Arthur - O Herói Perdido

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Eram muitas informações para processar de uma vez, Porteiro na verdade era só mais uma vítima de Santo Berço.
– Nêmesis roubou a Máscara do Desespero – contou Porteiro.
– Quê? Porque ela faria isso? – perguntei.
– Eu não sei muito quais foram suas motivações.
– E como é que você tem essas informações? – perguntou Liz.
– Depois de vocês chegarem, Ferreiro me contou que ele fez um acordo com a deusa – disse o Porteiro. – Ela já queria acabar com Santo Berço desde o surgimento desse lugar mas Hades nunca permitiu, pois seria um massacre que acabaria com o equilíbrio do Mundo Inferior, ele receberia muitas almas que não estavam prontas para morrer, depois do deus apresentar seu lado, Nêmesis mudou de ideia pois, segundo o que o Ferreiro disse, para ela manter o equilíbrio é o que mais importa.
– E onde essa história se encaixa com o roubo? – perguntou Joui.
– Depois da deusa perceber que vocês viriam atrás dela, ameaçou o Ferreiro de realmente acabar com Santo Berço se ele não ajudasse a se livrar de vocês – disse o Porteiro. – Esse foi o acordo, se ele entregar vocês, aqui vai continuar existindo.
– Deixa eu adivinhar: ele pediu sua ajuda para nos matar – concluiu Cesar.
– Basicamente – disse o Porteiro.
– E agora? – perguntou Beatrice. – O que vamos fazer? Não sabemos para onde ir.
– Sobre isso, tem mais uma coisa que vocês não sabem sobre Santo Berço – disse o Porteiro. – O Labirinto Infinito não é um labirinto qualquer.
– É, isso nós já percebemos – disse Cesar. – O que é esse treco a final?
– É um labirinto mágico, o centro é uma entrada para uma caverna, lá dentro, foi onde eu cresci, é onde todos os Manaciais ficam – disse o Porteiro. – E no final dessa caverna, existe uma entrada para o Mundo Inferior.
– Então, existem outros Mananciais – disse Liz.
– Sim – falou Porteiro. – Meus irmãos.
– Aquela energia que eu senti veio do Submundo? – perguntou Dante.
– Como assim? – perguntou o Porteiro.
Dante explicou o que havia acontecido quando entramos no labirinto.
– Você disse que sentiu a energia de uma entidade... – disse o Porteiro. – Não foi exatamente o Mundo Inferior o que você sentiu, foi o ser que rege Santo Berço, o que nos mantém presos aqui.
– Que ser? – perguntei.
– É um Parasita de Dimensões – contou o Porteiro. – Ele nos parasita, se alimenta de nossas essenciais ede nossa existência, em troca, temos esse local como moradia, para nunca precisarmos sair de perto do santo.
– Um Parasita! Como eu não pensei nisso antes? – disse Liz.
– Tá tudo bem, você não tinha como saber – disse Thiago.
– O que podemos fazer para ajudar? – perguntei.
Agora entendia o porque o Porteiro fez o que fez, ele estava completamente desesperado, se sentindo vulnerável, assustado e preso a esse lugar. Isso não podia continuar assim, mesmo que esse não fosse nosso objetivo principal, não podemos deixá-los naquele estado.
– O que podemos fazer para libertá-los? – perguntei.
– Fujam daqui, vão até Hades e contém para ele quem é a verdadeira culpada, a fuga de vocês já será o suficiente para Nêmesis querer destruir Santo Berço – disse o Porteiro.
– Mas e os moradores e você? – perguntou Joui. – Vão ficar bem?
Porteiro abaixou a cabeça.
– Como eu disse antes, a transformação em luzídio não tem volta, já estamos conectados completamente a Santo Berço.
– Tem que ter outro jeito – disse eu. – Podemos tentar conversar com Hades, ele pode...
– Não existe outra maneira – disse o Porteiro. – Já estamos condenados, nós e o santo somos um, quando o Parasita deixar de existir, iremos junto.
Não, eu não posso deixar isso acabar assim. Pensei.
– Temos que ser rápidos – disse o Porteiro. – Eu vou ajudá-los a chegar no Labirinto, o Ferreiro já está atrás de mim de qualquer forma, me usem como uma distração.
– Mas...
– Não temos tempo para discutir – o Porteiro abriu a porta. – Obrigado, por terem me ouvido, serei eternamente grato a vocês.
– Vamos fazer o melhor que pudermos – disse Thiago. –, mas... como exatamente iremos chegar até o centro do labirinto sendo que ele sempre muda?
– Acho que Cesar vai conseguir mostrar o caminho – disse o Porteiro.
– Eu?– disse Cesar.
– Você acha que ele vai conseguir? – perguntou Liz.
– Você é ou não filho de Hades? – perguntou o Porteiro. – Se alguém vai conseguir achar o caminho para o Mundo Inferior da forma menos nociva é você.
– E qual é a outra forma? – perguntou Cesar.
– Se conectar ao santo e marcar o símbolo espiral de alguma forma na pele – disse o Porteiro. – Eu mesmo poderia guiá-los, mas alguém precisa tirar o foco de vocês dos olhos do Ferreiro.
– Ok, a gente vai com a primeira opção – disse Cesar. – Rezem para que eu consiga fazer isso mesmo.
– Eu sei que vai – tentei encorajá-lo.
– Eu não vou conseguir me encontrar com vocês de novo a tempo... – disse o Porteiro. – então, eu queria saber pelo menos como vocês se chamam, qual é o nome da equipe de vocês?
Nos entreolhamos.
– Nós... não paramos para pensar nisso – disse Liz sem graça. – Mas nos sentiríamos honrados se você desse alguma sugestão, Porteiro.
– A única coisa que vocês são para mim é a esperança.
– Então nós somos a Equipe E – disse Liz.
Descemos as escadas até o andar de baixo novamente.
– Fiquem aqui por um tempo, até sentirem que é seguro para ir – disse o Porteiro com a mão na maçaneta.
– Senhor Porteiro, se existir alguma possibilidade de você sair vivo, nós vamos tentar achar esse caminho – disse Joui.
– Obrigado – agradeceu o Porteiro. – Eu ainda estou muito confuso com tudo o que está acontecendo, eu não sei há razão de muita coisa mas, não importa o que aconteça, sabiam que vocês são os meus heróis.
Aquela foi a última coisa que ele disse antes de ir.
Nos mantivemos escondidos como instruído por Porteiro.
Consegui ouvir muitos passos e gritos, então, algo caiu no chão, sons metálicos começaram a ecoar. Estava acontecendo uma briga do lado de fora.
Esperamos até que toda a confusão se afastasse da Torre.
Cesar foi na frente para abrir a porta, se camuflando entre as sombras (que já estavam mais fortes naquela hora do dia) para garantir que não fossemos pegos. Ele hesitou por um momento em prosseguir, olhou pela pequena fresta que havia sido aberta, vi sua expressão mudar completamente. Cesar fechou a porta.
Ele se virou para trás, fez um gesto para que fizessemos silêncio e colocou o ouvido na porta.
Ouvi passos pesados se aproximando, mas eles passaram reto por nós, se distanciado novamente.
Cesar soltou o ar que segurava.
– O Guarda estava aqui – contou ele. – Vamos.
– Espera – disse Dante. – Não seria mais fácil eu nos deixar invisíveis através da Névoa? Como fiz na escola para fugirmos da Degolificada.
– Você conseguiria fazer isso pelo caminho todo? – perguntou Liz.
– Sim – disse Dante confiante.
Cesar abriu espaço.
– Vai você na frente, então.
Dante concordou e abriu a porta bem devagar, tomando cuidado para que ela não rangesse.
– Fiquem todos juntos, de preferência, perto de mim – disse ele.
Levei isso ao pé da letra e me mantive grudado no loiro, ele não pareceu ter se incomodado com a aproximação repentina. Beatrice ficou do outro lado do irmão.
– Orpheu, fica quietinho, você nunca cantou, não vai me resolver fazer isso agora – ouvi a morena conversar com seu pássaro em voz baixa.
Liz e Thiago ficaram no meio do grupo.
– Joui, fica do meu lado – ouvi Cesar conversando com o asiático.
– Ok – disse Joui.
Essa seria uma ótima oportunidade para provocá-lo se não fosse pela situação em que nos encontrávamos.
Enquanto andávamos, percebi que os moradores estavam indo em uma direção específica.
– O que será que eles estão fazendo? – cochichei para Dante.
– Arthur, eu estou com um péssimo presentimento – disse Dante. – Espero que o Porteiro fique bem...
No caminho, acabamos tento que ir junto dos luzidios, o Labirinto era caminho de onde eles estavam indo.
Os moradores haviam se aglomerado no Bosque da Provação.
Segurei um grito ao ver o Porteiro na frente de todos, Ferreiro estava o imobilizando.
– Arthur – Thiago tocou em meu ombro. – Vamos entrar.
Estava tão concentrado em entender o que estava acontecendo que nem reparei a entrada do Labirinto logo em frente.
Cesar tomou a liderança da equipe, entramos de mãos dadas para garantir que não nos perderíamos.
O cabeludo parou na primeiro bifurcação repentinamente.
– Me sigam.
Cesar nos guiava com precisão, como se conhecesse o lugar a anos. Nos seguiva por caminhos que pareciam ser todos iguais mas a confiança com que ele andava me fazia nem se quer pensar em questionar suas decisões.
A Névoa havia ficado densa ao ponto de não conseguirmos ver uns aos outros, se não estivéssemos andando de mãos dadas, já teríamos nos perdido. A partir de um ponto, após termos virado uma curva a esquerda, senti meu corpo inteiro se arrepiar, um calafrio percorreu a por minha espinha, tive a sensação como se estivéssemos prestes a nos jogarmos de um precipício.
Apertei mais ainda as mãos de Dante e de Joui.
– Você também conseguem sentir isso? – perguntei reseoso.
Todos disseram que sim.
– Tá tudo bem, nós estamos juntos e é isso que importa – disse Joui. – A gente vai se proteger.
– Vai dar tudo certo – ouvi Thiago dizer.
Suas palavras suaves me deixaram realmente mais calmo.
Continuamos seguindo Cesar pelo caminho que parecia ser pura Névoa.
Parei bruscamente ao ouvir um grito de agonia ao longe, logo em seguida, várias pessoas começaram a gritar e falar bem alto. Antes somente isso tivesse acontecido, de dentro do Labirinto começou a ecoar um estrondoso som, parecido com um alerta de guerra, me senti um pouco tonto, minha cabeça parecia que estava prestes a explodir, ouvi um zunido e quando me dei conta, o som havia parado.
– Vocês escutaram essa voz? – perguntou Cesar.
– Qual? Tem muita gente falando ao mesmo tempo – disse eu.
– A daqui de dentro – disse Cesar. – Me parece familiar.
– Voz? – perguntou Thiago. – Tá mais para um alarme de incêndio trezentas vezes mais amplificado.
Cesar negou com a cabeça.
– Vamos continuar.
Senti meu braço ser puxado com força, o que me fez apertar o passo.
– Como você sabe para onde estamos indo? – ouvi Beatrice perguntar.
– Não faço ideia – disse Cesar. – É quase como um sentimento... não sei explicar.
Por um momento comecei a achar que estávamos andando em círculos. Há quanto tempo estávamos nisso? Duas horas?
Senti uma brisa gelada bater em meu rosto.
– É ali na frente – disse Cesar.
Havíamos finalmente chegado em algum lugar, aquele vento todo vinha de um longo corredor. Passei a escutar o som de um coração batendo, não era tão alto quando o último som que o Labirinto havia produzido, era mais como quando não conseguimos tirar uma música da cabeça.
No final do corredor, consegui finalmente ver o que nos aguardava: a boca de uma grande e escura caverna.
– Chegamos ao nosso destino – disse Joui.
– Ainda não – disse Cesar. – Falta pouco, um pouco mais a frente, vamos prosseguir.
– Vocês acham que vai dar tempo de salvarmos o Porteiro? – perguntei.
– Eu... acho que já é tarde demais – disse Liz.
Não quis acreditar nela, mesmo sabendo que era verdade, me recusei a aceitar que era o fim para ele.
Olhar para a escuridão dentro daquele lugar me fazia pensar que estávamos indo em direção da morte (o que tecnicamente era verdade).
– Você acha que vai conseguir nos guiar lá dentro, Cesar? – perguntei.
– Sim.
– Então, vamos – disse eu.
Lá dentro era muito gelado, fiquei até um pouco preocupado com Cesar, mas ele parecia bem. Das paredes escorria uma espécie de lodo preto nojento, evitei ficar mas beiradas. A batida de coração ficava cada vez mais evidente e alta conforme íamos andando para mais fundo.
Saquei meu arco já me preparando para uma possível batalha, o restante da equipe fez o mesmo.
A caverna ficava cada vez mais escura conforme avançamos.
– Liz, você trouxe lanterna? – perguntou Thiago.
– Sempre – ela abriu sua mochila. – Eu sou a única que lembra de levar essas coisas, é impressionante.
– Olha.. eu posso tentar amplificar a luz, para conseguirmos enchergar melhor do que somente com uma lanterna... – disse eu.
– E desde quando você consegue fazer isso? – perguntou Cesar.
Me lembrei da primeira semana que havíamos passado no acampamento e do dia em que eu quase ceguei metade do chalé de Apolo com uma lâmpada.
– Desculpa... eu não queria...
– Você quem fez isso, Arthur? – perguntou Fernando esfregando os olhos.
– Acho que sim...
– Foi incrível! – ele abriu um sorriso de aprovação. – É um poder bem raro entro os filho de Apolo, sabia? Eu nunca vi nenhum de nós desenvolve-lo.
– Quase queimar os olhos das pessoas é raro? Que bom – disse eu.
– Calma, só foi um acidente – disse Fernando. – Se você treinar essa sua habilidade, não vai machucar ninguém.
– Eu.. não sei se quero usar isso de novo... – disse assustado.
Apesar do que havia dito, comecei a treinar com Fernando minha manipulação da luz, além do arco e flecha. Não tive coragem de contar a mais ninguém, fiquei com medo de ter que usar meus poderes em alguma batalha e acabar não conseguindo, ou pior, acabar machucando meus amigos.
Estava meio receoso, se quase machuquei meus irmãos uma vez, o que garante que não aconteceria a mesma coisa?
– É uma longa história... acabei não contando para vocês porque... – disse eu. – não é um poder tão útil assim...
– Como não? – disse Joui. – Você controla a luz!
– Comparado ao que vocês conseguem fazer, não é nada... – pensei alto.
– Não é verdade – disse Cesar. – Você tem que para de se subestimar.
– Subestimar? Me fala um momento em que eu fui útil até agora.
– Não o chamamos para vir conosco a toa – disse Joui. – Sabemos o quanto você é forte.
Liz me entregou a lanterna.
– Eu sei que você consegue, não precisa ter medo.
– Faz sua mágica, meu querido – incentivou Thiago.
– Mas...
– Arthur, tá tudo bem – disse Dante. – Se alguma coisa acontecer eu inibo sua magia.
– Você consegue fazer isso?
– Sim.
Percebi que ele estava mentindo (provavelmente para tentar me tranquilizar), mas mesmo assim me senti feliz em saber que ele se preocupou e tentou me confortar. Bom, eu mesmo que havia dado essa ideia, não tinha mais como esconder esse poder.
– Ok... eu consigo fazer isso melhor com luz solar, então, se afastem um pouco, não quero acabar cegando vocês – disse enquanto andava para o lado de Cesar.
Foi fácil. Liguei a lanterna e passei minha mão suavemente pela luz artificial emitida, me concentrei na fraca onda de calor que o objeto emanava e a claridade começou a se expandir, amplificando nosso campo de visão.
– Que descolado! – ouvi Joui dizer.
– Muito foda! – disse Cesar.
– Imagina o que você pode fazer se treinar isso direito? – disse Liz.
– Pode ajudar muito em batalhas! – disse Thiago.
– Viu? Deu tudo certo, não precisa ter medo dos seus poderes – Beatrice acariciou minhas costas.
– A Bea está certa, o medo só acaba afetando a execução do poder, o desempenho de qualquer magia, sendo invocada ou não, se liga diretamente com o emocional – contou Dante. – O que eu quero dizer é que... você é tão capaz quanto todos nós.
Sorri involuntariamente me sentindo um pouco mais confiante.
Cesar continuou nos guiando. Agora que conseguíamos enchergar a nossa frente, percebi que o lodo nas paredes parecia se mexer, como se fosse algo vivo.
Chegamos até uma bifurcação. Cesar a analisou por um momento e escolheu a esquerda.

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