Já havia estado naquele restaurante, porém em uma mesa mais afastada da janela, no meio do salão. O fruto do mar servido era um dos melhores, daqueles que lhe fazia lamber os dedos e pedir por mais. Percy gostava do sabor da lagosta misturada com o vinho amargo. Imaginara que ao fazer contato visual com o garçom, o homem se lembraria, mas não aconteceu nada além do cotidiano.
Jamais se imaginou jantando no restaurante favorito de Anthoine com Charles Leclerc, ou qualquer outro homem que amasse. Ele não se comportava a mesa da mesma maneira, usava somente o garfo, prestava atenção na conversa ao lado e sorria ao ser pego no flagra.
Pedira o mesmo prato anos atrás. Conversou sobre os problemas fúteis de Lance em encontrar uma namorada disposta a aceita-lo com tantos defeitos escondidos, reclamou da mãe em não deixa-la patinar no parque, e em como o pai não aceitava suas dicas financeiras. Anthoine havia rido tanto, que se engasgou com a água. Percy nunca havia se sentido tão completa, e nesses pequenos momentos, não percebemos o quão perigoso pode ser o fim.
Agora era diferente. Ela sabia como poderia ser perigoso.
— Não contei antes, mas Max socou o rosto do Nikita. – Charles ergueu o garfo com um pedaço de lula preso – Esteban separou a briga.
— Foi um soco forte?
Percy sorriu satisfeita. Agora Mick poderia dormir em paz. O russo ficaria um tempo sem infernizar.
— O suficiente para sair sangue.
— Pelo menos nisso ele é bom.
Charles suspirou.
— O que fez foi loucura.
— Rir do assediador?
— Cutucar Max com vara curta.
— Não é culpa minha que ele é louco!
— Estou falando em mentir para manipular. – apontou a lula para Percy – Você causou uma pequena confusão, com uma pessoa normalmente manipulada pelo pai. Não está nem um pouco chateada?
— Chateada pelo Max? – riu sem humor – Quero que ele exploda.
— Ok!
— Você não? Ele quase matou você.
— Não acredito que tenha gostado daquilo.
— Não acredita? Você é muito inocente.
Charles comeu a lula em silêncio.
Percy não se importava em jogar no Verstappen suas frustrações e medo. Ele quase matara o homem que amava, e por um instante, imaginou que Lance havia se matado para salvar o monegasco. A ideia de perder duas pessoas importantes lhe tirou da direção correta, corroeu seu coração, esmagou qualquer esperança. Charles poderia querer resolver tudo com gentileza, mas ela não faria o mesmo. Esperava que Aspen não voltasse nunca mais, e Max entendesse como era sofrer verdadeiramente por um erro somente dele.