33 PT 3 - Dejavú (Ester)

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Passar o sábado à tarde no hospital não estava nos meus planos, mas eu precisava dar uma olhada no andamento das novas contratações.

— Não te vi muitas vezes no hospital ultimamente — afirma o ortopedista.

— Que bom! Sinal de que você estava trabalhando e não teve tempo pra me vigiar — retruco.

— Sempre ácida. Eu só quis dizer que é bom te ver por aqui — ele afirma dando um sorrisinho falso.

— O meu humor estava ótimo quando você não estava por perto, se não acredita, poderá verificar pelas câmeras de segurança ou pelas escutas que plantou nos quartos — afirmo, sorrindo sarcasticamente.

O ortopedista engole em seco ao constatar que eu sei que ele é aliado de Ricardo.

— Espero que não tenha esquecido a quem pertence esse hospital e que tenha razão quando disse que pode trabalhar em qualquer outro lugar. Acabei de assistir as entrevistas e consegui dois novos ortopedistas, um deles cuidou muito bem do meu pai, que teve uma recuperação rápida.

— Está me demitindo? — pergunta.

— Sim! — digo sorrindo. — Obrigada por seu trabalho duro. Não deve ter sido fácil trabalhar para mim e para Ricardo ao mesmo tempo. Peça a ele um bom pagamento e agradeça por eu não denunciar você e dispensá-lo por justa causa.

Aperto o botão do elevador e ele fecha a cara antes de se afastar. Quando as portas de metal se abrem, dou de cara com Rose e o diretor do hospital aos beijos. Eles se assustam e se ajeitam um tanto constrangidos.

— Eu posso pegar o próximo — digo sorrindo.

— Desculpe-me por isso — pede o diretor. — A gente só... — Ele coça a cabeça pensando no que dizer.

— Não precisa se explicar, Rose é ótima. E eu já passei por uma situação assim um tempo atrás. Vocês deram sorte de estarmos no segundo andar e não no térreo, vai por mim.

Rose cora. E o diretor sorri, envergonhado.

— Então, eu agradeço — diz ele antes de apertar o quinto andar. Vejo as portas se fecharem.

Esses dois conseguiram me surpreender. Agora entendo por que o ortopedista não conseguiu continuar pegando no pé de Rose. Bom saber que ela tinha alguém para protegê-la. Por um momento eu me lembro da minha lua de mel e do meu momento com Miguel no elevador. Sinto minhas bochechas queimarem. Espalmo as mãos pelas laterais do rosto. Eu preciso me controlar.

Antes de sair do hospital, noto Alan me encarando de longe. Pela primeira vez ele se afasta sem me provocar ou tentar iniciar uma conversa. Seu semblante parece preocupado e triste ao mesmo tempo. Sinto como se ele tivesse me vigiado o tempo inteiro enquanto estive aqui.

Recebo uma mensagem de Miguel dizendo que veio me buscar para o nosso encontro. Eu tinha me esquecido disso.

Por que estou ansiosa? Levo a mão ao coração. Por que está acelerado? Devo ter enlouquecido de vez. Estou até grávida desse homem, por que do nada me sinto empolgada por causa de um encontro com ele?

Escuto a voz de meu marido me chamar e olho na direção de um carro importado, vermelho vibrante. O que é isso?

Miguel usa uma camisa preta de gola role e um paletó na cor Marsala.

— O que está acontecendo? Não está encarando com muita seriedade essa coisa de encontro? — pergunto. — Eu deveria ter me arrumado mais?

Ele sorri. Esse sorriso brilhante me assusta. Miguel caminha até mim e segura minha mão.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora