26 - Incondicional (Miguel)

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Quando Ester chama Laura de Ga-Yeon, eu automaticamente me lembro da menina. Até então eu ainda estava confuso, não conseguia me lembrar dela.

Ester mantém os olhos bem abertos, o que é no mínimo, assustador, visto que ela já tem olhos grandes e proeminentes. Desde que a conheci, ela me pareceu aflita e com dificuldades para controlar o temperamento, mas Ester tem melhorado a cada dia. Acho que hoje é um daqueles dias em que ela não conseguirá se controlar.

Laura leva a mão ao rosto. Nem sabia que ela conseguia arregalar tanto os olhos.

— Garota, nós não temos o dia todo e a minha paciência está se esgotando. Desembucha — diz Ester.

Aperto os lábios para não rir. Sei que Ester odiaria ouvir isso, mas ela fica muito atraente quando está nervosa.

Laura se senta com cuidado e passa os olhos por todos antes de começar.

— Eu nunca quis te trancar no porão — ela começa. — Se um dia eu te encontrasse de novo, queria te dizer isso primeiro.

Sophia abaixa a cabeça.

— Naquele dia, eu ouvi aquelas meninas dizendo que alguém as estava pagando para que elas implicassem com você. O objetivo delas era levar você a cometer suicídio, mas como não estava dando certo, decidiram que elas mesmas iam te machucar. Tranquei você no porão para que elas não te encontrassem.

O semblante de Ester muda, ela acredita em Laura, mesmo que não admita.

— Por que eu devo acreditar em uma mentirosa? — pergunta minha esposa.

— Você não precisa acreditar em mim. Eu vou contar tudo o que sei e depois fingimos que nada disso aqui aconteceu. Minha identidade também não pode ser revelada.

— Justo — digo.

Laura respira profundamente antes de começar.

— Fui deixada no orfanato ainda bebê, por isso eu nunca soube quem são meus pais. As garotas também praticavam bullying comigo, mas nada que fosse tão sério. Eu apenas ignorava. Fiz amizade com uma garota negra que também era excluída, mas ela foi adotada e eu fiquei sozinha. Quando vocês chegaram, eu queria muito me aproximar, mas a timidez me atrapalhou, por isso eu os observava de longe.

Ela engole em seco. Parece muito ansiosa.

— Acontece que um dia apareceu um homem no orfanato. Eu não sabia quem era e nem o que ele queria, mas aquele senhor me puxou e me implorou para que eu ficasse de olho em vocês e protegesse Nabi, se isso fosse necessário. Ele parecia aflito e por isso eu prometi que ajudaria, embora eu tivesse ciúmes da amizade que vocês dois tinham.

— Isso nem faz sentido — comenta Sophia. — Por que alguém pediria a uma criança para proteger outra?

— Ele parecia desesperado. Acho que foi isso — ela responde antes de continuar: — Quando Miguel foi adotado, comecei a notar a diferença no comportamento das meninas e acabei escutando os planos delas. A sorte de Ester foi que assim que ela saiu do porão, foi adotada. Aquelas garotas não poderiam mais machucá-la.

— E o incêndio? — pergunta Ester.

— É mesmo. Você me disse que não tinha sido um acidente, o que sabe? — acrescento.

— Aquilo foi imensamente estranho. Naquele ponto só restavam eu e mais cinco adolescentes no orfanato. O mesmo senhor que pedira para proteger Nabi, você, apareceu e nos tirou de lá. Ele disse que tudo ali ia queimar.

— E queimou. Foi ele que incendiou o local? — pergunto.

— Não! Ele nos levou para um local seguro e nos instruiu que nunca, jamais, deveríamos dizer para ninguém que sobrevivemos. Tanto eu, quanto os outros, incluindo as professoras e a coordenadora do orfanato, ganhamos novas identidades.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora