Capítulo 1

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O restaurante estava cheio, o salão estava quente e eu sentia o suor escorrer do meu pescoço para minhas costas enquanto equilibrava as bandejas e pratos nas mãos

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O restaurante estava cheio, o salão estava quente e eu sentia o suor escorrer do meu pescoço para minhas costas enquanto equilibrava as bandejas e pratos nas mãos. Levar pratos. Deixar pratos. Anotar pedidos. Entregar pedidos. Entregar contas. Olhar em volta sempre para ter certeza que atendeu todo mundo. Pra ver se alguém saiu, se alguém chegou ou se algum corno filho da puta trocou de mesa e eu iria ter que corrigir alguma comanda.

Olhei o relógio no corredor que levava a cozinha.

Só mais um pouco.

Deixei as comandas. Meus braços e pés já doloridos e minha cabeça latejando. Respirei fundo, tentei me recompor enquanto voltava para o campo de batalha.

Trabalhar num restaurante de comida vegetariana não era exatamente minha meta de vida, mas, o salário era o bastante para cobrir os estudos de teatro, então eu aguentava. Sentia-me meio que uma farsa por trabalhar num restaurante vegetariano sendo um amante de churrasco, claro, mas... Bom, foi o único lugar que me chamou. Era só não mencionar meu gosto por carne. Tudo bem. Podia fazer isso.

Agradeci mentalmente ao fato de que não teria que esperar muito mais para largar. Não teria que ajudar a fechar. Não hoje.

— Boa tarde! O que vão querer? – me esforcei para manter o sorriso no rosto, embora minhas bochechas já doessem. Fiz uma valente tentativa para não fazer careta, a dor na minha coluna alcançando meus ombros enquanto anotava o pedido.

Eu sairia completamente acabado hoje, pensei.

Só mais um pouco.

Mais um pouco.

***

Descobri o cabelo e ajeitei as tranças de lã coloridas num rabo de cavalo lateral, admirando por um instante o degradê de roxo para branco que caía abaixo de meu ombro e o contraste das tranças contra o tom escuro da minha pele preta. Fazer tranças foi definitivamente uma das minhas melhores decisões. Eu ficava lindo. Bom... Ainda mais lindo, pensei sorrindo.

Guardei o uniforme na mochila e peguei a carteira enquanto saía do restaurante a passos arrastados.

Parei no mercado no fim da rua. Tentei não pensar muito nos anúncios de promoções e ir direto para o corredor de bolachas. Não podia demorar. Peguei um pacote de bolachas recheadas de morango e uma garrafinha de refrigerante antes de ir para a menor das filas entre os três caixas.

Esfreguei os olhos, observando o balconista de longe.

Por que sempre que ele me via, eu tinha que tá um caco? Qual é... Ele era bonito! Cobri o rosto e resmunguei para mim mesmo, me repreendendo por pensar isso. Você precisa parar de querer beijar qualquer cara que não é um asco contigo, Raoni. Dignidade, Raoni.

Foda-se. Os olhos do caixa eram lindos, seus braços mais lindos ainda e não tinha mal  nenhum flertar para passar o tempo desde que você não levasse a sério e lembrasse ser apenas uma brincadeirinha para não estressar com a fila.

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