio-Sangue com uma blusa preta por cima, seus cabelos volumosos haviam crescido um pouco, agora caiam pelos ombros, seguindo até suas costas.
- Cesar-Kun, Liz-Sempai... - a dor em minha bochecha piorou ao falar.
- Me desculpa, Joui - percebi pela voz trêmula que Cesar estava chorando.
Finalmente retribui seu abraço ao processar pelo menos um pouco do que estava acontecendo, acaricie suas costas na tentativa de acalmá-lo.
Sabia que ele estava se referindo ao tiro, assim que vi a primeira cena que Héstia me mostrou, soube que Cesar iria se culpar pelo que aconteceu mas o ver de fato daquele jeito quebrou meu coração.
- Cesar-Kun, não foi você - disse eu. - Eu olhei nos seus olhos e vi que não era você.
- Ainda sim, eu poderia ter resistido ao comando de Ares - disse Cesar. - eu deixei ele entrar na minha cabeça tão facilmente...
- Isso não é verdade - me afastei o suficiente para conseguir olhá-lo, sem desfazer o abraço. - Você me salvou.
- Do que você está falando, Joui? - ele mantinha a cabeça baixa.
- Se você não tivesse conseguido retomar o controle por aqueles segundos e desviado um pouco para o lado, o tiro teria me matado na hora - segurei em seu rosto entre minhas mãos e o levantei para que ele me olhasse. - Você me salvou.
Cesar se acalmou um pouco mas ainda sim, percebi que ele se segurava para não chorar mais, seu rosto ainda estava manchado pelas lágrimas.
- Eu tive tanto medo de te perder... - disse ele. - Se eu não tivesse rachado o chão para distrair Ares, talvez nada disso tivesse acontecido.
Me sentei na maca e, ainda segurando o rosto do Cesar, o aproximei até que nossas testas se tocassem.
- Tá tudo bem - sorri com um pouco de dificuldade pela dor. - Eu estou bem, não tem o porquê ficar pensado do que poderia ter acontecido, você não me perdeu.
Ele serrou os olhos com força, deixando as lágrimas que tentava evitar escorrerem, suas mãos apertavam minhas roupas.
Liz se sentou no lado vazio da maca e se juntou ao nosso abraço sem dizer nada. Passei um braço em volta dela e o outro em volta de Cesar.
Depois de um tempo em silêncio, tive coragem de perguntar:
- Por quanto tempo eu fiquei desacordado?
- Um dia - disse Liz. - Agora devem ser umas quarto e pouco da tarde.
- Então não foi tanto tempo assim... - disse aliviado.
Mais um fleche de memória veio a minha mente, dessa vez lembrei de Arthur caído com o braço decepado.
- Joui? - disse Liz preocupado. - Tá tudo bem?
- Cadê o Arthur? - perguntei. - Como ele está?
Liz e Cesar se entreolharam com tristeza, pareciam decidir entre si quem iria dar a notícia.
- Ele... perdeu mesmo o braço, não é? - não consegui evitar perguntar.
Eles arregalaram os olhos em surpresa.
- Como você sabe disso? - Cesar me perguntou.
- Eu vi o que aconteceu - disse eu.
Contei a eles sobre meu sonho com Héstia e ocultei a parte em que Afrodite também resolveu me ver.
- Por Atena... - disse Liz. - Você viu tudo mesmo?
- Quase tudo - disse eu. - Só não sei como vocês vieram até o acampamento.
- Fomos andando, não é tão longe assim de Nova York - disse Cesar.
- E o Thiago-Sensei? - perguntei. - Ele conseguiu parar Ares com um comando, foi muito descolado.
Liz voltou a expressão vazia, Cesar, que ainda estava me abraçando, apertou com mais força minhas roupas.
- Gente? - disse eu. - Porque vocês estão assim? Ele venceu sozinho o deus da guerra.
- Tudo tem um preço, Joui - Liz deixou escapar uma lágrima que rapidamente foi enxugada pela mesma. - Por Ares ser um deus, ele não cederia o comando de um meio-sangue tão fácil assim.
- O que aconteceu? - meu coração disparou pela sensação de medo.
- Joui, você mesmo nos falou - disse Liz. - Thiago disse para irmos na frente que ele iria distraí-lo e...
Liz respirou fundo antes de continuar.
- Ele ficou para trás.
- O quê? - não consegui aceitar as palavras ditas pela mais velha. - Não, ele estava bem, isso não faz sentido.
- Ele precisava continuar lá para manter a ordem - disse Cesar. - disse que viria para o acampamento assim que possível...
- Eu sei, eu vi - cortei Cesar. - Então porque estão agindo assim? Ele vai vir, só se passou um dia, é muito pouco tempo para tirar qualquer conclusão.
Eles não me responderam. Eu ainda estava relutante em contar que Afrodite havia me confirmado que seu filho estava vivo, eles iriam começar a fazer perguntas e aquela conversa havia sido pessoal demais.
- Cesar, você pode largar o Joui só um pouquinho? - disse Liz. - Preciso ver se o machucado dele está cicatrizando bem.
Cesar desfez o abraço e repouso sua mão sobre a minha, um gesto simples mas que demostrava muito do carinho que ele tinha por mim.
Liz tirou o curativo e passou levemente a mão sobre a ferida.
- Dói? - ela me perguntou.
- Um pouco - disse eu.
- Bom, não infeccionou - ela se afastou e foi até uma mesa cheia de equipamentos médicos. - Dante queria curar com rituais, mas disse que poderia piorar de tivesse infeccionado.
Ela voltou com um copo de vidro com um líquido parecido com suco de maçã verde e me ofereceu.
- Toma - disse Liz me estendendo o objeto. - É néctar.
Com minha mão livre, peguei o copo com cuidado e o levei até minha boca. Todos diziam que o néctar tinha o sabor de sua comida ou bebida favorita, para mim, tinha gosto do bolo de morango da minha mãe. A sensação de queimação no lado direito de meu rosto cessou, o que foi um alívio, a dor realmente era um incomodo.
Minha memória voltou para minha infância por um momento, na primeira vez que Arthur e Cesar vieram a minha casa. Eu ajudava minha mãe a fazer um bolo para eles enquanto perguntava se quando iriam chegar ansiosamente, minha mãe ria e dizia que logo estariam aqui, ela me pegou no colo e me abraçou, disse que estava feliz por eu ter feito amigos e me adaptado tão bem em apenas alguns meses a nossa nova vida em Nova York.
Acho que esse momento em específico veio a minha mente por ser uma das memórias de que mais gostava de me recordar, me lembro de cada pequeno detalhe daquela época, do jeito que minha mãe sorria animada tudo o que contava a ela quando chegava da escola, de todas as vezes que eu confundia japonês com inglês ao ponto de que Cesar e Arthur aprenderam frases inteiras na minha língua materna.
Estava com uma imensa saudade de minha mãe, ela devia estar morrendo de preocupação.
- Como se sente? - Liz me perguntou.
- Não dói mais - disse eu.
- Bom, acho que não vai nem precisar fazer outro curativo - observou Liz.
- Então, eu já posso sair daqui? - perguntei.
- Sim - confirmou Liz. - Acho que você vai querer ver o Arthur de qualquer forma.
- Ele ainda está desacordado? - perguntei.
- Ele já acordou - disse Liz. - O ritual de cura ajudou muito no processo, ele está no chalé de Apolo, foi dispensado dos treinamentos.
Cesar se levantou e puxou minha mão para que eu fizesse o mesmo.
- Vamos, ele estava muito preocupado com você - disse Cesar.
Concordei e nos dirigimos até a saída.
- Você vem Liz-Sempai? - perguntei percebendo que ela não havia nos seguido.
Ela balançou a cabeça negativamente.
- Vão na frente, tenho algumas coisa para resolver, nos vemos no jantar.
Não protestei, Liz queria um tempo sozinha e o mínimo que eu poderia fazer é respeitar seu espaço.
Cesar continuou segurando minha mão mesmo depois de sairmos, retribui o aperto enquanto seguimos para os chalés.
Não demorou até que os campistas notassem nossa presença, alguns vieram nos cumprimentar, outros nos olhavam de longe e cochichavam entre si.
Cesar olhou para baixo desconfortável, sabia que o cabeludo odiava chamar atenção, antes que pudesse falar alguma coisa para tentar confortá-lo, fui derrubado por uma figura que era impossível não reconhecer.
- Joui! - Tristan me abraçou. - Você tá bem?
- Se puder respirar de novo, vai ficar melhor... - disse Cesar caído ao meu lado.
- Ah, desculpa - Tristan saiu de cima de nós. - Eu tava morrendo de preocupação, quando você chegou aqui ontem com a cara toda cheia de sangue o pessoal ficou abalado.
- Sério? - perguntei me levantando junto de Cesar.
- Sim, mas vejo que você tá novinho em folha - disse Tristan me observando. - Gostei da cicatriz.
- Obrigado - agradeci.
- Hoje o pessoal tá meio pra baixo depois que ficamos sabendo o que aconteceu - disse Tristan. - Mas agora tá tudo bem, só precisamos esperar o Thiago voltar, certo?
- Certo - disse convicto do que dizia.
- É... - disse Cesar.
- Mano, sem querer me intrometer, mas já me intrometendo - disse Tristan ajeitando o cabelo. - Porque vocês estavam de mãos dadas?
Meu rosto corou quase automaticamente, o Tristan não deixa nada passar mesmo. Cesar também não respondeu.
- Já entendi - Tristan sorriu sabichão. - Mudando de assunto, eu tô levando os novatos que vocês trouxeram para um tour pelo acampamento, acho que eles gostariam de te ver o Joui.
- O Dante-Kun e a Bea-San? - perguntei. - Onde eles estão?
- Tão vindo pra cá - Tristan apontou com a cabeça atrás de mim. - Eu meio que sai correndo quando vi vocês.
- Tristan! - ouvi a voz de Beatrice. - Custava nos esperar?
Os irmãos agora usavam as camisetas do acampamento, mas os colares de lua e sol continuavam em torno de seus pescoços.
- Desculpa, sardinhas - disse o moreno sorridente.
Dante passou reto pela irmã e por Tristan.
- Graças aos deuses, você tá bem - me surpreendi ao receber um abraço do loiro.
- E aí, Jou? - disse Beatrice. - Que bom que acordou.
Sorri em resposta.
- Com licença - Dante virou um pouco meu rosto para o lado para poder analisar minha cicatriz. - Você se recuperou bem rápido considerando a profundidade e a gravidade do ferimento.
- Acho que o néctar ajudou bastante - disse eu. - assim que tomei, minha bochecha parou de doer no mesmo momento.
- Vocês tomam néctar? - perguntou Dante confuso.
- O néctar é uma bebida com propriedas curativas - Cesar explicou. - Semideuses podem ingerir, mas não muito.
- O que acontece se tomar mais do que deve? - Dante pareceu bem interessado no assunto.
- Você entra em combustão espontânea - disse Cesar. - Se um mortal tomasse só um golezinho, seria fatal, nós conseguimos ingerir porque temos sangue divino.
- Entendi - disse Dante meio assustado. - Porque tudo que é perigoso no mundo mágico acaba em fogo?
- Boa pergunta - disse Cesar.
Senti um peso em meu ombro e algo se agarrando ali, olhei para o lado e vi que Opheu havia resolvido pousar em mim, acariciei a penugem do pássaro.
- Bom, vamo continuar o passeio - disse Tristan. - Vocês querem nos acompanhar?
- Fica para a próxima - disse Cesar. - Nós vamos ir ver o Arthur.
- Ah, a gente tava já indo para os chalés mesmo - disse Tristan. - Bora todo mundo pra lá?
Concordamos com Tristan e seguimos juntos em direção as construções.
- Ainda bem que vocês vão com a gente - disse Dante. - Eu não aguentava mais ouvir as piadas do Tristan.
- Olha surfistinha, eu estou começando a ter a impressão de que você não gosta de mim - disse Tristan.
- Que bom que sabe disso - disse Dante.
- Dante! - Beatrice o repreendeu.
O mais velho a ignorou.
- Tristan, o que você fez para ele? - disse Cesar.
- Você acha que eu fiz alguma coisa? - Tristan perguntou indignado.
- Sim - respondeu Cesar.
- Que calúnia - disse Tristan ofendido.
- Vou ter que defender o Cesar-Kun - disse eu. - O Dante-Kun é uma pessoa muito pacífica.
- Tá - Tristan ergueu as mãos derrotado - Talvez... possivelmente... eu tenha dado em cima da Beatrice e agora ele tá puto comigo.
- Faz sentido - pensei alto. - Ele é muito protetor com a irmã.
- O que eu faço para reverter isso? - perguntou Tristan. - Meu papel nesse acampamento é ser amigo de todo mundo, não queria causar uma impressão ruim.
- Que tal não dar em cima da irmã dele? - sugeriu Cesar.
- Aí já tá querendo demais da minha pessoa - disse Tristan. - Fazia tempo que ninguém gostava meus flertes.
- Bom, se ela gostou, acho que o Dante-Kun vai ter que aprender a lidar com isso - disse eu.
Conforme passávamos pelos chalés, via os campistas que conheci fazendo suas atividades rotineiras e os semideuses que chegaram a pouco tempo, como Dante e Beatrice, encantados com o local.
Não entendi o porquê na hora, mas estar de volta me gerou uma sensação de paz, mesmo estando longe de termos uma vida comum, esse é o nosso lugar, nosso lar.
Vi Rubens Naluti, um dos irmãos de Liz, sentado em frente ao chalé 6 com uma pilha de livros, ao seu lado, o sátiro Johnny tentava o convencer de ir jogar vôlei com um grupo de campistas de Hermes e Apolo.
- Vai! - o sátiro balançou a mão na frente do rosto do amigo. - Só uma partidinha, por favor.
- Não - Rubens virou uma página.
Jiro Yukami (o garoto mais velho do chalé de Afrodite) e Naomi Akechi (a concelheira chefe do chalé de Hermes) iam em direção a Arena de Treinamento conversando em japonês.
Yuki Mikan (a concelheira chefe do chalé de Hécate) e seu irmão Dominic Sy Pierre acenaram para nós.
- Bonjour! - Dominic tinha o sotaque francês bem evidente.
- Bonjour! - Beatrice acenou de volta.
- Boa tarde - Dante sorriu tímidamente.
Deduzi que eles se conheceram no dia anterior, afinal, Dante e Beatrice são seus irmãos também.
Ao chegarmos em frente ao chalé 7, vi que Fernando estava saindo do local.
- Oi gente - ele nos cumprimentou gentilmente - Que bom que já acordou, Joui.
Retribui o sorriso sem dizer nada. Não queria ser grosseiro com uma pessoa tão gentil, mas precisava saber como Arthur estava.
- Bom, nós vamos continuar a visitação - disse Tristan. - Até mais tarde, pessoal.
Cesar e eu nos despedimos do restante do grupo, que foi embora junto de Fernando, nos deixando novamente sozinhos.
Assim que entramos, vi Arthur sentado em sua cama e Agatha a sua frente conversando com o garoto.
Arthur agora usava uma camiseta do acampamento como o restante de nós, havia um nó na manga esquerda (onde seu braço havia sido amputado).
- Então! É o que eu tô falando a um tempão pro velho... - Agatha notou nossa presença e sorriu alegremente. - Joui, você acordou!
- Acordei - disse eu.
- Você sobreviveu, isso é ótimo - disse ela. - Sua cicatriz é muito foda.
- Valeu - agradeci.
- Eu sabia que iria sobreviver - Arthur abraçou apertado. - Você é forte.
- Você também é muito forte - retribui seu abraço. - O único que não consegue enxergar isso é você mesmo.
Arthur continuava com seu caracterisco sorriso estampado no rosto, mas não era o mesmo de sempre, ele vinha com um tom nítido de tristeza, por mais que Arthur estivesse tentando esconder sua dor.
- Você está bem? - perguntei.
- Agora que sei que você está bem, sim - disse ele.
- E o Thiago-Sensei? - perguntei. - Vocês acham que ele vai voltar?
- Eu não sei, Joui - disse Cesar.
- Eu queria poder dizer ao contrário, mas se ele não voltou até agora... - Arthur não completou a frase.
Eu não posso perder a esperança, tenho que confiar na Afrodite. Pensei.
- Claro que ele vai, é o Thiago - disse Agatha. - Vocês estão se preocupando a toa, ele sabe se virar, a Liz deveria saber disso melhor do que ninguém mas ela nunca me escuta.
- Você tentou falar com ela? - perguntei.
- É claro - disse Agatha - eu não sei qual impressão que vocês tiveram quando ela chegou gritando comigo na Casa Grande, mas eu não odeio a Liz.
- Eu achava que vocês duas eram inimigas - confessei. - mas quando vi Liz se despedir de você e te abraçar, eu percebi que ela também não te odeia.
Agatha sorriu discretamente.
- Nós éramos amigas - contou Agatha. - Foi ela, o Thiago e o Daniel quem me trouxeram para o acampamento.
- Daniel Hartmann? - perguntou Cesar.
- Sim, Daniel é filho de Atena, ou melhor, era - disse Agatha. - Ele era o concelheiro chefe do chalé 6 antes da Liz, todo mundo admirava sua inteligência, ele sabia tudo sobre os monstros, passava dias escrevendo e desenhando sobre eles.
- Eu não fazia idéia de que ele era um semideus - disse Cesar.
- Ele era um dos melhores heróis do acampamento e sabia disso - disse Agatha. - teve uma ideia que salvou muitos de nós, escreveu vários livros que instruíram como sobreviver a ataques de monstros, seus contos de terror são praticamente guias de sobrevivência para meio-sangues novatos.
Daniel era um escritor de terror muito famoso por suas histórias de monstros e criaturas paranormais, um dia ele simplismente desapareceu e ninguém conseguiu encontrá-lo. Eu nunca li nenhum de seus livros, mas me lembro muito bem da notícia espalhada por todo lugar, falaram que ele havia cido sequestrado. Faz completo sentido ele ter sido um semideus, já que supostamente morreu muito jovem e de forma misteriosa.
- Então, o Dante não mentiu nisso... - Arthur pensou alto.
- Sobre o quê? - perguntei.
- Ele aprendeu feitiços de verdade com os livros do Daniel - disse Arthur.
- A Névoa faz o papel de encobrir várias páginas para os mortais - disse Agatha. - Dante é o loiro cabeludo, que o Arthur não para de falar sobre, né?
- Agatha! - Arthur cobriu o rosto completamente envergonhado.
- Ah, qual é - Agatha cruzou os braços. - Eu não aguento mais você falando o quanto os rituais deles são foda, mas você nem pensou em perguntar sobre meus rituais.
- O Dante-Kun disse que vai me ensinar um ritual de cura - contei me sentindo mais a vontade com o rumo da conversa.
- Traidor! - disse Agatha. - Eu não espera isso vindo de você, Joui.
- O que eu fiz? - perguntei.
- Me trocou por um loiro odonto na cara dura! - disse Agatha emburrada. - Eu tenho certeza que eu posso te ensinar um ritual muito mais forte do que esse Dante ensinaria.
- Eu não troquei ninguém - me defendi. - vocês dois são meus amigos.
- Mas você vai transcender com ele! - disse Agatha.
- Fazer o que? - perguntei confuso.
- Pergunta pro seu amiguinho - disse Agatha.
- Sério isso? - disse me segurando para não rir. - E vocês ainda tem a coragem de dizer que eu sou ciumento.
- É porque você é - disse Cesar.
- E você não, né? - disse eu.
- Não - disse Cesar.
- Se você diz... - sorri de canto. - o que você acha de ir comigo no chalé de Hermes procurar pelo Nathaniel depois?
- De jeito nenhum - disse ele. - Você sabe o quando eu me esforcei para não trombar com ele até agora?
- Tudo bem, eu vou sozinho, então.
- Mudei de idéia, vou com você - disse Cesar.
- Porquê? - perguntei. - Você nem gosta dele.
- Porque ele vai ficar dando em cima você - disse Cesar.
- E porque exatamente isso seria um problema?
Cesar não respondeu.
- O Cesinha se entregou por absolutamente nada - disse Agatha.
- Cala boca - Cesar corou.
- Não precisa ter ciúmes, Cesar-Kun - o abracei de lado. - O Nathaniel é só um amigo, eu não gosto dele desse jeito.
- Não? - perguntou Cesar surpreso.
- Claro que não - disse eu.
- Vocês dois querem um quarto? - Arthur brincou.
- Parou! - disse Cesar.
- Pelo amor dos deuses, se peguem logo - disse Agatha. - Afrodite já deve estar se revirando de raiva no Olimpo.
Me lembrei da minha conversa com a deusa do amor e corei, Agatha não estava totalmente errada.
- Você não ter vergonha na cara? - disse Cesar.
- Não - disse Agatha. - eu só quero que vocês parem logo de frescura, é pedir demais?
- Mas então, está tudo bem agora? - tentei mudar de assunto. - Tipo, a gente tecnicamente ainda não cumpriu a missão, Hades disse para irmos ao Olimpo, mas tivemos que voltar, o que faremos?
- Bom, Arthur me contou a história toda e na a minha humilde opinião, o melhor a se fazer é conversar com os velhos - disse Agatha. - Eles querem conversar com vocês amanhã de qualquer forma.
- Você quer dizer o sr. D e o sr. Veríssimo? - perguntei.
- E o Kenan também - disse Agatha. - Aquele velho sabe de muita coisa, acredite ou não.
- O Kenan-Sama! - exclamei. - Como pude me esquecer dele? Ele tá bem?
- Sim, ele tá na Casa Grande - disse Arthur.
- Que bom - disse aliviado.
- E aí pessoal, vamo sair daqui? - Agatha perguntou. - Você se sente confortável em sair, Arthur?
- Bom... - Arthur colocou a mão sobre a manga amarrada - eu vou ter que me acostumar com os olhares mesmo, porque não?
- É assim que se fala! - disse Agatha animada. - Vamo aproveitar enquanto a gente ainda pode descansar e tentar esquecer um pouco de toda essa merda.
- E se alguém falar alguma coisa que magoe qualquer um de vocês, é só me dizer que essa pessoa vai ganhar uma passagem só de ida pro Tártaro - disse Cesar.
Arthur se levantou um pouco mais animado.
- Vamos - ele sorriu enquanto andávamos em direção a porta.
_________________________________________Pessoal, acho que vocês já conseguiram notar, mas quando eu disse que seria um capítulo por semana, quis dizer uma semana e mais um pouco (as vezes duas semanas, depende se minha disposição e concentração me permitirem focar em escrever).
Curiosidade do capítulo anterior: O Gonzalez do sonho do Thiago e o Gonzalez policial são pai e filho (sim, eles tem o mesmo nome). O policial foi mais por referência ao RPG do que algo canônico, já o garoto do sonho do Thiago é outra história.
Curiosidade bônus: A policial parceira do Gonzalez se chama Elizabella.
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O Segredo No Acampamento
Hayran KurguDeuses são reais. Todas as criaturas mitológicas são protegidas aos olhos mortais através da Névoa, porém, tudo tem suas brechas: semideuses, os descentes meio mortais dos deuses gregos. Seres extremamente poderosos e ao mesmo tempo tão vulneráveis...