27 - Enigmático (Ester)

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Saio da sala meio consternada. Sinto como se estivesse prendendo a respiração.

— Ester — ouço Sophia me chamando. — Você está bem? Parece que viu um fantasma.

— Eu só preciso respirar. É muita coisa para processar — afirmo. — Vamos esquecer tudo isso por um tempo. Parece que você e Fred se acertaram — comento.

Não é justo, sinto como se eles estivessem vivendo por nós.

— Estou arriscando, Ester. Eu não podia me envolver emocionalmente com ninguém e mesmo assim acabei caindo na minha própria armadilha.

Sophia sempre diz que não pode se envolver com ninguém, mas nunca me explica o porquê de hesitar tanto.

— Eu me apeguei a você, Ester. Sei que está confusa e eu entendo, mas até eu tenho segredos que não conto pra ninguém, assim como você também deve ter.

Abri a boca para reclamar e exigir que ela me conte, já que eu nunca guardei segredos dela, mas então me lembrei de que agora eu tenho um.

— É sobre sua família? — pergunto. Sophia nunca me fala sobre sua família. Estou entrando em uma área perigosa.

— Eu não tenho família. Você sabe.

— Como eu saberia? Isso você também nunca me contou.

— Meus pais morreram quando eu era um bebê. Fui criada por meus tios, mas quando minha tia faleceu, meu tio mal conseguia parar de pé por mais de cinco minutos. Ele bebia muito. Eu só tinha quatorze anos e não sabia o que fazer. Foi por isso que eu pedi ajuda para poder interná-lo em uma casa de recuperação, onde ele viveu por alguns anos antes de falecer.

— Eu sinto muito. Por que nunca me contou? Achei que você tinha ido ficar com a família quando trancou a matrícula da faculdade.

Sophia parece medir as palavras. Esse assunto deve ser difícil para ela.

— Eu só fui fazer a viagem dos meus sonhos — diz.

Eu a conheço bem para afirmar que ela está mentindo. Não insisto. Em vez disso, eu me aproximo e a abraço.

— Por que está tão sentimental? Não vai me mandar estudar bastante para correr atrás do tempo perdido? — pergunta.

— Não! Você fez bem, nunca devemos adiar o que sonhamos em fazer.

— Não me assuste. Você está esquisita. Nunca foi tão fofa assim. O que está acontecendo?

— Eu não sei — minto.

— Ester...

— Eu tenho tido sonhos estranhos, não consigo explicar direito, mas o que sonhei ontem parecia uma memória.

— Como foi? — pergunta.

— Depois que Miguel, quer dizer, Do-yun, foi adotado, eu fiquei muito magoada. Além de perder meu melhor amigo, algumas garotas me empurraram e tentaram me bater — conto. — Eu fugi e fui até o castelo. Tudo que eu me lembro, é de ver minha mãe morta no porão, correr, cair e bater a cabeça.

— Como assim? Seus pesadelos são memórias?

— Tenho certeza de que são. Só não consigo completar as lacunas. Lembro-me de ser acordada no orfanato pela coordenadora, que fez perguntas, mas eu não soube responder. No outro dia eu fui trancada no porão do orfanato e mais tarde adotada.

— Entendo. O castelo pode te ajudar a lembrar de tudo. Quando estiver lá procure por alguma foto ou objeto que te ajude a trabalhar a memória.

—Acabei de me lembrar de que Ricardo disse que vem amanhã. Precisamos pegar o pequeno baú que Laura falou, tem que ser hoje.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora