24 PT 2 - Importante pra mim (Miguel)

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Dou dois passos em sua direção.

— Você é Min Nabi? — repito a pergunta.

Nunca pensei que os olhos de Ester pudessem ficar tão grandes, ela está surpresa ao me ouvir dizer o nome em voz alta.

Reparo seu tórax subindo e descendo, seus lábios estão trêmulos. Eu nunca a vi tão abalada. Ela puxa o ar com dificuldade e se força a perguntar:

— Como sabe esse nome? Quem é você? — A voz de Ester, ou seja, de Nabi, sai embargada, mas ainda assim, firme. Ela está com medo? Raiva? Não consigo identificar.

— Estive te procurando por todos esses anos. Fiquei com medo que tivesse morrido naquele incêndio. Eu devia ter reconhecido seus olhos desde a primeira vez em que te vi, eles ainda são os mesmos — tento explicar. — Finalmente entendi o porquê da senha 510. Cinco de Outubro foi o dia em que nós dois fomos deixados no orfanato. Também é a data em que nós nascemos.

— O que disse? — a pergunta sai tão baixa, quase como se fazê-la causasse dor. A primeira lágrima desce por seu rosto, ela não consegue impedir.

— Eu senti sua falta — ouso dizer. — Nunca fui capaz de te esquecer.

Minha voz sai com dificuldade e sinto meu coração quase parando. Imaginei meu reencontro com Nabi diversas vezes, mas isso é muito surreal e inacreditável. Um medo circula meu corpo como se corresse junto ao meu sangue. Eu não consigo prever qual será a reação da mulher a minha frente. Suas lágrimas me assustam.

— Todas essas fotos são a prova de que não houve um dia sequer em que eu não tenha procurado por você — afirmo.

— Os contos de fadas. O Pequeno Príncipe — ela afirma. Não para mim. Está falando consigo mesma.

Ester baixa a cabeça deixando o restante das lágrimas descerem e quase sem fôlego balbucia meu nome:

— Chang Do-yun — diz soltando o ar e ergue os olhos para encontrar os meus.

Esse foi o nome que ela me deu. Eu não lembrava o meu nome verdadeiro e ninguém sabia me dizer quem eu era. Nem mesmo o senhor Benjamim sabia exatamente como eu me chamava.

Tento me aproximar mais um passo, mas ela se afasta, virando-se e me dando as costas.

— Primeiro se acalme e vamos conversar sobre isso — peço. Ela continua andando.

— Nabi — chamo, fazendo-a parar.

— Não me chame assim — ela ordena.

— Está bem, mas pelo menos me dê uma chance de saber mais sobre você e sobre tudo o que aconteceu. Eu fiquei no escuro por todo esse tempo.

Ester continua de costas para mim.

— Você perdeu o direito de saber sobre mim ou sobre qualquer coisa relacionada ao meu passado no instante em que me deu as costas, sem pestanejar. Pelo menos agora você sabe o porquê eu odeio quando as pessoas dão as costas pra mim. É por sua causa.

Engulo em seco e me esforço para não derramar as lágrimas acumuladas em meu globo ocular. Saber que ela tem algumas feridas e cicatrizes que foram causadas por mim, dói mais do que qualquer outra coisa.

Você me procurou a vida toda? — pergunta dando uma risadinha sarcástica. — Eu esperei muito por esse dia, quando seria eu a dar as costas para você.

— Ester, eu nunca quis te abandonar.

— Mas abandonou. Você me trocou pelo luxo que poderia ter diante de uma adoção. O gênio da lâmpada atendeu todos os seus desejos? Veja só você. Cresceu em berço de ouro, teve tudo do bom e do melhor. — Ela suspira. — Prometemos que ficaríamos juntos, não importasse o que acontecesse. Você foi o primeiro a quebrar a promessa.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora