Capítulo 23

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Os dias que se seguiram àquele café foram inacreditavelmente agradáveis.

Daniel voltou a enchê-la de carinho, ligações, mensagens e convites para almoços e jantares.

Bárbara se sentia finalmente mais confortável na presença dele, mas convivia com uma perturbação mental constante causada pela culpa de estar sendo complacente com seu marido.

Frequentemente ela era assombrada pelo fato de que aquele homem de quem aceitava carícias, correspondendo-as ocasionalmente mesmo que de forma discreta, era o mesmo homem que a havia chantageado, pressionado, obrigado a se casar e mudar os rumos de sua vida e principalmente enganado seu pai para isso.

Acontece que por vezes, ele não parecia ser a mesma pessoa que fez essas coisas.

Sempre que estavam juntos, a tratava com completa gentileza e atenção. Em seu dia a dia, apesar do jeito autoritário, tratava seus colaboradores da empresa com educação e sempre os recompensava por boas ideias e projetos bem-sucedidos, além de lhes pagar excelentes salários. Era estranho, porque em nada ele aparentava ser frio e calculista como havia sido com ela num passado não muito distante.

Bárbara tentava se consolar pensando que naquela casa imensa não conhecia quase ninguém e que era obvio que se aproximasse de Daniel por causa disso.

Se ele fosse grosseiro e insuportável, as coisas seriam diferentes. Mas ele não era. E tinha se aproximado mais ainda depois que dividiu coisas importantes de seu passado com ela.

Todos os dias, conversavam muito antes de dormir. Bárbara descobriu que tinham gostos semelhantes para leitura e isso rendia longas conversas sobre os livros que ambos já tinham lido. Estavam estabelecendo uma nova rotina, só deles.

Certa manhã ela entrou com pressa e sonolenta na suíte do quarto, sem perceber que Daniel se barbeava no espelho. Preparava-se para tirar a roupa e entrar no banho, quando notou sua presença.

– Ah! Você está aí, desculpe, não tinha visto. – E virou-se para sair.

– Não, tudo bem, pode ficar. Se não se importar com minha presença, pode até tomar seu banho. O chuveiro tem box opaco, não vou ver nada, garanto. – Ele respondeu com um sorriso.

– Você faz sua própria barba. – Ela disse.

– Sim. – Disse Daniel franzindo a testa.

– Me desculpe, pensei alto. – ela respondeu, percebendo que ele a olhava com curiosidade – É que nunca consegui te imaginar fazendo coisas simples como essa.

Daniel deu um sorriso maroto.

– Então já tentou me imaginar assim? – Perguntou.

– Para ser sincera, já. Você está sempre impecável, com a barba bem-feita e cada fio de cabelo no lugar. Pensei que tivesse um ajudante ou coisa do tipo.

– Não. Sou eu mesmo que faço isso todos os dias. – ele disse enquanto secava o rosto com a toalha – E acredite se quiser, também sou eu que dou o nó em minhas gravatas.

– Estou impressionada! – Ela respondeu simulando surpresa.

Ambos sorriram e se olharam por longos instantes.

– Vou tomar um banho. – disse Bárbara – Estou atrasada.

– Meu bem, já disse que temos todo o tempo do mundo quando estamos juntos.

– Eu quero terminar algumas tarefas mais cedo. Combinei de almoçar com Christopher.

Aquela declaração afetou imediatamente o humor de Daniel, fazendo seu sorriso desvanecer.

– Pensei que ele estivesse fora da cidade.

– Porque pensou isso? Eu não disse nada a respeito.

– Você não o menciona há algum tempo, deduzi que não estivesse por aqui. – ele respondeu enquanto caminhava para fora do banheiro em direção ao closet.

Daniel parou por um momento no meio do caminho e virou-se novamente para Bárbara.

– Não vai encontrá-lo.

– Como é? – Ela encarou-o com ar de dúvida.

– Eu disse que você não vai encontrá-lo. Não vai almoçar com ele.

– Não seja ridículo. Você não pode me impedir de sair com o meu melhor amigo.

– Posso e vou. Não sou idiota Bárbara. Esse seu "amigo" está apenas esperando a chance para atacar. Lhe garanto que ele quer muito mais que amizade com você.

– E se quiser? Que diferença faz? Não estou amarrada a você por três longos anos?

– Amarrada, não. Casada. E isso não importa. Não vou permitir que passe tempo com esse indivíduo para que ele possa te assediar à vontade. Você é minha mulher e não vou entregá-la de bandeja para esse imbecil.

Aquelas frases esgotaram todo o autodomínio de Bárbara.

– Pare de falar de mim como se eu fosse uma mercadoria McCain! – ela se exaltou – Chris estava em minha vida muito antes de você entrar nela e destruí-la! Ele é uma das poucas ligações que tenho com o tempo em que você não existia para transformar minha existência em um inferno e não vou perder isso!

Imediatamente, Daniel adquiriu uma expressão furiosa, como se cada palavra que Bárbara disse tivesse penetrado em seu corpo como uma adaga afiada. Ele caminhou em sua direção sem desviar os olhos dela sequer um minuto.

Bárbara assustou-se e deu um passo para trás enquanto ele se aproximava.

– Ouse ir. – Disse pausadamente em tom de ameaça.

Aquilo já era demais.

Tomada por uma mistura de raiva e desespero, Bárbara não disse uma palavra, apenas desviou-se dele para apanhar sua bolsa que estava sobre o aparador do quarto e andou em direção à porta.

Daniel alcançou-a com alguns passos e segurou-a pelo braço.

– Acho que ainda não entendeu. – ele disse. – Você não vai a lugar algum.

– Acho que você não entendeu. – ela respondeu – Não vai me impedir.

Soltou-se então da mão que a segurava e desceu as escadas, determinada a provar que ele não a afastaria de Christopher.

Daniel não a seguiu. Apenas foi até a sacada e observou-a atentamente enquanto ela deixava a propriedade.

– Isso não vai ficar assim. – Sussurrou por entre os dentes, enquanto sentia a fúria percorrer cada milímetro de suas veias, mas sem tirá-lo sequer um minuto de seu centro.

Alguns minutos e uma ligação depois, ele já sabia exatamente o lugar e horário onde Bárbara encontraria Christopher.

Foi então até o closet e se vestiu lenta e impecavelmente, como quem se prepara para uma ocasião memorável. E era exatamente isso que seria, pensou, uma ocasião inesquecível.

Estava na hora de deixar bem claro para aqueles dois quem era o dono do jogo.

O Protetor - Série case-se comigo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora