" E na angústia nasce um irmão "
(Provérbio 17:17 )Ainda não tinham dado início a reunião,havia na sala mais ou menos vinte pessoas,todas família de alguma vítima,fui na direção de um acento mas antes que pudesse sentar, fui chamada por uma enfermeira, antes de ir até ela,deixei o Oliver no assento
- Olá, meu nome é Luíza,fui a enfermeira que te acompanhou até o necrotério, talvez não lembre de mim - a recordei assim que a vi - eu vi que entrou com um garotinho, provavelmente é o seu irmão mais novo,o menino que teve que sair às pressas ontem pra buscá-lo na escolinha. - sua boca tinha um leve sorriso,já seu rosto,pura compaixão.
- Claro,me lembro de você,prazer meu nome é Sarah,mas você já deve saber disso - sorri fraco e nos cumprimentamos com um aperto de mão.
- Não deve ser fácil pra você lidar com toda essa situação,pode parecer estranho mas vim oferecer minha ajuda,caso queira e se sinta confortável, posso levar o seu irmão a sala de brinquedos do hospital que fica aqui perto,enquanto você está na reunião,lá sempre está cheio de crianças e isso pode distraí-lo enquanto você resolve tudo.
Luíza era encantadora, tinha uma pele morena,cabelos negros, longos e com lindos cachos,seus olhos eram escuros,aparentava ter 24 anos (mais tarde descobrir que estava certa),e sua altura era mais ou menos 1,70 uma jovem encantadora e pelos visto muito gentil.
- Ficaria muito grata, caso não fosse atrapalhar o seu trabalho,é claro. - naquele momento eu não saberia explicar o porquê,mas senti que poderia confiar e aceitar sua generosa ajuda.
- Imagina,já cumpri minhas horas de trabalho por hoje,não irá me atrapalhar em nada, e não precisa se preocupar - falou acenando discretamente para o rapazinho que não tirava o olho de nós duas enquanto conversávamos; então fiz um sinal para que ele viesse até nós:
- Oliver,essa é minha colega,ela se chama Luiza e gostaria muito de te levar a uma sala cheia de brinquedos e crianças que fica aqui pertinho, eu prometo que não vou demorar te buscar lá, mas enquanto não chego a Luiza vai brincar com você,tudo bem? - tudo era muito complicado pra mim e a ajuda da Luiza seria muito bem-vinda naquele momento. Não havia crianças na sala apenas o Oliver, notei assim que entrei e isso me deixou desconfortável,não me agradou os olhares que depositavam nele e sem nenhuma discrição. Fiz várias promessas para convencê-lo a ir com a Luiza,desde o ocorrido não nos separamos por nenhum momento e Oliver não queria ficar longe de mim,mesmo sendo por pouco tempo. Chegamos a um acordo, o qual assim que a reunião acabasse eu teria que ir correndo ao encontro deles.
A reunião teve início. Houve muito choro,revolta,debate e discussão entre as famílias e os representantes da empresa. Depois de um tempo, a conclusão foi a seguinte: todos familiares seriam indenizados com uma quantidade exata para cada uma das vítimas independente do tempo de trabalho delas. A decisão revoltou algumas pessoas. Haviam vítimas que já a muitos anos trabalhavam na empresa e seus parentes achavam injusto receberem o mesmo valor das quais trabalhavam a pouco tempo. A empresa também se responsabilizou em arcar com um funeral coletivo em um lugar reservado. Não seria permitido a entrada da imprensa no local,o velório aconteceria na tarde do Domingo. Depois de muita papelada assinada a reunião acabou e pude ir procurar a sala de brinquedos onde Luiza e Oliver estavam. Pela janela da sala, vi Oliver e Luíza sentados em um grande tapete colorido cercados por brinquedos,e crianças de quase todas as idades. Quando abri a porta ele e Luíza se levantaram e vieram ao meu encontro, não cheguei a entrar na sala,pois precisava ir embora.
- Foi muita bondade sua ficar com o Oliver, principalmente depois de já ter cumprido seu horário de trabalho,deve está exausta,muito obrigada por sua ajuda,ela veio no momento certo - falei - espero um dia poder retribuir sua gentileza.
- Não há de que, seu irmão é um amor de criança. - pedi que Oliver se despedisse e fomos caminhando para casa.
Chegamos bem cansados, e fui pega com mais perguntas do Oliver.
- Quando vamos poder nos despedir do papai, vamos poder fazer isso,né? - me questiona enquanto eu preparava o almoço.
- Foi para resolver essa questão que pedi que fosse brincar com a enfermeira; vamos poder nos despedir dele amanhã a tarde, meu amor,mas não poderemos ver ele,sinto muito. Vamos a um lugar onde ele e várias pessoas que também se foram vão ser veladas,e assim eu e você vamos nos despedir dele, lá também terá outras famílias se despedindo de alguém que elas também amavam muito e se foram como o papai - terminei de explicar enxugando as lágrimas. Pela expressão que fez ele entendeu ao menos metade do que eu havia falado,mas suficiente.
Enquanto lavava a louça do almoço,não conseguia conter as minha lágrimas e torcer para que o dinheiro da indenização fosse no mínimo o suficiente para pagar a casa e garantir um teto pra nós dois; lembrei das palavras do sr.Fernando quando veio pela manhã me informar da dívida e avisar para não gastar o dinheiro que receberia pois era o meu teto que estava em jogo, ele já sabia que as famílias do acidente iriam ser indenizadas e por isso veio garantir seu pagamento. De forma bastante sutil e delicada,para não dizer ao contrário.
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Não Foi Por Acaso
RomanceAos 22 anos,Sarah tem uma vida marcada por tragédias,e em meio a elas,a necessidade de mudar da sua cidade natal com o objetivo de recomeçar e deixar o seu passado e tudo que aconteceu nele, para trás. Após enfrentar inumeras lutas,ela deixou para t...