46 - Universo Paralelo (Miguel)

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Às vezes olho para Ester e ela parece sorrir. Até agora eu sou um cliente no escuro. Minha advogada se recusa a me dizer o que vai aprontar neste tribunal.

Todos se levantam para receber o Juiz. É impossível não me lembrar do dia em que estive aqui há alguns anos, para estudar o modo de Ester lidar com um caso, e presenciei o soco que ela deu na cara do Juiz depois que ele inocentou um idiota que batia na esposa. Quando o Juiz disse que um soco não era nada, Ester socou a cara dele. Foi muito engraçado. Alguns seguranças vieram depois de escutar Ester gritar com a maior autoridade dentro do tribunal e eu simplesmente coloquei o pé na frente deles, que caíram feito sacos de farinha, pelo chão. Naquela época eu estava obcecado pelo modo como ela já enfrentava tudo e todos. Queria a ajuda daquela advogada para descobrir o que tinha acontecido com meus pais, mas nunca imaginei que nos casaríamos.

O Juiz Yoshida encara Ester com ódio e ela está tão calma que me assusta ainda mais.

— Iniciaremos agora a audiência para revogar a liberdade condicional de Miguel Garcia. Promotor, você pode começar — afirma o Juiz.

Quando o promotor se levanta percebo que ele discretamente olha para Cintia, que está presente no tribunal e é filha do Juiz. Não sei o que essa garota tem contra mim, mas ela pegou no meu pé mesmo. Ele desvia os olhos da promotora para Ester. Por algum motivo, penso que ele parece estar tentando provocar minha esposa.

— Tenho algo a dizer antes da audiência começar. — Ester se levanta abruptamente ao meu lado me fazendo arregalar os olhos.

— E o que seria? — Yoshida pergunta irritado.

— Peço, por favor, a suspeição* (substituição) do Juiz.

O burburinho se estende e ecoa pelo tribunal, que não está tão lotado e deveria ser mais discreto se não fossem os repórteres. O que Ester está fazendo? Quase solto uma risada alta. Ela já começou causando.

O Juiz cerra os olhos, confuso e claramente descontente.

— Solicito que o Juiz presente se declare suspeito — ela completa.

O queixo do promotor cai enquanto ele tenta entender o que está acontecendo.

— Você entende o que está fazendo, advogada Choi? — ele pergunta soberbo.

— Sim! Acredito que há chances de que o senhor seja parcial, como foi da última vez que nos encontramos. — Ester está tão calma que me faz duvidar de sua sanidade mental.

— Bem, vamos ouvir os seus argumentos. — O senhor Yoshida cerra os dentes, mas precisa manter a pose de Juiz no tribunal. — Mas e se o que você disser não for suficiente para minha suspeição, o que você fará? Vai arriscar sua licença para advogar? Se bem me lembro, da ultima vez que nos encontramos no tribunal, a senhora recebeu uma punição por mau comportamento e teve que se ausentar de seus serviços por alguns meses.

— Para que eu não repita o mau comportamento apresentado da ultima vez, preciso, como advogada, me certificar de que meu cliente seja tratado de forma justa e imparcial! — Minha esposa sorri provocando a fúria do Juiz.

— Vai arriscar a sua licença ou não? A resposta vai dizer se eu te ouvirei! — ele esbraveja.

— Sim! Vou arriscar minha licença para advogar.

"Oh"! — o burburinho, cochichos e espanto aumentam. — "Ela é louca".

— Como o senhor bem sabe, eu não sou alguém que tem medo de encerrar a carreira quando não posso usar toda a minha honestidade — afirma Ester.

O semblante do Juiz é inenarrável e o promotor está simplesmente pasmo. Os cantos de seus lábios se curvam para baixo ao mesmo tempo em que ergue as sobrancelhas, não por tristeza, mas por espanto. Até um pouco de admiração, eu arrisco dizer.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora