24 PT 3 - Insegurança (Miguel)

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Já faz uns cinco minutos que eu acordei, mas sinto uma vontade imensa de continuar fingindo que estou dormindo. Não estou preparado para encarar Ester depois de ter dito inúmeras vezes que eu a amo e encontrar seu semblante atordoado e um total de zero palavra saindo de sua boca. Por isso, eu continuo dormindo na minha cadeira confortável. Mentira. Eu continuo fingindo que estou dormindo nessa bosta de cadeira e sentindo as costas doer. Pensando bem, deveríamos ter deixado a mudança pra semana que vem.

Ester abre a porta do meu escritório. O único lugar da casa que ainda não foi completamente embalado. Ela me cobre carinhosamente e a sinto agachando-se ao meu lado. Ester não se move por uns cinco minutos. Os minutos mais longos de toda minha vida. Nem quando eu estava me afogando o tempo passou tão devagar. Ela não está brava comigo? Talvez não mais. Preciso ter esperança de que não esteja. Embora eu acredite que ela não vai deixar tudo isso barato pra mim.

Minha esposa/Único amor da minha vida escreve algo em um pedaço de papel e depois sai. Abro os olhos. É isso? Eu a deixo ir? Devo correr atrás e pedir que não vá? Minhas pernas tremem, assim como todo o resto do meu corpo. Ah essa mulher!

Pego rapidamente o papel e leio o recado:

"Estou indo para aula de Balé. E combinei algo com Clara, minha professora. Vamos deixar para conversar depois".

A professora de Balé é mais do que isso para Ester, ela tem sido uma amiga. Mas Ester não me conta muito sobre o tempo que passa com ela, talvez Clara seja a amiga pra quem Ester quer contar às coisas que aconteceram.

Eu sempre tive vontade de ver Ester dançando. Devo passar na academia de dança mais tarde? Se eu mostrar meu apoio em suas atividades não relacionadas ao trabalho, ela me perdoaria com mais facilidade?

Meu celular vibra tirando-me de meu devaneio.

— Fred, hoje é sábado — atendo.

— Eu descobri algo importante — afirma orgulhoso de si. — Laura estava mentindo, ela não é Nabi.

Puxo o ar com força. Eu bateria com violência em sua cabeça se ele estivesse aqui agora.

Por um segundo sinto vontade de socar a parede, algo que nunca senti antes.

— O que foi? Parece que você nem está surpreso — comenta desapontado.

— Ah Fred. Se eu te contasse, você certamente acharia que eu bebi muito e inventei tudo na minha cabeça.

— Não entendi — reclama. — Você disse que a conversa seria de boa, que contaria tudo. Ester ficou contrariada quando soube sobre Nabi?

— É um pouco mais dramático que isso, Fred — digo e suspiro antes de contar: — Acontece que Ester é a menina nas fotos, ela é Nabi. Ester é a garota que eu estive procurando todo esse tempo. Ela estava bem aqui ao meu lado.

— What? — ele se surpreende e permanece em silêncio por um tempo. — Cara, esse destino é algo que nem eu, em toda a minha loucura, poderia ter previsto.

— Não acho que foi o destino. Acredito que meu pai já sabia disso. O que explica a mudança repentina para cá, a herança e tudo o que ele fez para nos unir.

— Você tem razão. As peças se encaixam perfeitamente — diz Fred. — Mas tem mais coisa sobre Laura que você precisa saber.

— Não sei se tenho cabeça pra isso agora — reclamo.

— Depois eu vou explicar com detalhes tudo o que descobri, mas embora Laura não seja Nabi, ela realmente foi adotada e esteve no mesmo orfanato que você — conta. — Que vocês, no caso.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora