Arthur - Ventus

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A tempestade se transformou em um pequeno furacão em questão de segundos. Nuvens em forma de funil se aproximavam da cafeteira.
Corremos para fora do estabelecimento. Se não tivéssemos pego nossos pertences a tempo, o vento os teriam levado embora.
Dante perdeu o equilíbrio no chão e quase caiu, mas consegui agarrá-lo e o puxei de volta.
– Obrigado – disse Dante.
– Vamos logo! – gritou Liz.
Fomos o mais rápido possível em direção a saída, considerando o chão escorregadio, isso demorou mais do que se não tivéssemos que nos preocupar em nos equilibrar. O casaco de Dante sacudia para todos os lados, os cabelos batendo no rosto. Imaginei que ele devia estar morrendo de frio, mas parecia calmo e confiante, ele encorajava a irmã a continuar andando.
O vento também não parecia estar ao nosso favor, ele nos puxava para trás, como se uma força maior nos impedisse de prosseguir.
Conseguimos sair no último momento, assim que deixamos o local, as portas bateram com força, fechando a única saída livre.
De repente, consegui ver misturado as densas nuvens, um ser humanoide feito de vapor, seus olhos eram fagulhas elétricas em uma nuvem viva. Ele voou por cima de nós com suas asas de vapor.
– É um ventus – disse Liz. – Um espírito da tempestade.
– Ah, que ótima notícia – disse Cesar.
– Muito bom, semideuses, com tantos de vocês no mesmo local, praticamente pediram para serem encontrados – disse o ventus. – Agora, entreguem o filho de Hades.
– De jeito nenhum! – gritei.
– Vamos fazer isso do jeito difícil, então. Outros dois funis de vento se aproximaram e se transformaram em ventus.
– Se separem! – gritou Liz e seguiu em direção oposta a minha.
Eu, Dante, Beatrice e Joui corremos para a direita.
Ao centro da rua, onde o grupo se encontrava anteriormente, um raio caiu.
Um dos ventus nos encurralou, ele ergueu a mão e arcos de eletricidade se formaram entre seus dedos.
– Não! – Joui se colocou em nossa frente.
Uma descarga elétrica atingiu Joui. Ele caiu batendo as costas no asfalto.
O ventus sorriu e preparou um novo ataque.
– Pare – de alguma forma Joui havia conseguido se levantar cambaleando.
– Como você está vivo? – perguntou o ventus franzindo a testa. – Aquela descarga deveria tê-lo matado na hora!
– Adivinha? – Joui pegou a caneta esferográfica de seu bolso e a destampou, fazendo sua Katana surgir. – Sou um filho de Zeus, eu absorvo descargas elétricas.
O ventus rosnou e partiu para cima de nós novamente.
Preparei minha flecha, consegui acertar seu ombro, fazendo com que o local atingido se dissolvesse.
– Malditos semideuses! – ele segurou no ombro ferido, achei que por ser feito de nuvens, nada de mais aconteceria, mas ícor - o sangue dourado dos imortais - escorria de seu corpo.
Foi a vez de Dante e Beatrice agirem. Dante pegou o livro que tinha me mostrado noite passada, (uma antiga cópia de Divina Comédia, dentro dele, o loiro fez seu próprio grimório) e o folheou rapidamente em busca de algo. Enquanto isso acontecia, Beatrice agachou no chão e pegou um graveto que, ao entrar em contato com as mãos da garota, dobrou de tamanho.
Uma boa arma improvisada. Pensei.
Dante finalmente achou o que procurava, ele estendeu uma de suas mãos, encarou o ventus a nossa frente completamente concentrado e focado.
– Rotura – disse ele e estalou os dedos.
O ventus tirou a mão que estava em seu ombro e colocou em volta de seu corpo, abraçando a si mesmo e se contorcendo de dor, consegui ver buracos se formando em torno de seu corpo, de onde começou a jorrar ícor.
– Filho da puta! – gritou o ventus furioso.
Beatrice aproveitou a deixa para acertá-lo no meio do peito, fazendo com que o monstro finalmente se transformasse em pó amarelo.
Eu olhei para os irmãos, antes, eu os via como pessoas que precisavam de proteção, mas finalmente percebi que eles não eram nem um pouco indefesos.
Dante deixou o livro cair, ele parecia tão surpreso com o que tinha acabado de fazer quando eu.
– Dante? – fui correndo em sua direção quando o vi suas pernas vacilarem. – Você tá bem?
Beatrice se aproximou do irmão e acariciou o cabelo do mais alto.
– Ele vai ficar bem – garantia ela. – Sempre fica meio tonto depois de ter que fazer uma coisa dessas.
– Aquilo foi impressionante – disse Joui. – Vocês dois são muito mais fortes do que eu imaginei.
Beatrice abriu um sorriso de canto para o asiático.
– Obrigada, mas ainda não acabou – a morena apontou para um segundo ventus vindo em nossa direção sibilando.
Percebi o medo nos olhos daquele monstro.
– Vocês não tem ideia de quantos inimigos despertaram, meio-sangues. Vocês vão ter que escolher um lado na guerra, vai mesmo trair seu pai por eles, Joui Jouki?
– Diga para meu otousan que ele é um idiota – disse Joui.
O ventus sorriu.
– Como quiser. Se você decidiu sentir a ira do próprio pai, não posso fazer nada.
O ventus se transformou em fumaça e se juntou novamente as nuvens.
Joui soltou o ar pela boca e deixou seus braços relaxarem.
Estava prestes a soltar meu arco quando ouvi gritos vindo de longe.
Nós quatro nos entreolhamos. Nossos amigos estavam em perigo.
– Onde eles estão? – saímos os procurando pelas ruas movimentadas. As pessoas corriam por todas as direções, desesperadas.
Dante tocou em meu ombro.
– Ali! Encima daquele prédio! – disse Dante.
Os funis de vento haviam se juntado em um só. Eles deviam está lá. Tinham que estar.
– Como vamos chegar lá? – perguntei.
– Assim – Beatrice correu em direção a uma árvore, nós a seguimos.
Começamos a escalá-la, quando já havíamos chegado no galho mais alto, Beatrice pulou para as escadas de incêndio externas do edifício.
– Bea! – Dante a seguiu.
Sem outra alternativa, Joui e eu fizemos o mesmo, subimos as escadas o mais rápido possível, conseguimos chegar ao topo sem mais empecilhos.
A cena era a mesma que esperávamos ver: os últimos dois ventus restantes faziam Liz, Thiago e Cesar de reféns dentro do grande funil.
– Pessoal! – disse Thiago ao nos ver.
– Soltem eles! – atirei no ventus da esquerda.
Minha flecha atravessou seu estômago, Cesar aproveitou para atacá-lo pelas costas, o cabeludo conseguiu o segurá-lo no chão enquanto Liz e Thiago foram para cima do segundo ventus com suas armas em mãos.
Liz fincou sua foice no ombro do homem-nuvem e puxou até que o braço no monstro estivesse completamente desfeito, em seguida, Thiago o golpeou lateralmente, fazendo ele se desfazer em pó e desapareceu em meio a tempestade.
– Não! – gritou o último ventus restante.
O espírito então urrou e lançou uma torrente que atirou todos para trás. Eu, Beatrice, Joui e Dante caímos no chão. Thiago bateu com a parte de trás da cabeça, o que o deixou inconsciente,  Liz correu para socorrê-lo. Cesar conseguiu levar o pior. Ele que estava imobilizando o ventus, se soltou com o golpe e foi parar direto na ponta do terraço, de onde escorregou e ficou pendurado, se segurando por apenas uma mão.
Eu e Joui corremos sem pensar duas vezes da direção de Cesar, mas não fomos rápidos o suficiente. Ele escorreu.
– Cesar! – gritei ao chegarmos na borda.
– Joui! – gritou Liz enquanto cuidava do namorado. – Salve Cesar!
– Como? Ele caiu! – disse Joui.
– Você não é filho de Zeus? Voe até ele! – disse ela.
– Eu não sei voar! – respondeu Joui.
– Claro que sabe! Só nunca tentou, salva ele!
Joui olhou o horizonte, depois olhou para mim, quase como estive perguntando se ele deveria considerar fazer aquilo.
Balancei minha cabeça negativamente, já sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
– Joui...
Ele correu em direção a borda e saltou.
– Não! – me inclinei na beirada para ver o que estava acontecendo.
Joui encolheu os braços e mergulhou de cabeça, eu não tinha como fazer nada além de assistí-los caírem. Num estante ele estava junto de Cesar, que caia vertiginosamente. Agarrou a cintura dele. Cesar gritava completamente desesperado. Eu não poderia fazer nada para impedir a morte de meus melhores amigos.
De repente, eles não estavam mais caindo. O grito de Cesar se transformou em um arqueijo sufocado. Eles estavam flutuando no ar, voltando em minha direção.
Eu sorri aliviado.
Olhei em volta, a chuva havia parado, não tinha mais nenhum sinal dos espíritos da tempestade, mas isso não significa que estávamos seguros.
Assim que eles pousaram, corri para abraça-los.
– Nunca mais faça esse tipo de coisa, Joui! – minha voz saiu trêmula.
– Me desculpe... – disse Joui.

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