A semana passava rápida quando não queria que acontecesse. Persephone gostava muito de se esconder na sua casa em Mônaco, esquecendo-se do mundo por meros instantes. A casa não tinha vida, jogou fora todas as plantas que regava pela manhã, deixou de receber flores constantemente e a cozinha raramente era usada. Ainda que a tristeza pairasse o ambiente, sentava-se no sofá para esperar, somente esperar. Mas esperar por quê?
Ligou a televisão e descobriu a falta de pagamento das programações. As contas foram empilhadas na mesinha de centro, porém fazia tempo que não abria qualquer correspondência sem o seu nome. Anthoine gostava de fazer tudo sozinho, pagar boletos era uma dessas atividades.
Dera cinco horas da tarde, e ela esperou mais um pouco. A porta não abriu, o celular continuava silencioso no seu colo e a televisão em tela preta. Ele não viria.
Dormiu no sofá da sala, para acordar no mesmo lugar. Não havia mais ninguém naquele apartamento além dela.
Persephone não acompanhou o pai na próxima corrida com a desculpa de gripe. Lawrence não insistiu, pois não aguentava olhar para Percy por muito tempo. Ele se culpava pelo acidente. Não deveria ter deixado aquela temporada passar, naquele ano Anthoine estava escalado para ser o futuro da Aston Martin ou como era chamada na época, Raicing Point, ao lado de Lance Stroll. Percy não contou a ideia do pai, porque queria que fosse uma surpresa no seu aniversário. Ainda guardava o presente no closet, embrulhado com cuidado e escondido para que não fosse descoberto.
Na madrugada parou no corredor que separava os outros cômodos no apartamento. Um lugar grande para duas pessoas morarem, mas pequeno na concepção da sua mãe.
Ela sempre amou o inverno. A inspiração do seu nome não fazia sentido quando não suportava a primavera no Canadá. No frio ela corria para o lago congelado na propriedade do pai, e tentava dançar no gelo sem conseguir qualquer hematoma. Descobriu a capacidade de copiar alguns passos que via na televisão, então os repetiu no gelo. Quando fora pega no flagra pela mãe começou a chorar, mas no dia seguinte ganhou patins.
Lance girava no seu carinho na neve, e ela alcançava as nuvens com seus giros.
Aos oito competiu sem qualquer ajuda de professores. Subiu no pódio com confiança, recebendo o orgulho dos pais em troca. Ergueu o troféu acima de sua cabeça, o sorriso quase rasgando as bochechas.
Ela nunca mais parou de dançar.
O pai construiu uma sala especial para que ela dançasse, existia uma passagem secreta até seu quarto. O melhor presente que uma menina de onze anos poderia receber.
Persephone dançava todos os dias, no gelo e fora dele.
Fazia anos desde a última vez.
No corredor cheio de retratos nas paredes deu um passo a frente. Era muito tarde, então não conseguia enxergar direito. Sua única plateia estava silenciosa, em luto.