21 PT 3 - Somos todos loucos (Ester)

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— Se o meu irmão disser qualquer coisa estranha sobre mim saiba que é mentira — digo antes de entrarmos.

Miguel cerra os olhos. É impossível não notar como estou apreensiva. Aquele peste vai acabar com a minha reputação.

Minhas mãos estão suadas. Eu sei que não vou conseguir me controlar diante das chatices do meu irmão. Sei que ele ainda não se esqueceu do dia em que coloquei o tablet dele dentro de um balde d'água depois de achar minha bolsa rabiscada.

— Oi irmão — cumprimento e ele faz o mesmo, falando também com Miguel.

Meu avô desce as escadas com uma máscara do homem de ferro. Lá se vai a minha reputação.

— Meu avô gosta de fantasias — explico brevemente e Miguel sorri.

— Vocês deviam ter chegado um pouco antes — afirma meu pai. — Seu avô estava vestido feito um arqueiro medieval.

Tento agir normalmente torcendo para que meu avô não diga nada, mas:

— Ah! Você conhece aquela fantasia bebê — comenta. — Lembra no ano passado quando esperamos seu irmão chegar pra atirar flechas nele?

— Quando foi que fizemos isso? — pergunto tentando disfarçar.

— Vai fingir que não lembra? — pergunta meu irmão irritado. — Você me acertou de verdade.

— Você mereceu depois de rabiscar a bolsa dela — diz minha tia.

Fecho os olhos. Lá se foi a minha esperança de que minha família pareça normal. Meu avô aciona a máscara que acende luzes e ressoa um barulho típico de brinquedos infantis.

— Legal não é? — ele pergunta satisfeito. — Eu sou o homem de ferro. — Meu avô estala os dedos.

Eu daria gargalhadas no ano passado, mas no momento minhas bochechas coram e meu ego acaba de ser destruído.

— Vocês estão nos envergonhando — diz Ji-hoon respirando fundo.

Finalmente nos sentamos à mesa e eu realmente achei que o assunto tinha acabado, mas é claro que eu estava enganada.

— Esses dois viviam em pé de guerra — explica minha tia. — Uma vez Ji-hoon acordou Ester às quatro da manhã dizendo que ela estava atrasada e ela chegou a correr para não chegar tarde ao trabalho. Voltou pra casa revoltada e costurou o colarinho do suéter dele. Quando ele tentou colocar e ficou preso na blusa, ela ainda bateu nele com o travesseiro xingando em coreano. Os dois pareciam duas crianças.

— Isso foi há muito tempo — comento encarando meu irmão que devolve com o mesmo olhar de ódio.

Quando tento pegar uma linguiça ele toma o prato e come todas.

— O que você está fazendo filho? Que falta de educação é essa? — pergunta meu pai.

— É porque está uma delícia — responde com a boca cheia.

Ai que vergonha!

— Ficou louco? O que está fazendo perto da visita? — pergunta minha tia.

Ele tenta pegar uma omelete e eu pago na mesma moeda comendo tudo.

— O que deu em vocês. Estão passando fome por acaso? — pergunta meu pai.

— É claro que não. É porque está uma delicia — digo sarcasticamente.

Começamos uma guerra infantil pela comida até meu avô ralhar conosco.

— Esse idiota quer me envergonhar/ Essa idiota quer me envergonhar — respondemos juntos.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora