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Seguiram-se dias deliciosos, onde o clima no mar sempre era o mesmo: um sol brilhante que reluzia seus raios no oceano e dava a tripulação a sensação de que conseguiriam navegar até o fim do mundo e um vento calmo e tranquilo, soprando a brisa que...

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Seguiram-se dias deliciosos, onde o clima no mar sempre era o mesmo: um sol brilhante que reluzia seus raios no oceano e dava a tripulação a sensação de que conseguiriam navegar até o fim do mundo e um vento calmo e tranquilo, soprando a brisa que inundava o Peregrino. Lúcia passava um tempão na popa jogando xadrez com Ripchip. Era engraçado vê-lo pegar com as duas patas as peças muito grandes para ele e esticar-se na ponta dos dedos quando tinha de fazer jogadas no centro do tabuleiro. Era um bom jogador e, quando prestava atenção ao que estava fazendo, era certo e sabido que ganhava. Às vezes, porém, Lúcia ganhava, pois o rato fazia coisas incríveis, pondo um cavaleiro em perigo por causa de uma dama ou de um castelo. De repente, esquecia-se de que estava jogando xadrez, julgando-se em um combate real, obrigando o cavaleiro a proceder como ele faria se estivesse no seu lugar. Pois tinha o espírito cheio de arrebatamentos de outros tempos, de missões de morte ou glória, de decisões heroicas. Mia apenas observava sem nada fazer e tão pouco demonstrava algum interesse, para a infelicidade de Edmundo, que adoraria enfrentá-la em uma partida. 

> Porém, não durou muito essa felicidade. Duas semanas depois, em uma tarde em que Mia olhava sonhadoramente para o sulco ou esteira, viu amontoar-se com grande rapidez uma enorme massa de nuvens para os lados do oeste. As nuvens rasgaram-se num buraco e nele apareceu o sol, derramando os últimos raios amarelos do poente. As ondas atrás do navio tomavam formas nunca vistas, e o mar estava com uma cor castanha ou amarelada, como se estivesse sujo. O ar ficou mais frio. O navio parecia mover-se com dificuldade, como se sentisse o perigo perseguindo-o. A vela esticava-se toda e ficava lisa durante um minuto, para no minuto seguinte enfunar-se bruscamente. A menina reparava em tudo isso, perplexa com a sinistra mudança que se havia operado, quando Drinian gritou, dominando o barulho do vento: 

 – Todos ao convés! 

Num instante começaram todos a trabalhar freneticamente. Fecharam-se as escotilhas, apagou-se o fogo da cozinha, e homens subiram lá no alto para recolher a vela. Antes de acabarem, caiu sobre eles a tempestade. Mia teve a impressão de que se cavara enorme vale atrás da proa e que se precipitavam num abismo incrível. Uma grande montanha de água, muito maior do que o mastro, partiu de um pressupondo sobre eles; a morte parecia certa, mas foram impelidos para cima da onda. Nessa altura o navio começou a rodopiar. No convés derramava-se uma catarata de água; a popa e o castelo da proa pareciam duas ilhas separadas por um mar tempestuoso. Os marinheiros esticavam-se lá no alto, tentando dominar a vela. Uma corda arrebentada estalava com o vento, dura e rija como um cabo de ferro. <

– Já para baixo, srta. Ketheleen. Não pode ficar aqui! – bradava Drinian, e Mia, sabendo que a gente da terra é um estorvo para a tripulação, tentava obedecer, mas não era nada fácil. O Peregrino inclinava-se terrivelmente para estibordo, e o convés parecia o declive do telhado de uma casa. 

Completamente assustada e sem conseguir raciocinar, subiu agarrada ao corrimão e teve de esperar um pouquinho abrindo caminho para dois homens subirem, depois desceu da forma mais lenta que conseguiu. Foi uma sorte continuar firmemente agarrada, pois, ao chegar ao fim da escada, atingiu-a uma onda que a deixou ensopada. Sentindo frio, atirou-se de encontro à porta do camarote e fechou-se lá dentro, tentando esquecer a cena do convés e a velocidade com que corriam para a escuridão. Olhou para Lúcia e Gael, tão reprimidas quanto ela, e se aproximou para abraçar as garotas e esperar a tempestade passar.  Havia sempre três marujos agarrados ao leme, vendo se descobriam uma rota. Trabalhavam nas bombas sem parar. Quase não havia descanso para ninguém. Não se podia cozinhar, nem secar roupa, um homem caíra no mar, e o sol sumira completamente.

O BATER DE ASAS DAS BORBOLETAS | Edmundo Pevensie x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora