Capítulo 14

573 96 67
                                    

Sai do casting resmungando e xingando baixinho

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Sai do casting resmungando e xingando baixinho. Filhos da puta, pensei ao entrar no metrô. Preferia mil vezes que não me contassem porque estavam me descartando das seleções. Mil vezes!

Respirei fundo, meus olhos ardiam e sentia meu rosto quente. Peguei meu celular e coloquei os fones de ouvido.

Dezenove e vinte e quatro.

Cogitei ligar para a Beatriz, mas, depois de um longo momento analisando minhas opções, liguei para o Raoni.

— Alô?

— Oi. Tá ocupado?

— Ah, oi. – ele fez uma pausa tão longa que quase me perguntei se a ligação tinha caído. — Eu tô indo pra aula. – sua voz era distante, reparei.

— Tá tudo bem?

— Uhum. – silêncio de novo.

— Pode me falar se tiver algum problema. – garanti, encostando a cabeça no vidro, tentei me atentar a voz anunciando as estações.

— Não, eu tô bem.

— Raoni?

—... Só estranhei você não aparecer hoje, só isso.

Mordi a língua.

Nas últimas semanas eu tinha ido todos os dias ao restaurante esperar o Raoni para voltarmos juntos. Às vezes, parávamos para comer algo no shopping, mas acho que na maioria dos dias, só pegávamos o ônibus, íamos para a estação de trem e ficávamos conversando ou ouvindo música dividindo o fone, até dar minha estação já que eu descia antes dele.

Merda.

— Tinha um casting marcado, nem fui pra biblioteca hoje. Deveria ter te avisado, desculpe.

— Ah... Certo, eu entendo. – suspirou. — Desculpa reclamar disso, só estranhei mesmo.

— Te chateei?

— Nah. – ele riu baixinho, um riso fraco. — Foi tudo bem?

Suspirei.

— Nah. – usei o mesmo tom que ele para falar. Imitar o jeito das pessoas sempre era uma boa ideia, sempre tive a impressão de que, na dose certa, isso gerava simpatia. — Falaram que estavam procurando alguma deficiência mais evidente para que ficasse melhor nas capas. Aí, depois, dispensaram um garoto que não tinha um braço porque ele não usava próteses e disseram que um cara sem um membro ficaria muito estranho. Indecisos do caralho.

— Como você sabe dessa parte?

— A gente veio conversando. – dei de ombros. — Meu Deus, que ódio! Eu tô tão... – respirei fundo quando minha voz falhou.

— Isso é tão filho da puta. – suspirou do outro lado.

— Desenvolva. – pedi.

— Hã... Isso, tipo... Querer retratar pessoas com deficiência, mas não querer retratar da forma com que realmente se parece.

Luzes e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora