19 - Leoas rugem (Ester)

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Sophia e Fred nos encaram desconfiados. Acredito que minha mão entrelaçada à de Miguel é o que causa certa estranheza. Estou tentando me controlar para não envolver demais meu coração, mas não posso negar que fiquei triste ao vê-lo tão mal por causa do pai e isto me fez querer animá-lo um pouco. Estou me esforçando para ser legal, pelo menos por enquanto.

Eu só quero me proteger de um coração quebrado, mas Miguel tem tornado isso muito difícil. Eu gosto de como ele sempre sabe o que dizer, ou como ele me arranca risadas com suas provocações. E o que foi aquela dança? Nem nos meus sonhos mais loucos eu o imaginaria dançando tão bem. Ele consegue sempre me surpreender.

— Vão ficar aí sentados nos encarando? — pergunto para quebrar esse silêncio constrangedor.

Fred dispara falar sobre como Miguel e eu estamos diferentes. Olho para nossas mãos entrelaçadas. Eu nunca estive tanto tempo de mãos dadas com alguém, mas Miguel está sempre segurando minha mão, antes mesmo que eu perceba.

— Nós voltamos diferentes? — pergunto cruzando as pernas e soltando minha mão.

Percebo Miguel reparando minha perna à mostra. Ele desvia o olhar fitando brevemente meus olhos e sorrindo, divertido.

Eu preciso retrucar colocando o constrangimento sobre eles. Não quero ter que responder nenhuma pergunta que já imagino Sophia me fazendo.

— O que vocês dois estavam fazendo na minha sala? — pergunto.

Miguel me ajuda ficando desconfiado dos dois à nossa frente. Sophia se irrita e começa uma discussão com Fred. Eu conheço bem minha amiga para saber que algo está acontecendo entre os dois e ela está mentindo.

Fred segura os cantos da boca com os dedos indicadores, ele parece bem contrariado. O que você está escondendo, Sophia? Melhor deixar para perguntar quando nós duas estivermos a sós.

Fred e Sophia desconversam levando o assunto para "o que aconteceu com o pai adotivo de Miguel". Nenhuma novidade até Sophia citar que Ricardo foi visitar minha avó no hospital. Meu sangue ferve ao ouvir isso, quase peço para que ela repita. Essa única observação me tira totalmente a sanidade, eu seria capaz de matá-lo agora. Ricardo pode tentar me matar ou me acusar de qualquer coisa, mas mexer com a minha família é se aventurar em um terreno perigoso.

Saio decidida a enfrenta-lo, mas antes de agir totalmente por impulso, preciso pensar. Não vai adiantar de nada latir como um cachorro. Minha visita àquela sala precisa compensar. A maçã! Perfeita para colocar uma escuta quase que imperceptível. Tão óbvio, mas se eu der sorte, ele não vai notar.

— Olha só! — Ricardo exclama a me ver entrando em sua sala. — Não esperava vê-la tão cedo. Vocês devem ter acabado de chegar de viagem.

— Surpreso? — pergunto.

— Um pouco, já que você não esperou minha secretária te anunciar e nem bateu na porta antes de entrar — diz um pouco irritado.

— E eu preciso? Sou sua superior aqui dentro — afirmo.

— E o que trouxe a "Rainha" até a minha sala? — Ele torce o sorriso em ironia.

— Alguns assuntos. Eu trouxe uma lembrancinha, achei a sua cara.

Ricardo encara a maçã e a bandeja douradas com desconfiança e desvia o olhar para mim.

— Me deixe adivinhar, tem uma escuta aqui em algum canto, como a que encontrei embaixo da mesa.

— Tinha uma escuta embaixo da sua mesa?

— Ah, não me venha dar uma de santa, eu sei que foi você e a sua assistente dissimulada.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora