11 - traumas

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- Ellie, você entendeu tudo errado...

- Você já falou isso milhões de vezes Carl! - digo, o interrompendo - Enid gemeu, falou coisas que eu preferia nem ter ouvido, você mesmo disse que era sua primeira vez fazendo aquilo! Carl, eu sei bem o que estava acontecendo naquele quarto!

- Ah Deus! - ele começa a rir

- Qual a graça, Grimes?

- Prefiro que me chama de amor - ele diz sorrindo para mim

- Eu vou dar um tapa na sua cara se continuar de gracinha

- Foi o Ron. Ele me trancou com a Enid naquele quarto, ele soube que estávamos juntos e resolveu fazer isso. Ele queria nos separar para ficarmos mal. E com o lance do meu pai... Ah que se foda! Ele quer que eu fique pior ainda, mesmo com o meu pai morto! - ele suspira um pouco pra falar e eu abaixo a cabeça

- Me explique direito, o que foi aquele gemido da Enid?

- Estávamos abrindo a janela, mas era pesada, eu deixei cair nos dedos dela e ela soltou um gemido de dor. Tive que contar sobre nós a ela, ela só ficou com medo de você me magoar, mas eu te juro, não aconteceu nada! - ele se aproxima de mim e segura em minhas mãos

- "vai mais rápido" "é a minha primeira vez" o que foram essas frases? - falo tirando minhas mãos das dele

- Ellie... - ele suspira e tenta se aproximar mais ainda de mim, deixando nossos corpos perto até demais - Ela disse para eu tentar abrir mais rápido, justamente pra você não nos ver naquela situação e pensar coisa errada. Enid não queria isso, muito menos eu. Eu disse a ela que era minha primeira vez, em um tom de ironia por ela ter me apressado. Como se fosse "Ah é minha primeira vez fugindo de uma casa pela janela a procura da minha namorada" - ele fala e bota o anel em minhas mãos - Não deixe Ron ter o que quer. Não deixe ele nos separar, Ellie. Você tem que acreditar em mim quando digo que te amo.

Olho profundamente para ele e o beijo.

- Eu acredito em você, amor - digo, separando o beijo e sorrimos um para o outro

- Ah que bom! Você me deu um puta susto!

Rimos.

Ficamos um tempo curto em silêncio, olhando um para o outro ali. Até que eu ouço um barulho de chuva e me encolho em seu colo.

- Ah minha pequena, não precisa ter medo - ele levanta minha cabeça, me fazendo olhar profundamente para ele - porque tem tanto medo da chuva?

Olho para baixo, descendo o olhar, só de pensar naquilo me dava arrepios.

- Minha mãe. Ela foi mordida. Estávamos a procura de abrigo, logo no começo. Eu, lizzie, e ela. Tudo tinha acabado de começar, nosso acampamento foi invadido, estava escurecendo e precisávamos de um lugar para passar a noite. Achamos um prédio, tinha um bando na entrada, provavelmente duas dúzias... minha mãe disse para entrarmos, ela iria dar um jeito nos zumbis... Foi aí que começou a chover. A chuva atrapalhou sua visão e eu e a Lizzie vimos ela ser mordida... nós tínhamos apenas 10 anos! Vimos nossa mãe ser devorada por zumbis, estávamos sozinhas... Aquele foi o pior dia da minha vida - digo, tentabdo ser forte, mas acabo desabando em lágrimas e enterrando minha cabeça em seu peito

- Eu sinto muito por ter passado por isso meu amor. Ah meu Deus eu sinto muito mesmo. - ele me abraça - Posso fazer outra pergunta?

- Sim

- Como sobreviveram? Vocês eram novas demais... como conseguiram?

- Ah... Depois disso, Lizzie ficou parada ali. Ela ficou paralisada. Eu fiquei em choque, mas tive que ser forte por ela. Arrastei ela para dentro do prédio, meia dúzia deles estavam vindo para cima de nós. Se eu não a tivesse puxado, não sei o que seria de mim. Eu não aguentaria. - suspiro - apenas sobrevivemos. Ficamos naquele prédio por alguns anos, ficávamos saindo para caçar em florestas... foi difícil, mas conseguimos. Eu mesma fico surpresa por ela ter aguentado tanto...

- Vocês duas aguentaram muito. As duas são guerreiras.

- Ela era, Carl.

- Ela era forte, Ellie. Ela lutou, se sobreviveu todo esse tempo, ela lutou. Isso não é nada fácil. Tem noção do quanto vocês são fortes? - ele para de falar por um instante - perdi minha mãe nesse apocalipse de merda também.

Sento ao seu lado e seguro sua mão.

- Como foi?

- Foi no parto da Judith. Graças a minha mãe, Judith está viva. Tivemos que fazer uma cesariana de emergência, estávamos apenas eu, ela e a Maggie. Ela não sobreviveu, perdeu muito sangue... Eu a matei. - olho para ele de imediato - tive que atirar em sua cabeça para ela não virar uma dessas coisas. Ela não queria virar. Ela iria morrer - Carl segura o choro, mas agora é a vez dele desabar em lágrimas

Ele deita em meu colo, com a cabeça em minhas pernas e eu faço carinho em seus cabelos.

- Sabe... ela cortava meu cabelo. Ela era a única que fazia isso. Quando ela partiu, mais ninguém se interessou a fazer o mesmo. Por isso tenho o cabelo tão cumprido. Eu gosto dele assim. Eu quero ele grande, mas as vezes preciso cortar as pontas, e se minha mãe estivesse aqui, seria ela que faria isso por mim. Ela se interessaria em cortar meu cabelo, eu não teria mais que fazer isso sozinho

- Ah meu bem! - dou um beijo em sua testa, estava planejando algo, então não pude falar nada sobre seu cabelo. Por enquanto.

My salvation • Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora