Com sua esposa nos braços, Daniel subiu as escadas que conduziam ao seu quarto. Exaurida de tanto chorar, Bárbara deixou-se levar, sem conseguir pensar em nada ou fazer qualquer movimento. Adormeceu profundamente, no mesmo instante em que sentiu o lençol de seda tocar suas costas.
Gentilmente, ele ajeitou os travesseiros para sua esposa e sentou-se ao seu lado na cama. Permaneceu ali, observando-a dormir, visivelmente exausta.
Enquanto a olhava, repassou mentalmente cada pequeno passo que os conduziu a este momento. Vê-la tão fragilizada fez com que um turbilhão de pensamentos possuísse sua cabeça.
Foi estranho, porque pela primeira vez na vida, não encarava o que tinha acontecido como uma mera etapa de seu objetivo maior. Definitivamente os fins já não justificavam mais os meios.
Desde que conheceu Bárbara, passou por uma profunda transformação.
No começo de tudo, que se deu bem antes do que ela poderia sequer imaginar, a intensidade avassaladora do que sentiu o fez agir sem pesar as consequências. Ao colocar pela primeira vez seus olhos sobre ela, a quis em um nível insano, que desconhecia ser possível.
Nada nem ninguém poderia ficar entre eles. Simples assim.
Mal ele sabia que, de simples, não tinha nada.
Acostumado a controlar tudo e todos, Daniel ignorava o poder dos sentimentos. Tudo na vida era uma questão de lógica para ele, e só agora percebia, finalmente, o quanto estava errado.
Sua relação com Bárbara era pintada com inúmeras cores e nuances complexas, que não poderiam simplesmente ser definidas.
Lembrou-se da paixão avassaladora que ela lhe despertou quando fixou seu olhar, do verde mais vivo que existe, em sua direção. Ela não o viu, mas ele jamais a esqueceu.
Acontece que, quando Daniel pensou que tudo não passava de um instinto primitivo e óbvio, que precisava a qualquer custo aplacar, algo começou a mudar dentro dele. De repente já não lhe bastava tê-la uma vez, ou por um curto tempo. Ele queria mais: precisava conviver todos os dias com aquela criatura encantadora.
Então, a trouxe para perto através de um plano meticulosamente elaborado, e por meios nada ortodoxos observou-a em todos os seus passos. A cada dia conhecia mais sobre a sua personalidade fascinante, a cada segundo aprendia um novo motivo pelo qual ela era única. Quando chegou o momento da cartada final, onde conseguiu encurralá-la e fazê-la concordar com o casamento, se sentiu extremamente satisfeito. Finalmente a teria ao seu lado todos os momentos, como havia desejado.
Veio a noite de núpcias e quando tudo parecia perfeito, ele simplesmente não conseguiu seguir em frente. No fim das contas, havia mais caráter nele do que ousaria admitir. Jamais tomaria uma mulher sem seu consentimento e absolutamente não faria isso com Bárbara. Prezava-a demais, admirava-a demais, a queria bem demais para ser verdade.
Desejava a felicidade dela acima de sua própria.
Naquele momento, pensou em voltar atrás e liberá-la do acordo, mas então sua necessidade falou mais alto. Não a necessidade física, mas a necessidade de alma. Ele não poderia deixá-la sair de sua vida, não suportaria não a ter por perto. Ansiava desesperadamente seu toque, seus beijos, seus carinhos, mas ansiava ainda mais seu olhar, sua voz, seu cheiro, seu sorriso e todo o seu jeito de ser. Percebeu então, que não se tratava de como ela atenderia os desejos dele. Era justamente o contrário.
Daniel sentiu pela primeira vez uma vontade absurda de se doar, de fazê-la feliz. Ter seus anseios satisfeitos não significava definitivamente nada se ela não se sentisse completa.
Foi então que se iniciou uma guerra dentro dele, onde suas aspirações se digladiavam com o que ele sabia ser o certo a fazer. Queria que ela fosse feliz, mas ao seu lado e a cada dia repetia para si mesmo que se a tratasse muito bem, ela acabaria por aceitar tudo aquilo e quem sabe quisesse ficar quando os três anos terminassem.
Doce ilusão. Não era isso o que Daniel realmente queria.
O que ele desejava era que ela se apaixonasse por ele tão intensamente como se apaixonou por ela, que precisasse de sua presença, como ele suplicava pela dela, que se sentisse completa, que ansiasse por tê-lo como companheiro e amante, de maneira espontânea, livre, baseada em suas próprias decisões.
Queria que ela o escolhesse, como ele a escolheu.
E se não fosse para ela se sentir totalmente feliz com isso, não queria mais nada.
McCain Suspirou fundo e concluiu o óbvio: seu sentimento amadureceu, tornou-se mais do que um simples desejo de posse e controle, tornou-se limpo, amplo, vívido e intransponível. O bem-estar de Bárbara importava mais do que o seu próprio bem-estar.
Sua paixão, tornou-se amor.
Sim, não poderia mais fugir da verdade, ele a amava tanto e tão profundamente, que esse sentimento era assustador. Pela primeira vez sentiu-se à mercê de seu coração e pela primeira vez, seu raciocínio lógico se esmigalhava em milhares de pedaços.
Não podia continuar, não se tratava mais dele, se tratava da felicidade da mulher que adorava.
Sabia o que viria a seguir. Estava diante de um abismo profundo, prestes a saltar de peito aberto, sem nenhum tipo de garantia. Ele lhe contaria a verdade, toda a bizarra verdade. E ela com certeza se assustaria, o acharia insano, teria medo dele.
Mas não havia como voltar atrás. Daniel precisava que ela soubesse.
E se depois disso ela o abandonasse, a deixaria ir, porque nem mesmo ele permaneceria ao lado de alguém que tivesse feito o mesmo.
O desfecho não importava agora. A única coisa que necessitava era dizer-lhe a verdade.
E era isso o que ele faria, assim que ela acordasse.
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O Protetor - Série case-se comigo - Livro 1
RomantizmEle: Daniel McCain, um empresário de sucesso que comanda uma corporação gigantesca fundada e construída com cada gota de seu suor. Controlador, frio e extremamente estrategista Ela: Bárbara McNamara, uma publicitária bem sucedida, criada por uma fam...