Tomei um analgésico ao sair da aula de teatro.
— Você não acha que exagera um pouco com isso? – Thiago questionou ao meu lado, nariz franzido.
Ele tinha olhos estreitos que puxou da mãe, filha de japoneses e cabelos crespos escuros, herdados do pai, neto de angolanos. A pele tinha um tom negro bem clarinho. Tinha um rosto fino e lábios grossos e costas largas de se dar inveja. Infelizmente hétero. Sim, eu perguntei.
— Não é exagero se preciso deles para chegar ao final do dia. – resmunguei, com dor nas costas. — Me passa suas anotações sobre os tipos de palco depois? Não consegui anotar quase nada, minha cabeça tava explodindo hoje.
— Claro que te passo, relaxa. – sorriu me dando um tapinha nas costas. — Mas, você tem que tolerar a dor boa.
— Dor boa? – dei risada. — Sabe qual dor é boa, Thiago?
— Não complete. – me advertiu, com um olhar sério. Revirei os olhos. Eu precisava de amigos da minha idade. Thiago estava com quase trinta anos e era sério demais pro meu gosto. — Sabe o que tô dizendo. Dor provocada por exercícios físicos como os exercícios do teatro é um bom sinal. Significa que seus músculos estão trabalhando.
— Thiago, eu passo seis horas do meu dia em pé, andando de um lado para o outro, minha coluna basicamente vive travada. A "dor boa" dos exercícios soma com a "dor ruim" do trabalho e vira "dor péssima." Eu preciso dos meus remédios!
Ele bufou, me olhando torto. — Ao menos vá ao médico. Essa dor nas costas pode ser desvio na coluna, pode precisar de fisioterapia.
Respirei fundo. — Não tenho dinheiro pra fisioterapia, Thi. No público demora e não sei se aquele convênio de merda que meu pai conseguiu assinar pra mim cobre isso.
— Dá uma olhada.
Decidi não lhe explicar a lógica "se eu não receber diagnóstico, não estou doente" porque era o tipo de lógica que me levaria a receber belos puxões de orelha.
— Certo, certo. Qualquer dia eu vejo isso. – suspirei descendo para a estação de metrô ao lado de Thiago. Peguei meu celular no bolso e verifiquei as notificações.
Nenhuma solicitação aceita.
Revirei os olhos para minha própria idiotice.
Já fez uma semana, Raoni. E foi só um acaso num ônibus, menos de dez minutos. Larga de ser tão iludido. Você flerta com várias pessoas na rua por pura brincadeira, ele provavelmente faz o mesmo.
Esse é o problema de atores, pensei guardando o celular. Sonhávamos alto demais.
— Ei, vai ter um evento tipo de cultura afro lá perto de casa, quer ir? Acho que é filosofia africana ou coisa assim.
— Preço? – arqueei a sobrancelha, mudando a mochila para o outro ombro já com dor.
— Grátis.
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Luzes e Estrelas
RomansaRaoni só queria acabar o turno no trabalho e ir para a aula de teatro. Mas, um inesperado e um tanto vergonhoso encontro num ônibus com Isaac, um modelo com deficiência visual, resultou numa história de amor. __________________________ Obra postada...