Percy apertou o cadarço. Viera duas horas mais cedo, obrigando os responsáveis abrir as portas somente para ela. As luzes foram acesas para que pudesse patinar sozinha. Sem Lance ou qualquer outro conseguia ter mais liberdade, arriscando alguns passos. Charles estava deitado na arquibancada olhando-a com fascínio.
Ela não precisava de música para criar coreografia, mas era difícil não querer arriscar e se arrastar, o frio machucando os dedos, o tornozelo lhe alertando que estava pedindo de mais de si. A cada volta alcançava uma velocidade maior, os cabelos batendo contra sua nuca, a lâmina deixando vários rastros.
Respirou fundo tentando acalmar o coração. Colocou as mãos no joelho. Fazia muito tempo, mais do que queria admitir. Persephone encostou as costas na parede, encarando todo aquele lugar extremamente branco com estranheza. Da última vez que estivera ali era uma pessoa diferente. Não conseguia mais se conectar como antes.
— Chegou cedo hoje, Stroll. – Aiko lhe sorriu cínica.
Uma patinadora sabia quando a outra estava começando a recuar. Percy sempre fora teimosa, então demorava a entender certos sinais. Lance sofria do mesmo defeito. Se eles queriam algo, estalavam os dedos, e não ouviam qualquer resmungo. Ela não falhava nunca. Seus pais lhe deram tudo porque viam a força de uma campeã. As pessoas chegavam com objetivos diferentes naquela manhã, mas todos concordavam que Persephone Stroll começava seu declínio. Demonstrava cada uma de suas falhas.
Olhou para a arquibancada e viu o irmão amarrando os patins. Claire sorriu para a filha, demonstrando o receio em ver Percy decaindo tão depressa.
Três dias sem resultado.
Passou a mão pelas bochechas rosadas, molhando os lábios. Sua versão favorita ainda estava ali, enterrada entre Anthoine e as lágrimas não derramadas.
Ela se esforçou para não ouvir o burburinho ao redor, ou o som que tocava para incentivar quem se esforçava para ganhar alguns pontos em competições medíocres. Precisava ser rápida para conseguir um pulo perfeito. Percy conseguiu o impulso e saltou. O tempo parou, sentiu os olhos se fechar, as mãos juntas, o calor subindo pela espinha. Foram dois giros que pareceram eternos. Retornou ao chão perdendo o equilíbrio. O joelho falhou, porém usou a mão para se equilibrar.
Lance levantou-se depressa, mas Claire o parou.
— Deixe-a.
— Ela quase caiu!
Percy conseguia fazer tudo sem medo. Aquilo lhe diferenciava entre todas. Seus pares ganhavam destaques, pois todos acreditavam que eram seguros, mas tudo vinha dela.
Preparou-se de novo. Os coreógrafos pararam de olhar os alunos, para se concentrar na Stroll. Muitos queriam tê-la, porém nunca precisara de ajuda para vencer.
Patinou e saltou. Contou mentalmente os segundos, pois eram eles que decidiam se havia conseguido.
Um. Dos. Três.