Capítulo 25

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Capítulo 25

"A vida sempre trará desafios,mas Deus sempre lhe dará forças para enfrentá-los."
(Max Lucado)

Meus olhos estão focados no vidro quebrado da janela,sinto subir um leve calafrio.
- Irei buscar algo para colocar na janela,ela não pode dormir dessa forma. Desvio o olhar na tentativa de amenizar aquela sensação.
-Tudo bem? - arqueou uma sobrancelha e senti sua mão na minha.
- Tudo - sorrio pequeno - eu preciso apenas dar um jeito naquilo - aponto e ele olha pra janela. - volto rápido. Saio a passos largos da sala fazendo um coque bagunçado no cabelo,senti meus movimentos serem observados pelo Noah que permaneceu em silêncio.
Em poucos minutos estou de volta a sala com uma cortina em mãos mas o sofá está vazio.
-Noah? - ele não teria ido embora sem se despedir.
-Aqui. - ouvi sua voz vindo da porta e a sigo. - acredito que não tenha ferramentas que conserte isto,certo ? - movimenta um pouco a fechadura que estava destruída graças ao Gael e eu nego com a cabeça,havia esquecido daquele detalhe.
- O portão. Ele é seguro. Alto e resistente. - aponto,pois a porta estava aberta e eu podia vê-lo de onde estava.
- Não me leva a mal,mas até mesmo o Oliver consegue escalar esse portão "alto" até a parte de dentro. - me lança um sorriso.
- Pensando bem, talvez eu deva ter uma arma ... - balanço os ombros com meus braços cruzados.
- Arma não é segura quando não se sabe usa-la.
- Porque pensa que não sei? - finjo estar ofendida.
- Você com certeza não sabe usar uma,Sarah - me pego fascinada observando seu sorriso largo.
- Não precisa se preocupar - explico me afastando para ir até a janela - posso pôr o sofá atrás da porta e estarei em total segurança.
- Interessante - me segue - e como pretende levar este sofá-cama até lá sozinha? - paro abruptamente em frente a janela danificada e relaxo os ombros,ele tinha razão. - foi o que pensei - mexe um ombro ao notar minha reação. Se importa? - opontou para as cortinas em minhas mãos e eu as entreguei.
Desde que começamos a morar na casa eu nunca havia colocado cortinas pela casa,amava a luz do sol que invadia a sala,deixando o lugar quente e claro. O bairro apesar das casas serem bem distantes uma das outras,era muito iluminado durante a noite o que também iluminava a sala toda a noite. 
As duas janelas que haviam na sala eram grandes mas não  altas e o Noah não precisava de um "suporte" para alcançar o varão.  - feito! - diz orgulhoso ao finalizar o "trabalho" e eu agradeço com um sorriso.
-Agora sente. Quero que prove algo. - minutos antes do Gael começar toda confusão, eu estava tirando uma torta de abacaxi do forno. Havia passado tempo o suficiente para ela esfriar.
-E o que seria? - ele vai em direção ao sofá enquanto vou até a cozinha.
- Torta de abacaxi - paro para o responder - espero uma opinião sincera, pois de acordo com o Oliver,eu jamais errei uma receita na vida.
- Talvez ele esteja dizendo a verdade.
- Ou talvez ele esteja enganado - sorrio torto e vou até a cozinha.

Enquanto comiamos em total silêncio eu pensava se realmente deveria iniciar aquela conversa. Por algum motivo eu sentia que poderia e deveria confiar no Noah. Eu me sentia preparada para me abrir com ele,pois a pequena sensação de medo que havia em  mim de ser julgada por aquele homem havia desaparecido a tempos.Então respirei fundo e antes que pensasse o contrário de tudo isso,pus para fora.

- Sempre houve brigas constantes em nosso relacionamento,mas Gael nunca havia me agredido fisicamente,até aquele dia. Não íamos bem já havia um tempo,seu jeito rude e suas palavras que a todo tempo de diminuíam não tiravam de mim a vontade insistir para que o que tínhamos durasse uma vida. Eu não queria enxergar que nada do que vivíamos era saudável pra mim.Meu pai não via nossas inúmeras discussões,muito menos minhas lágrimas após elas. Gael era outra pessoa quando não bebia ou quando meu pai estava em casa, gentil e amoroso quando queria e era apenas essas raras atitudes que o meu pai presenciava. Mas os hematomas em meu rosto não eram discretos para serem escondidos por baixo de uma maquiagem e muito menos o do meu corpo. E o motivo? - sorri pequeno com a vista embasada por lágrimas- eu hipoteticamente havia sido vista por alguém o traindo em algum lugar da maldita faculdade. Enquanto mais eu negava,ele me batia,então falei o que ele queria ouvir,um sorriso se formou em seu rosto e ele me agradeceu pela minha "honestidade". Aquele não era o Gael que eu conhecia,ou que eu nunca quis ver. - finalmente uma lágrima caiu e eu fechei meus olhos.
- Sarah,não precisa fazer isto. - pôs seu prato no centro que ficava próximo ao sofá e pegou o meu das minhas mãos que estavam um pouco trêmulas ao me lembrar de tudo aquilo. Senti o calor das suas mãos ao segurarem as minhas carinhosamente e isso ajudou a continuar.
- Eu sentei em um banco de praça no caminho de volta para casa e esperei ficar tarde da noite para garantir que meu pai estivesse dormindo quando eu chegasse. Mas justamente por esse motivo,ele me aguardava sentado no sofá quando cheguei. Ele quase enlouqueceu quando viu meu estado e procurou por alguns minutos a chaves do carro enquanto eu o implorava para não irmãos a delegacia denunciar o Gael.Hoje eu penso que falhei em ter compaixão dele. Eu me sentia capaz de perdoa-lo e eu estava certa nisso.
- Mas agora não consegue fazer o mesmo com você... - nego em lágrimas.
- Eu já não estava bem psicologicamente e aquela situação só me afundou ainda mais. Estava envergonhada demais para contar que havia sido agredida então as pessoas da faculdade nunca souberam o real motivo do nosso término. Eles acreditavam que eu havia descoberto as traições dele e tinha colocado um fim em tudo.

Não Foi Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora