Capítulo 42

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Daniel já havia viajado por muitos países, comido nos melhores restaurantes, tomado os melhores vinhos, mas nunca algo lhe pareceu tão delicioso quanto aquele prato de sopa de legumes com carne e o copo de suco de laranja. A cada colherada, era como se o seu corpo lhe agradecesse pelo calor bem-vindo do alimento.

Após terminar a refeição, já se sentindo mais forte, ele pediu para que Jeremy o acompanhasse até a beira do lago. Bárbara e Ian se entreolharam num misto de preocupação e alegria. Preocupação por seu estado ainda fraco para tratar de negócios, mas alegria por ele ter começado a se interessar novamente pelo trabalho que tanto amava.

Jeremy caminhou devagar ao lado do patrão até que ele se recostasse em uma árvore de tronco grosso e antigo. Alguns minutos se passaram com a brisa fresca tocando seus rostos, até que McCain finalmente deu início ao diálogo.

– Jeremy...

– Sim.

– Gostaria de lhe fazer uma pergunta...

– Claro, o que desejar senhor McCain. – Respondeu o assistente, enquanto os olhos castanhos intensos de Daniel o fitavam com profundo interesse refletido em sua retina.

– O quão idiota eu tenho sido com você?

Aquela pergunta repentina foi uma grande surpresa.

– Senhor, eu... Eu não... Não entendo o que quer dizer.

– Quero dizer exatamente o que disse. O quanto eu tenho agido como um imbecil com você desde começou a trabalhar pra mim?

– O senhor não agiu como um idiota, apenas tem uma personalidade mais fechada e...

– Ora, não me venha com uma resposta condescendente. Eu sei que agi mal, só quero ter dimensão do quanto te feri com meu comportamento.

Jeremy o encarou considerando o que dizer. Aquela pergunta era outro teste? Não parecia ser. Pela primeira vez a expressão de seu patrão não inspirava uma indagação fria, sarcástica ou hostil. Ele realmente o olhava como se quisesse entender o que sentia.

– Eu acredito que o senhor é realmente exigente em um nível desafiador. Mas isso não me incomoda, evoluí muito como profissional por causa disso. Também não posso reclamar do que me paga, é um salário bem generoso. Acho que o que me incomoda é que o único reconhecimento que recebo é o salário. Nenhum obrigado, nenhum parabéns, nem mesmo um bom dia...

– Eu não te falo bom dia? – Daniel parecia realmente confuso com a informação – Eu nunca percebi que não faço isso...

– Eu imagino que não mesmo, mas não se preocupe, é apenas um detalhe e...

– Não é não. É uma total falta de consideração. Assim como é inaceitável que eu nunca o tenha elogiado por seu trabalho impecável. Sabe Jeremy, eu criei uma armadura para resistir ao mundo empresarial. Comecei de baixo e com muito pouco e embora muitos dos meus atos sejam radicais e questionáveis, jamais fui desonesto, com exceção é claro dos erros que cometi com Bárbara. Cada centavo do que eu tenho é realmente fruto de muito trabalho e ganhar dinheiro assim em um mundo onde todos optam pelo caminho mais fácil é bem complicado. É preciso ser implacável e duro em muitas situações e eu acabei assumindo essa posição como meu jeito de ser. Felizmente, conviver com minha esposa me fez retomar muito da minha essência, fez eu me lembrar de quem eu era, quando ainda criança brincava nos jardins desta casa. Mais do que isso, me fez relembrar o quão importante são as relações humanas, os laços, e tudo o que somos da maneira mais elementar. Não sou hipócrita em afirmar que todos merecem ser bem tratados, porque há muita gente no mundo dos negócios que não vale o que come. Mas você sempre foi um profissional esplêndido e lamento muito que eu não tenha lhe dado o devido reconhecimento. Com meus anos de vida e experiência, sei bem distinguir quem é digno e tem caráter e você com certeza é. Obrigado pelos anos que tem dedicado à minha empresa e a mim. Se você concordar gostaria de tê-lo durante muito tempo ao meu lado.

Jeremy digeriu em choque cada palavra dita por McCain. Jamais imaginaria um dia ouvi-lo pedir desculpas.

– Claro. Saiba que o admiro muito, senhor. Vai ser uma honra continuar trabalhando ao seu lado.

– Que bom. Muito obrigado por suas palavras. – Daniel respondeu com sinceridade – Bom, vou precisar mais do que nunca de sua ajuda para me inteirar de tudo o que está acontecendo na empresa.

– Mantive tudo como desejaria, lhe garanto. Tudo está sob controle.

– Não tenho dúvidas disso. – seu patrão respondeu com um sorriso – Sempre confiei completamente em sua competência e nunca me decepcionei.

***

Aquele havia sido um dia intenso, repleto de emoções novas e avassaladoras.

Após quase ser obrigado por Bárbara a se retirar para o quarto para descansar, Daniel dormiu profundamente durante quatro horas seguidas, mas quando acordou se sentia realmente renovado.

Desceu então as escadas, trajando um de seus ternos impecáveis, sua aparência agora completamente diferente daquele ser acuado e frágil que Bárbara encontrou.

Ele notou que já havia anoitecido, e sua esposa estava junto à bancada da cozinha cobrindo uma travessa de carne com salsa picada.

– Boa noite, minha vida. – Sussurrou em seu ouvido enquanto a abraçava por trás.

– Boa noite, meu príncipe. – ela respondeu se aproximando para beijá-lo – Dormiu bem?

– Como uma pedra. Me sinto bem melhor. Onde estão todos? – Perguntou olhando ao redor.

– Já foram. Pedi que nos deixassem a sós esta noite.

– Caramba, eu nem ouvi o helicóptero decolar, estava realmente entorpecido em meu sono.

– Conseguiu sonhar?

– Consegui sim. Sonhei que descia as escadas e encontrava você na cozinha preparando o jantar. Depois eu lhe abraçava por trás, sussurrava em seu ouvido e a beijava.

– Ah tá, claro que sonhou isso. – Bárbara respondeu com um sorriso.

– Espera que ainda não acabou. Após nos beijarmos, você me comunicava que sabiamente pediu para que nos deixassem a sós esta noite. Aí eu pensava 'Poxa, só essa noite? Eu precisaria de dias, meses, anos a sós com ela para suprir toda a falta que senti de sua boca, do seu corpo, do seu cheiro, do seu perfume, dos seus cabelos...'– Daniel depositou vários beijos em seu pescoço enquanto continuava – ' da sua pele, da sua voz, das suas mãos, de seus lábios... de cada pedacinho...'

Em um movimento rápido ele a pegou no colo.

– Meu bem, eu adoraria subir as escadas com você nos braços mas creio ser um pouco demais para minha condição física atual. Terei de pedir que aceite que a leve até o tapete da sala se não se importar.

– Pra mim está perfeito meu amor, mas tem certeza de que consegue ter disposição? Vou entender se não se sentir pronto ainda.

– Eu não aguentaria esperar nem mais um segundo para tê-la novamente. Preciso disso, preciso de você desesperadamente.

Então ele a levou até a sala, de onde só saíram três horas depois, para esquentar o jantar e finalmente devorá-lo. Estavam cansados, exaustos, mas totalmente ávidos para se embriagar novamente no vinho de seu amor – a sensação mais doce que já haviam provado.


O Protetor - Série case-se comigo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora