Sebastian Deinert
— Obrigado por ter mentido para ele. Eu sei que não é o seu forte. — eu tossi. Eu estava sempre com essa tosse sangrenta. Eu não queria nada mais do que rasgar minha maldita garganta do meu pescoço.
— Sim, bem, — Marco disse, me entregando um copo de conhaque. — Um dia ele vai me agradecer por manter a identidade de sua filha em segredo.
Com as mãos trêmulas, eu segurei o copo antes de jogar o conteúdo na minha garganta. Isso me ajudava com esse maldito câncer, mas não por muito.
— Ela é sua filha agora. — eu odiava dizer isso. Eu não poderia nem mesmo encontrar seu olhar. Eu só olhava para o copo vazio. Minhas próprias mãos pareciam tão estranhas para mim.
Quando eu tinha me tornado este homem? Este homem velho, quebrado e cansado que estava frustrado por ver o sol nascer de manhã e ver a lua encher o céu à noite? Quando eu tinha me cansado de viver? Na minha juventude, tudo que fiz era viver, alguns dizem que um pouco demais, mas eu sabia qual seria o meu futuro.
Mesmo agora, não era o suficiente. Eu queria viver mais. Eu queria mais. Era a maldição de ser um Deinert. Queríamos tudo, mesmo o que ainda não conhecíamos. Eu montava como um relâmpago e-
— Sebastian?
Saindo do meu transe, eu olhei para o homem grisalho graciosamente diante de mim com leve inveja. Mesmo agora, ele não parecia ter mais de trinta e poucos anos. Os Urreas, eu juro, tinham encontrado a Fonte da Juventude.
— Minhas desculpas. O que você disse? — eu fiz uma careta, tentando me levantar, mas meu corpo era a minha prisão e eu não podia.
Andando até mim, Marco lentamente me levantou com uma mão. — Eu disse, ela será para sempre sua filha. Quero saber por que você não me contou sobre o câncer. Eu não teria usado isso contra você.— Mentiroso. — ele não podia nem evitar, um pequeno sorriso se espalhou pelo seu rosto. — Eu não queria que ninguém soubesse, Sininho incluída. Mas essa garota idiota é inteligente demais para seu próprio bem e chantageou os médicos para contar a ela. — rindo, peguei a garrafa da minha mesa, derramando algumas gotas em minhas mãos.
Marco acenou com a cabeça, olhando para fora da janela enquanto ele bebia. — Quando eu a conheci, eu estava chocado e com raiva que você permitiria que sua filha ficasse amarrada à vida que escolhemos. Eu tinha que ver com os meus próprios olhos, e vê-la cortar duas mãos dos homens no México, com certeza fez o truque.
— Então você a viu em um bom dia.
Sua sobrancelha se levantou, e tudo que eu podia fazer era bufar.
— Eu não permiti que Sininho fizesse qualquer coisa. Ela não pediu permissão. Ela faz o que quer. No momento em que você descobrir o que aconteceu, é tarde demais para detê-la. Eu nem percebi quando ela começou a tomar conta. Num momento ela estava me ajudando a equilibrar cocaína e armas limpas, no outro ela estava me dizendo para não me preocupar, porque ela já sabia o que fazer. Eu tentei lutar contra ela, mas os planos da maldita garota sempre funcionavam tão bem.
Eu estava sem palavras.
— Seu império pode ter precisado de nós uma vez, mas não agora. Devo admitir, ela fez bem, assustadoramente bem, na verdade. Você poderia ter rescindido o contrato, — disse ele, e ele estava certo, eu poderia ter. Qualquer Capo que se preze nunca teria compartilhado seu trono com o outro, e assim, aqui estávamos.
— Se Sina fosse um homem, ninguém se atreveria a negar que ela tem a capacidade de ser a melhor que já existiu. Mas haverá sempre um idiota que pensa que ela pode ser atropelada e ela nunca iria parar de lutar. Se alguém a apoiasse em um canto, ela iria lutar ou derrubar e atacá-los por trás. — eu ri. Era uma das coisas que eu amava sobre ela. O fogo em seus olhos me lembrava tanto de sua mãe.
— Meu filho não vai deixá-la governar. Na verdade, eu temo que os anos de paz que mantivemos dentro da minha casa estará em hiato. — Marco sorriu e eu sabia que ele estava ansioso para isso. Atrás de seu sotaque polido e comportamento educado, ele gostava de caos. Eu tinha uma antiga ferida de bala no meu braço para provar isso.
— Mas— ele se virou para mim, — isso não é a sua única razão, Sebastian. Se você estivesse preocupado com que ela lutasse, você teria trancado ela de tudo no momento em que ela nasceu. As lutas não te incomodam. O que te incomoda?
Bastardo americano de merda, eu pensei enquanto eu olhava para ele.
— A diferença entre um Capo do sexo feminino e masculino é que a mulher não só vende a sua alma, mas ao seu coração. Sina não sentiu nada além de raiva nos últimos anos. Ela é uma muralha e vai continuar assim, se ela não se casar. Mesmo se ela odiá-lo, pelo menos eu sei que ela nunca vai estar sozinha. Ela ainda vai ter uma família. — todo mundo que ela já amou, morreu, e eu estava bem no meu caminho, também.Em contrapartida, Sina morreu há muito tempo atrás.
Marco franziu a testa, balançando a cabeça.
— É estranho. Você acredita que Sina precisa de Noah para acabar com sua solidão, e eu acredito que Noah precisa de Sina para não temer ficar sozinho. Ele tem todos os ingredientes de um Ceann na Conairte. Eu sabia disso no dia em que ele nasceu. Alex era... Não mentalmente forte o suficiente. Ele não tem isso. Noah? Ele nasceu para isso. Isso está em seu DNA. Mesmo quando criança, ele gostava de deixar sua marca em tudo.
— Mas? — eu tossi.
— Mas, por trás fachada de Noah, ele anseia ser amado, e ele odeia ficar sozinho. — ele franziu a testa, odiando admitir a verdade, e
isso era a verdade. — Ele não está focado como ele deve estar e é muito compassivo às vezes. Eu culpo a mãe dele por isso.— E a compaixão é apenas para a família, — eu disse.
Ele assentiu. — Ele é impiedoso de muitas maneiras. Mas, para ser o Ceann na Conairte, você não deve mostrar misericórdia para ninguém, além de sua família. Você é frio. Você é distante. Você gosta de sangue, morte. Noah mata, mas ele não se delicia com isso como deveria. Se ele fizesse, os Valero iriam temê-lo como temem você, ou devo dizer, a mulher agora atuando como você.
— Eu devo te pedir uma coisa, Marco, — acrescentei, desejando mais do que tudo nunca ter que dizer às palavras que estavam prestes a se libertar de meus lábios.
— Seja o que for, diga e eu vou fazer, — disse ele, fazendo a dor no meu coração queimar mais.
Engolindo meu orgulho, eu assenti.— Eu quero que você caminhe com Sina até o altar.
Houve uma pausa, e ele procurou meus olhos.
—Você tem certeza?
Eu balancei a cabeça. Minha menina dolce merecia caminhar até o altar e se orgulhar. Ela já disse sobre o quão ela estava orgulhosa de mim. Como ela não se importava se eu tossisse durante toda a cerimônia, ou se eu precisasse ser empurrado pelo corredor, ou o fato de que as pessoas estariam mais focadas em mim do que ela. Mas eu me importava, e eu não queria isso. Se eu fosse e nossos inimigos vissem o quão fraco eu estava, eles poderiam tentar usar isso contra ela, contra seu império.
— Vou chamar Wendy, e ela vai ter tudo pronto em três dias. Você pode assistir de uma sala secreta. Ninguém vai te ver, — disse ele com um aceno agradecido. Oferecendo mais do que isso, ele poderia muito bem esculpir meu coração.
— Você não se sente que estamos prestes a abrir a Caixa de Pandora? — eu sorri para ele.
— Eles vão trazer o caos como nunca e fizemos isso simplesmente com a esperança de coisa melhor para o futuro.
Marco gargalhou antes de terminar seu conhaque. — Sim, em um jeito distorcido.
— Nós vivemos em um mundo torcido, — eu respondi quando a porta se abriu para revelar Adriana mais uma vez.
— Sim?
— Sr. Urrea, Sr. Deinert. Lamento intrometer, mas me disseram para vir buscar os dois, — disse ela com a cabeça para baixo.
— Por que isso? — Marci perguntou com uma frieza em sua voz que ele não tinha tido desde que a nossa conversa começou.
— Capo e Sr. Urrea aparentemente limparam a sala no porão para que eles pudessem ficar sozinhos e ninguém deveria entrar. Mas, poucos minutos depois, uma arma disparou.
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RUTHLESS PEOPLE - NOART VERSION
FanficPara o mundo exterior eles se parecem americanos da Realeza, doando a instituições de caridade, alimentando os sem-teto, reconstruindo a cidade. Mas por trás de toda essa fachada é uma batalha constante pelo domínio entre duas Máfias, Cultura e Cora...