36 PT 3 - Primeira audiência (Ester)

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Cintia me dá um sorrisinho debochado e continua:

— A fim de receber a herança, Miguel se dispôs a se casar com alguém, na intenção de se divorciar seis meses depois. Um casamento falso com a única finalidade de receber a herança completa e se tornar o CEO da empresa. E o réu, usou seu poder depois disso para conseguir desviar verbas da empresa e emitir documentos graciosos alterando despesas, com o objetivo de obter dedução de tributos devidos à Fazenda Pública, sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis. É um crime contra os sócios e contra a Receita federal.

— Não mesmo! — Pela primeira vez, Miguel parece preocupado e contrariado. — Eu não fiz isso.

— Vai negar diante do tribunal mesmo depois das provas? — ela questiona.

— Mas não é justamente por faltas de provas que está trazendo a tona coisas que nada tem a ver com o julgamento.

A sala do tribunal vira uma coleção de burburinhos. Faço sinal para Miguel se acalmar.

— Silêncio — pede Ariana. — Você tem mais alguma pergunta, promotora?

Cíntia acena negativamente.

— Fique a vontade, senhora advogada de defesa — o sarcasmo no tom de voz da Juíza é evidente. Ela está amando o rumo que as coisas estão tomando.

Caminho até Miguel. Olho para o monitor que exibe o contrato de casamento para seis meses. Penso por um segundo no que devo fazer, até que reparo as assinaturas.

— Pretende se divorciar de sua esposa daqui um mês e meio? — pergunto.

— É claro que não! — ele responde, quase rindo.

— Certo. Gostaria de acrescentar uma prova para refutar a acusação, excelência.

— E o que seria?

Retiro a certidão de casamento da minha bolsa e entrego ao rapaz para digitalizar.

— Nossa certidão de casamento.

Ela meneia a cabeça positivamente, achando engraçado.

— É a sua assinatura nesse documento, Miguel?

Ele olha para a tela antes de responder.

— Sim.

— Não parece ser um documento falso. Casou-se de verdade?

— Sim, eu me casei.

— Ufa, por um momento achei que tivesse sido enganada.

Ouvem-se algumas risadas.

— Está zombando deste tribunal, senhorita Ester? — questiona a Juíza, repreendendo-me.

— Obviamente não. A assinatura nesse documento é minha. Podemos fazer uma comparação com o documento anterior, por favor?

O rapaz responsável pelo vídeo coloca os documentos lado-a-lado. Agradeço a Deus, por sempre fazer uma assinatura falsa nos contratos de namoro. Miguel me encara, cerrando os olhos.

— Como podemos observar a assinatura no contrato de casamento não confere com a caligrafia na certidão de casamento. Como esposa de Miguel, posso afirmar que o documento válido nesse tribunal para comprovar se sua situação conjugal é verdadeira ou falsa, é a certidão de casamento. Aceita e afirmada por um Juiz matrimonial. Um contrato de gaveta não autenticado e com assinaturas não condizentes evidentemente foi forjado.

Ariana me encara novamente. Ela não tem como discordar.

— Disse que não se lembra de ter assinado o documento que permitia os depósitos para os falsos fornecedores. Você se lembra de ter conversado com a testemunha anterior? — pergunto para Miguel.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora