A Garota da Máscara (COMPLETO)

47 - Rosa com espinhos (Ester)

Ouvir como Miguel se sente de verdade fez eu me sentir melhor. Não me sinto mais uma pessoa má, maluca ou desequilibrada. Acho que é normal odiar alguém que nos fez e ainda tenta nos fazer tanto mal. Não consigo dormir. Já faz alguns bons minutos que estou observando o rosto de meu marido. Enquanto dorme, seu rosto exibe uma tranquilidade imensa. Por pra fora tudo que o incomodava fez bem para ele.

Por detrás de toda força que fomos obrigados a adquirir, há um homem e uma mulher de carne e osso. Apenas dois humanos apaixonados e sem nenhum superpoder. Finalmente consigo entender como Alan e Natanael são diferentes. Alan conseguiu manter sua frustração escondida e controlada, Natanael não. Ele quer vingança e se perdeu dentro de seu ódio. Eu o entendo, mas prefiro ser a pessoa que consegue controlar a raiva do que a pessoa que deixa ódio me controlar. Não suporto a ideia de ser controlada.

Eu me deito e fecho os olhos tentando pegar no sono. Como foi que chegamos aqui? Baile de máscaras, um desconhecido querendo se casar comigo, castelo, inimigos, descobertas, memórias recuperadas, paixão, amor, gravidez e outras loucuras. Um ano bem peculiar, eu diria. Aqui, de olhos fechados, consigo enxergar toda verdade por detrás das mentiras que tentei contar a mim mesma e sobre mim. Uma máscara sempre cai, não há como escapar do que realmente somos.

[***]

Encaro o palco, aflita. A ansiedade está tomando conta de todo meu corpo. Tudo ficou tão bem decorado. Os detalhes remetem a contos de fadas. Eu jamais poderia sonhar com algo assim. Em cada mesa há uma rosa com uma redoma ao redor. Ouço pessoas discutindo se isso é uma referência a "Bela e a Fera" ou ao "Pequeno Príncipe". A verdade é que eu pensei nas duas histórias quando tive essa ideia.

Meu vestido é fluído. A barriguinha já está aparecendo, mas ainda não pareço uma mulher grávida. Sophia está tão linda! Custei convencê-la a usar dois vestidos, ela não quis se vestir de princesa. Por isso escolhi dois modelos apenas inspirados nas histórias. Não vejo a hora de vê-la usando o verde e brilhante. Ela ficará extremamente linda com reverências a Ariel.

Fred se aproxima reparando minha amiga dos pés à cabeça. Parece encantado com a beleza de Sophia.

— É um belo decote — repara. Sinto um pouco de ciúme em sua voz. — Está magnífica, mas não é uma princesa.

— Por que acha que não? — Sophia ergue as sobrancelhas, sorrindo.

— O vestido é brilhante, mas nesse cinza ônix e com as luvas longas e pretas a tornam mais uma vilã do que uma princesinha de conto de fadas. — Fred passa os olhos novamente reparando cada detalhe. — Está linda demais. Que isso!

— Obrigada. Sou a rainha má — ela conta.

— Precisa ver o vestido que preparei para Sophia usar daqui a pouco. É perfeito — afirmo.

Fred sorri e abraça minha amiga.

— Queria ver você vestida de noiva, sabe disso? — ele sussurra para Sophia, mas eu escuto.

Sophia desfaz o abraço, empurrando-o devagar, e seu semblante é triste ao encarar Fred.

— Sabe que não posso me casar, Fred. Já conversamos sobre isso e estou cansada. Enquanto não terminar minha missão, sou uma cidadã Coreana, você aceitando isso ou não. E mesmo depois de encontrar Ricardo, terei que voltar para Coreia e dar satisfação sobre todo trabalho prestado fora do país. É por isso que não queria me relacionar com ninguém. Isso foi um erro! — ela explica. A voz impaciente e tremida revela uma Sophia ansiosa e diferente do que estou acostumada.

— Eu não disse que não esperaria até você estar pronta, Sophia — diz Fred, seus olhos parecem pesados.

— Não é justo te fazer esperar por algo tão incerto. Tudo isso pode demorar muitos anos para terminar. Depois da prisão de Ricardo e Ariana pensei que em alguns meses tudo seria resolvido, mas agora — Sophia faz uma pausa —, tudo é incerto e imprevisível. Sem garantias ou promessas.