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─✧ kyuubi n a r r a n d o '-

| NO PASSADO |

Julho de 2008



⚠️ Gatilho: violência contra uma garota e ataque de pânico. ⚠️



- Você não passa de uma putinha, não se esqueça que sou eu que te dou comida e um teto para morar - o soco me atingiu com força e eu me recusei a ceder.

- Ah, obrigada por ter a decência de fazer o mínimo pela filha que colocou no mundo - cuspi o sangue que saia da minha boca na cara dele

- sua vagabunda! - meu pai berrou na minha cara, segurou a gola da minha camisa e me acertou mais um soco, depois outro e outro.

Eu comecei a rir, não ia deixar ele saber que estava doendo em mim e nem ia chorar. Mas também não ia ficar apanhando de graça.

- você bate que nem uma velha, seu puto - cuspi na cara dele novamente e dessa vez eu reagi, levantei a perna e chutei bem no meio das suas pernas.

Ele caiu ajoelhado gritando de dor. Foi quando seus seguranças entraram no escritório com suas armas apontadas pra mim.

- Vamos, atirem! Me matem logo e acaba com essa porra - eu gritei

- Não atirem - meu pai falou do chão e se levantou com dificuldade, ele respirou fundo e pegou a arma das mãos do segurança

- Oh, achei que ia chorar mais um pouquinho no chão - debochei com um sorriso maldoso e então ele bateu com a arma na minha cabeça.

Caí no chão com o impacto, minha visão estava escurecendo e eu não sabia tentei ficar acordada.

- Escuta aqui, garotinha - ele passou o cano da arma pelo meu rosto - ou você colabora comigo, ou vou matar cada um dos seus amigos, além da sua mãe e do seu irmão. O que acha? Vou te dar um tempinho para pensar - então bateu com a arma na minha cabeça e eu apaguei.

Acordei assustada, era pra ser só um cochilo durante a tarde e acabei tendo um pesadelo com uma das minhas lembranças.

Puxei o ar, mas nada vinha e eu comecei a sufocar. Meus olhos se encheram de lágrimas, meu corpo tremia, o coração estava acelerado e sentia um medo absurdo me invadir por inteiro. Com difícil afastei a coberta e corri para o banheiro, liguei o chuveiro e me enfiei embaixo da água gelada.

- Tá tudo bem - tentava murmurar para mim mesmo com dificuldade e falta de ar - Ele não pode fazer nada com você, não pode fazer nada com ninguém.

Demorou, mas a sensação de que eu estava morrendo foi passando. Eu odiava lembrar de coisas do passado, naquela época eu só tinha sete anos e sonhar com essas coisas me causava ataques de pânico.

Depois que consegui me acalmar saí do chuveiro e troquei de roupa. Coloquei uma calça preta, uma blusa também preta e uma jaqueta jeans. Peguei minha carteira, o maço de cigarro e sai de casa.

Não ia ficar em casa presa nas minhas lembranças.

Enquanto andava pelas ruas, que estava um pouco vazia, tentava pensar em qualquer coisa que não fosse meu pesadelo pessoal. Eu lembrava daquele dia nitidamente e também lembrava das outras ameaças constantes que sofri. Foi uma época difícil.

As únicas pessoas que realmente se importaram comigo naquela época foram o Shinichiro e os meninos. Lembro do dia que o Shin tentou me tirar de lá, ele e o avô dele denunciaram meu pai, mas naquela época meu progenitor era poderoso, tinha a polícia enlaçada no seu dedo mindinho.

Sai dos meus pensamentos quando senti um garoto esbarrar em mim e quando levantei a cabeça para olhar, fiquei com dó. Ele estava destruído.

- Puta merda, cara. Você parece que levou uma surra e tanto - meus pensamentos me levaram a lembranças de quando encontrava Shinichiro espancado, ele era péssimo em brigas - Você tá bem? Precisa de ajuda?

- O que? - ele parecia atordoado, o garoto olhou em volta e parecia tentando se localizar - Os últimos segundos de vida deveriam durar assim?

- Acho que bateram na sua cabeça com força, hein - comentei e suspirei, não ia deixar ele assim - Vem, vou te ajudar.

- N-não, não precisa - ele começou a gaguejar - Tenho que procurar uma pessoa.

- Aliciando desse jeito? Você nem parece se aguentar em pé - peguei seu braço e passei por cima do meu ombro - Não tô te dando escolha, moleque.

Sai puxando ele que começou a murmurar um monte de coisa estranha.

- Não lembro disso acontecer a doze anos atrás - resmungou - Então é assim que vou morrer? Sem nem ver ela de novo?

- O que? Garoto, não exagera. Você não vai morrer - falei pra ele e parei em uma loja de conveniência, coloquei ele sentado em uma mesa do lado de fora - fica aqui.

Entrei na loja, comprei o que precisaria pra limpar os ferimentos dele e também comprei dois sacos de batatinhas e dois energéticos.

- Voltei, garoto - me sentei na frente dele e coloquei as coisas na mesa - Quem te bateu tanto assim?

Ele pareceu pensar se me contava ou não, mas acho que decidiu me falar já que começou a falar como um pessoal mais velho bateu nele e nos amigos dele.

- Que azar em, carinha - murmurei ao colocar o último band-aid no machucado que restava - Mas você sabe, não deveria ter comprado briga com outros delinquentes se não ia dá conta, ainda mais sendo mais novos que você, não é justo.

- Eu sei, sou um idiota - ele murmurou e eu entreguei o energético a ele junto com o saquinho de batatas.

- Mas também não merecia apanhar assim - informei abrindo meu próprio energético - Onde estava indo quando te encontrei? Você estava falando umas coisas bem confusas.

- Ver uma pessoa - ele corou

- Sua namorada? - arquei as sobrancelhas com um sorriso divertido e ele concordou com a cabeça - Bom, agora você tá livre pra ir. Pelo menos seus ferimentos já foram cuidados.

Quando estava a alguns passos de distância dele me lembrei.

- Ei, carinha. Qual seu nome? - perguntei ao me virar para olhar o garoto loiro.

- É Takemichi, Hanagaki Takemichi - concordei com a cabeça e sorri pra ele.

- A gente se vê por aí, Hanagaki. Vê se não leva outra surra - dei uma risada e dei as costas me afastando.

- Ei, ei! - parei e me virei pra ele - Por que me ajudou?

Fiquei em silêncio por um momento e resolvi responder: - Eu tinha um amigo que me ajudou quando estive na mesma situação que você, então, por que não ajudar?

Não esperei ele me responder, apenas segui meu caminho e esperava que Hanagaki ficasse bem.

𝐩𝐡𝐲𝐬𝐢𝐜𝐚𝐥 Onde histórias criam vida. Descubra agora