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SINA

— Me abençoe Padre, pois eu pequei. Tem apenas sete dias desde a minha última confissão e nesse tempo eu tenho...

— Você mentiu, — Padre Antony me interrompeu.

— Sim, Padre e eu...

— Você matou, roubou e muito pior, — ele me cortou novamente. Só um homem de Deus poderia fazer isso e ainda ter sua língua.

— Você vai entender, Padre, — eu sussurrei, me inclinando contra o meu assento. Ele não podia me ver e nem eu a ele, mas eu me sentia mais confortável. Não porque eu me sentia envergonhada, mais porque eu gostei da escuridão daqui; que era o único lugar que eu não estava com medo dele. Eu gostava da paz que sentia dentro da igreja.

— Sim, bem, eu não posso te oferecer perdão. — ele suspirou. — Você veio aqui uma vez por semana pelo último ano pedindo a mesma coisa. No entanto, nem eu, nem Deus, podemos te perdoar por algo que você não deseja verdadeiramente o perdão. Isso não funciona dessa maneira.

— Posso continuar, Padre?— eu perguntei a ele.

— Muito bem, — disse ele.

— Desde que você ouviu os meus pecados do passado, vou confessar os meus futuros. — eu sentia raiva e ódio rastejando dentro de mim enquanto eu pensava sobre isso. — Eu vou matar a minha mãe. Eu juro.

Ele ficou em silêncio. Nós dois ficamos em silêncio durante o que pareceu uma eternidade.

— Honra o teu pai e a tua mãe, Sina. De todos os pecados entre o homem, o que você fala é...

— Honra o teu pai e a tua mãe?—eu lati; era minha vez de cortá-lo. — Onde está o honra teu filho? Por que é que não está escrito em alguma pedra em algum lugar para nós mantermos acima de nossas cabeças? Alguns pais e mães não devem ser honrados! Alguns nem deveriam receber o título.

— O que foi feito para você, minha filha? — ele sussurrou, mas eu não respondi. Em vez disso eu olhei para o vitral.

Isso me fez pensar em minha infância.
— Quando eu era criança, a igreja era o único lugar em que eu me sentia em paz. Eu sentava nos bancos da igreja e encarara fixamente as pinturas no teto. Às vezes eu falava com Deus, às vezes eu sonhava, mas muitas vezes eu pensava sobre a minha mãe. Desejando que ela viesse me encontrar, preocupada porque não conseguia me encontrar em casa. Eu mesmo orei sobre isso e Deus nunca respondeu. Eu sabia que não era assim que funcionava. Mas, eu estava com raiva. Na minha mente, ele era o Papai Noel e uma coisa que eu queria, ele não iria me dar. — eu suspirei em minha própria estupidez, — Aqui estou eu, anos mais tarde e minha mãe está viva e bem.

— Isso não é algo para ser grato? — ele perguntou, um pouco confuso.

Eu olhei para a tela bloqueando nossos rostos.

— Não quando ela é pior do que eu... muito pior, e, infelizmente, eu não estou sendo sarcástica.

— Entendo. — eu podia sentir a sua preocupação, embora eu não pudesse vê-lo.

— Há um pecado que posso pedir ao pai para perdoar, aquele em que você se arrepende?

Pensei por um momento.

— Eu atirei no meu marido. — eu disse.

— Ele ainda está vivo? — ele perguntou com diversão.

— Sim. — por enquanto. — Ele ainda está vivo. Eu atirei nele com raiva e eu sinto muito por isso. Eu o insulto muitas vezes, na verdade.

— Você não parece arrependida, — acrescentou.

RUTHLESS PEOPLE - NOART VERSIONOnde histórias criam vida. Descubra agora