51 - Refúgio (Ester)

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Poucos minutos antes:

Esfrego uma mão na outra enquanto aguardo Nan Han-ju. Estou um pouco ansiosa. Preciso apenas confirmar o que já sei, mas mesmo assim ainda é assustador.

Quando ele me vê eu não digo nada. Entrego a foto e ele me encara depois de ler a frase.

- É você nessa foto?

- Sim.

- Era desse dia que você estava falando? - questiono. A coragem para perguntar se ele é meu irmão não vem. Isso é mais difícil do que pensei que seria.

- Sim. - Pelo visto ele só consegue dar respostas de uma sílaba.

Um silêncio se instala entre nós. Parece que eu estou com medo de perguntar e ele hesita em dizer com todas as letras.

- Desde aquele dia você se tornou a minha pessoa favorita no mundo e eu já sabia que te amava - afirma um pouco sem jeito.

Meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu não permito que elas escorram. Não quero parecer tão emotiva.

- Eu não pude te ver mais e nem a minha mãe, mas meus pais me explicaram por que tudo aquilo estava acontecendo - ele engole em seco antes de continuar:

- Não paramos de procurar por você nenhum dia sequer, até finalmente ouvirmos que vocês tinham vindo para o Brasil. - O rapaz também tem os olhos tomados pela tristeza. - Eu demorei um pouco para aprender português e ainda mais para te achar. Mas vim com a certeza de que iria te encontrar. Eu senti tanto a sua falta, nunca desisti de te procurar.

Meu coração aperta ao ouvi-lo dizer que me procurou por tanto tempo e ainda se esforçou para conseguir aprender português por minha causa. Parece que ele mudou toda sua vida em prol de me achar e eu nem sequer me lembrava dele. Não sei o que responder. Eu me sinto uma idiota egoísta. Um pensamento me vem à mente, por isso estendo a mão para segurar as de Nan Han-ju.

- Segure minha mão só por cinco minutos. E isso nos fará irmãos - digo. - Eu finalmente me lembro.

O garoto mantém seus olhos úmidos fixos aos meus. Depois de tudo, creio que não precisamos dizer com todas as letras.

- O que está acontecendo aqui? - A voz de Miguel soa mais áspera do que o normal me assustando. Isso me faz puxar a mão, mas o garoto não me solta.

- Ainda não se passaram cinco minutos - ele argumenta.

Percebo Miguel fechando a mão em punho e ponderando se agride o rapaz ou não. Ele entendeu tudo errado.

- Miguel, olhe pra mim - peço, mas seus olhos estão fixos em minhas mãos unidas as de Nan. Meu marido trinca os dentes se esforçando ao máximo para manter a calma.

- Quem é você e por que está segurando a mão de minha esposa dessa forma?

Seu peito sobe e desce aguardando uma explicação.

É natural que a cena pareça mais estranha do que realmente é. Duas pessoas do sexo oposto com olhos marejados e dando às mãos. Até parece cena de filme de amor proibido.

Rapidamente tomo a foto que o administrador do hospital segura e entrego a Miguel.

Ele repara a foto e volta seu olhar para mim novamente.

- Leia atrás, meu querido - peço.

Miguel vira a foto e arregala os olhos.

- São vocês dois nesta foto?

- Sim, Ester é minha irmã mais velha - Nan Han-ju finalmente diz com todas as letras. - Demos as mãos por cinco minutos. - Ele da de ombros.

Sorrio diante da sua tentativa de fazer uma piada.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora