Capítulo 44

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Ao perceber o barulho de um carro estacionando em frente à casa de seus pais, Daniel pensou que seria muito bom se na vida, como no mundo empresarial, as coisas pudessem ser automatizadas.

Sim, ele adoraria que pedir desculpas para o seu pai, resolvesse em série seus problemas, e assim tudo ficasse resolvido também com seus irmãos. Só que não.

O segundo round estava prestes a começar e ele não tinha certeza se lhe restaram forças para essa batalha.

Tarde demais, pois como um vento bravo seus irmãos atravessaram a porta e em segundos Daniel era puxado para cima pela gola de seu terno impecável enquanto um punho cerrado era mirado contra seu nariz.

– O que esse imbecil faz aqui? – Vociferou Oliver

– Você tem mesmo muita coragem, ou é muito idiota em pensar que vai vir ofender nosso pai outra vez debaixo do nosso teto e vamos permitir isso. – Completou David que se posicionava com os braços cruzados, logo atrás do irmão.

Bárbara aterrorizada, observava a cena com as mãos sobre a boca. Ela, que não tinha irmãos e não fazia a menor ideia de como essa dinâmica funcionava, ficou paralisada sem saber o que fazer. Se estivesse raciocinando direito, perceberia que seu marido era bem mais alto e forte do que Oliver e David e certamente poderia defender-se sozinho da situação.

–Já chegaaaaaaa! Soltem seu irmão agora!

Apesar de serem homens formados, com praticamente o dobro do tamanho de Liv, nenhum dos três era louco o suficiente para voltar-se contra sua mãe, por isso quando ela deu um berro estridente que ecoou pela sala, a cena rapidamente se desfez, com cada um dos irmãos recuando para um canto.

Bárbara fez uma nota mental para mais tarde perguntar a sua sogra qual era o segredo de tamanha autoridade.

– David e Oliver! Como ousam entrar desse jeito e comportar-se com tamanha agressividade dentro da minha casa?! – Liv questionou praticamente bufando.

– Mas mãe, você não vê que esse idiota está aqui para ofender nosso pai outra vez? – Questionou David.

– Isso mesmo! Não vamos permitir que... – Tentou completar Oliver.

– Ora, calem a boca! – Ordenou Liv perdendo as estribeiras – Vocês homens tem o talento para complicar algo simples desde que o mundo é mundo! Eu tolerei por tempo demais as brigas de vocês e aguentei calada toda essa bagunça que nossa família se tornou para não interferir no direito de que aprendessem por si mesmos a resolver suas desavenças. Infelizmente parece que não vai ter jeito!

George, que como Bárbara observava calado o desdobramento da situação, ergueu as sobrancelhas para Bárbara numa expressão de quem diz que agora "o bicho vai pegar".

– Daniel está aqui para resolver as coisas! Ele e seu pai estavam conversando civilizadamente até vocês chegarem, então quero que todos venham para o centro da sala, em silêncio!

Como nenhum dos filhos se mexeu, a paciência de Liv esgotou-se de vez.

– Agora! – Ela ordenou.

Lentamente Daniel se aproximou do centro da sala. Apesar do orgulho, ao verem que o irmão mais velho havia obedecido, os outros dois fizeram o mesmo.

– Pois bem. Daniel, diga aos seus irmãos o que veio dizer.

Após encher os pulmões de ar, McCain começou a falar.

– Estou aqui porque não quero que tudo continue como está. Sei que de muitas formas ofendi ao papai e a vocês e lamento ter feito isso. Na verdade, eu não entendo como essa situação pôde se arrastar por tanto tempo, já que sempre nos entendemos bem antes disso. Eu reconheço que fui orgulhoso e arrogante demais, mas repensei minha vida em muitos aspectos recentemente. Como devem ter percebido, foi minha esposa que causou essa mudança. Bárbara me fez enxergar o quão importante é ter irmãos e me manter em paz com minha família. Por favor, aceitem minhas desculpas.

Os mais novos se entreolharam avaliando o que tinham ouvido.

Minutos se passaram e o único som que ecoava pela sala era o do tique-taque do relógio na parede.

Bárbara apertava as mãos ansiosa e George observava atentamente os filhos.

– Ah mas tenham dó! – Liv se exaltou novamente – Será que vou ter que trancá-los no quartinho da união?

– Não! – Os três responderam ao mesmo tempo.

Mais silêncio se seguiu. Os irmãos se entreolharam.

E, de repente, caíram na gargalhada.

– Mas como?! –Bárbara disse em choque, enquanto seu marido, David e Oliver se acabavam de tanto rir – Como é possível que há um segundo atrás eles estivessem prestes a se pegar e agora estejam rindo como hienas? – Ela perguntou a George.

– Ah minha querida, não se espante. Meus filhos sempre foram imprevisíveis.

"Como o pai" – Pensou Bárbara, mas achou melhor não dizer.

– Aceitamos suas desculpas babaca. – Disse David.

– Fale por você. – Respondeu Oliver.

– Ora, Oliver, por favor. Quer mesmo que mamãe nos tranque no quartinho? – Respondeu Daniel divertido.

– Ok. Mas esse é o único motivo pelo qual aceito. – Oliver finalmente concordou.

– Então vamos logo ao abraço antes que ela faça isso. – Disse David.

Diante da expressão estupefata de Bárbara, os três se abraçaram e encostaram as cabeças, em uma cena da mais perfeita união.

– Mas alguém pode me explicar que raios está acontecendo aqui?! – Ela finalmente não se aguentou e acabou perguntando.

– Eu explico querida. – Daniel falou sorrindo – Quando éramos crianças e brigávamos, nossa mãe nos trancava em um quartinho vazio que fica perto da cozinha com a garantia que só nos tiraria de lá quando nos entendêssemos, nem que isso levasse um mês inteiro. Obviamente não queríamos ficar sentados, entediados olhando para o teto enquanto víamos pela janela que fazia um dia lindo para brincar lá fora, então rapidamente fazíamos as pazes.

– Então você quer dizer que a ameaça da sua mãe de colocar três homens do tamanho de vocês de volta nesse quartinho fez com que reconsiderassem essa briga de anos?

– Pareceu engraçado – Disse Oliver.

– E ridículo ao mesmo tempo – completou David – Mas não podemos afirmar com certeza que ela não faria isso.

– Creio que lembrar de como as coisas pareciam fáceis de resolver naquela época nos fez pensar – Raciocinou Daniel.

Bárbara levou as mãos à cintura e soltou um suspiro indignado.

– Francamente! Ainda bem que não tenho irmãos.

– Mas não foi você que me convenceu da importância deles? – Questionou Daniel.

– Acabei de reconsiderar essa parte. – Ela respondeu.

Todos riram juntos, parecendo de novo uma família. Exatamente como tinha que ser.

O Protetor - Série case-se comigo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora