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SEBASTIAN DEINERT

QUATORZE ANOS ATRÁS

O punho dele se encontrou com o rosto dela, mandando-a para baixo tão rápido que seu cabelo bateu em volta do seu rosto antes dela bater no tapete. Ela ficou lá por um momento, congelada no chão do ringue de boxe, quase morta, antes dela tentar se levantar. Os braços dela vacilaram e seu peito subia e descia enquanto ela tentava desesperadamente conseguir o ar de volta em seus pulmões. Ela conseguiu chegar a um joelho antes de desmoronar de volta para o tapete.

Lamentável.

— Levante-se, SINA, — eu disse a ela quando eu me inclinei contra a parede da antiga academia de boxe fora da cidade. Era assim como eu controlava essa cidade. Ninguém, além do nosso povo vinha aqui - suor a suor, sangue quente com sangue quente, somos italianos; um só povo. E ela estava se desonrando na frente das próprias pessoas que precisavam respeitá-la mais.
Ela não se moveu, ela só ficou lá, como uma coisa morta. Nem humano e nem animal.

— Eu disse, levante-se, Sina!

Com um pequeno e frustrado grito, ela se empurrou em seus pés e se jogou nas cordas do ringue a fim de ficar de pé, quando Gino a segurou.

— Senhorita? Senhorita Deinert? Você tem certeza? — Gino perguntou a ela, olhando para mim, os olhos arregalados quando ela não respondeu.

— Deixe ela ir. E eu juro por Deus Todo-Poderoso, Sina, se você cair de novo...

— Eu estou bem. — ela empurrou os fios soltos do cabelo escuro atrás da orelha e ficou mais reta quando ela levantou os punhos envoltos. Ela balançou a cabeça algumas vezes e tentou manter a compostura.

— Vê? Ela está bem. Agora, comece de novo, — eu disse a ele.

— Senhor, tem sido duas horas–

— Eu não me importo se já são dois dias! — eu lati, e foi então que eu vi.

Todos os olhos no ginásio olharam pra minha filha com piedade, e para mim com desdém como se eu fosse algum tipo de monstro.

— TODOS PARA FORA! — eu disse de repente, os fazendo saltar e correr para a porta.

— Você e eu vamos conversar mais tarde, — eu disse a ele, e ele acenou com a cabeça antes de sair.

O ginásio estava escuro. A única fonte de luz veio do centro do ringue, onde ela esperou sem uma palavra. Entrei, então peguei as esteiras acolchoadas, circulando enquanto eu os ajeitava.

— Você é uma decepção, Sina, — eu sussurrei. — E não apenas isso, mas você está me deixando numa maldita situação embaraçosa. Quantos anos você tem agora, doze ou quatro? Você ainda precisa de alguém para te salvar? Por acaso você é um bebê? É isso que você quer?

— Não, senhor. — ela segurou a cabeça para cima. — Eu estou bem, posso continuar.

— Bem? Um minuto atrás você parecia um cervo recém-nascido. Será que é porque agora nós estamos sozinhos e você quer fazer um show?

Ela olhou para mim.

— Eu venho fazendo isso por duas horas, pai. Qualquer pessoa normal-

— Você não é normal! Você é Sina Maria Deinert, filha do Mãos de Ferro, minha filha! Normal nunca será o adjetivo usado para descrever você! Excepcional; notória; impecável. Isso é o que você deve ser. Você está com dor? Dores no corpo? Adivinha? Essa é a sua vida.

RUTHLESS PEOPLE - NOART VERSIONOnde histórias criam vida. Descubra agora